A solidão da Volkswagen Caminhões e Ônibus como única montadora de caminhão elétrico no Brasil está com os dias contatos. A Scania, que faz parte do TRATON Group com a Volkswagen, MAN Truck & Bus e International, anunciou que irá produzir caminhões elétricos no Brasil, em sua fábrica de São Bernardo do Campo, SP. A iniciativa, que faz parte do ciclo de investimentos de R$ 2 bilhões até 2028, começa com a montagem de ônibus a bateria em 2025, como já noticiado pela Frota News no ano passado, e, agora, segue na montagem de caminhões elétricos em 2027.
A estratégia reflete a visão do presidente e CEO da Scania para a América Latina, Christopher Podgorski, que defende um futuro eclético, com diversas fontes de energia coexistindo. Para viabilizar o projeto, a empresa está estruturando a produção em três fases, iniciando com baixos volumes e estrutura flexível, e podendo expandir conforme a demanda do mercado.
Investimentos e nacionalização
Desde 2022, a Scania testa seus ônibus elétricos na própria fábrica, e a partir de setembro de 2025 eles começam a ser montados em série. O projeto é parte de um pacote de R$ 2 bilhões anunciado pela marca em 2024, que se soma a um ciclo anterior de R$ 1,4 bilhão (2019-2024), totalizando R$ 3,4 bilhões em investimentos recentes no Brasil.
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O executivo planeja pleitear junto à matriz na Suécia um novo aporte específico para iniciar a montagem de caminhões elétricos em 2027. O plano é que a montagem seja feita localmente, mesmo com parte dos componentes ainda importada. A Scania pretende nacionalizar progressivamente diversos sistemas, como os chicotes de alta voltagem, o que permitirá enquadrar os produtos em programas como o Finame e o recém-lançado Mover (Mobilidade Verde e Inovação).
Rentabilidade sacrificada, mas estratégia clara
Nos primeiros anos, a rentabilidade será renunciada. A ideia é manter os preços dos caminhões e ônibus elétricos similares aos que seriam praticados com produção local, mesmo enquanto as unidades são importadas com imposto de 35%. Com isso, a Scania pretende acelerar a aceitação dos modelos e ganhar tráfego de dados operacionais com os clientes.
Para isso, a produção seguirá o modelo modular, em que a mesma linha da planta de São Bernardo do Campo será capaz de montar veículos a diesel, a gás e elétricos. Essa versatilidade evita a ociosidade da fábrica e reduz custos iniciais.
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Infraestrutura e operação
No momento, a operação dos veículos elétricos da Scania será restrita a rotas onde há infraestrutura de recarga, como os eixos Rio de Janeiro-São Paulo e São Paulo-Campinas. A empresa também criou uma divisão, chamada Erinion, dedicada a desenvolver soluções de recarga em bases privadas, com previsão de instalar 40 mil pontos de carregamento globalmente.
Comparativo e concorrência
O mercado brasileiro de veículos comerciais elétricos tem crescido e ganhado novos competidores. A Volkswagen Caminhões e Ônibus já produz o e-Delivery no Rio de Janeiro; a Mercedes-Benz produz o ônibus elétrico eO500U; a BYD produz ônibus elétricos em Campinas e planeja caminhões em Camaçari, BA. Montadoras como Volvo, Iveco e novas entrantes chinesas como XCMG também começam a disputar o mercado, inicialmente, com veículos importados e com planos de montagem localmente no futuro.
A Scania, no entanto, foca em um nicho de alto valor: caminhões pesados para rota mista e regional. Modelos como o 30G 4×2, com preço estimado de R$ 2,5 milhões, são voltados a grandes transportadoras que buscam sustentabilidade e eficiência operacional.
O Scania 30G foi lançado na última Fenatran, no ano passado, e teve a primeira e única unidade vendida, até o momento, para o Reiter Log, operadora de logística que já conta com 55 caminhões elétricos, sendo 5 Volvo FM Electric, 10 XCMG E7-49T e 40 JAC iEV1200T.

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Projeção e futuro
A capacidade inicial da linha de montagem em São Bernardo do Campo será de 250 caminhões elétricos por ano, frente a um potencial de 30 mil veículos/ano da planta. Mas o objetivo é crescer conforme a demanda aumentar. A partir de 2028, a expectativa é que a linha esteja integrada e produzindo todos os tipos de motorização de forma flexível.
Em um momento de forte mobilização da indústria em torno da descarbonização e da inovação tecnológica, a decisão da Scania posiciona o Brasil entre os protagonistas da eletrificação pesada global, gerando empregos, conhecimento e infraestrutura para um novo ciclo industrial.
