A indústria automotiva brasileira encerrou o primeiro quadrimestre de 2025 com sinais positivos na produção e nas exportações, mas enfrenta um novo desafio: o crescimento acelerado das vendas importados, especialmente da China. A fatia de carros chineses atingiu 6% dos emplacamentos no período, refletindo um aumento de 28% nas vendas desses modelos, enquanto as montadoras nacionais avançaram apenas 0,2%.
Segundo dados divulgados pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), entre janeiro e abril de 2025, foram produzidos 811,2 mil veículos no país, um crescimento de 6,7% em relação ao mesmo período de 2024 — o melhor resultado desde 2019. As exportações tiveram um salto expressivo de 47,8%, impulsionadas principalmente pela demanda argentina, que respondeu por 59,1% do total exportado.
Por outro lado, o mercado interno mostra sinais de estagnação. Embora o emplacamento total tenha subido 3,4%, a diferença entre modelos nacionais e importados chama atenção. As vendas de importados cresceram 18,7% e chegaram a 150,1 mil unidades no quadrimestre. A China lidera entre os países de origem, com 44,1 mil veículos vendidos — consolidando-se como principal fonte de pressão sobre a indústria local.

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Produção em alta, caminhões em baixa
O bom desempenho da produção foi puxado principalmente pelos automóveis e comerciais leves, que registraram alta de 6,2%. Já os veículos pesados apresentaram desempenho misto: a produção de ônibus subiu 8%, mas a de caminhões caiu 6% em abril, encerrando o quadrimestre com retração de 0,4% nas vendas.

Enquanto as vendas de caminhões recuaram 13,1% em abril e acumulam queda de 0,4% no quadrimestre, os ônibus registraram forte alta: 26,8% em abril e expressivos 32,4% no acumulado de 2025. Os dados refletem a mudança na dinâmica do transporte e os impactos da demanda por mobilidade urbana. Fonte: Anfavea.
Esse comportamento preocupa o setor, que vinha de uma trajetória positiva de recuperação. “Precisamos retomar a confiança do consumidor e estabilizar os incentivos de financiamento e renovação da frota”, afirmou o presidente da Anfavea, Igor Calvet.

China adia produção local
Na coletiva de imprensa realizada em 8 de maio, Calvet destacou que a facilidade para importar está postergando o início da produção local de montadoras chinesas. Empresas como BYD e GWM prometeram fábricas no Brasil — em Camaçari (BA) e Iracemápolis (SP), respectivamente —, mas seguem priorizando as importações. “Estão pedindo até isenção tarifária para veículos desmontados (CKD e SKD), o que afronta nossa indústria”, criticou.
Para conter o avanço, a Anfavea defende a antecipação da alíquota de 35% para importação de elétricos e híbridos, prevista para 2026, além de estudar ações contra práticas de dumping.
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Locadoras e eletrificados em alta
Outro destaque do quadrimestre foi o crescimento nas vendas para locadoras, que representaram 25% dos emplacamentos de veículos leves em abril. Além disso, os modelos eletrificados — elétricos, híbridos e híbridos plug-in — continuam ganhando espaço, com participação de 10,1% no total vendido, somando mais de 66 mil unidades no ano.
Perspectivas para o setor
A Anfavea passou a integrar o Boletim Focus, colaborando com projeções econômicas. Para 2025, a entidade estima crescimento de 6,3% para a indústria automotiva, apoiado no aquecimento da demanda e no lançamento de novos modelos com tecnologias de propulsão alternativas.
Embora os dados gerais revelem recuperação, o avanço das importações — e a ausência de contrapartidas industriais por parte das marcas estrangeiras — representa um risco real de desindustrialização. O setor cobra medidas efetivas do governo para garantir condições equitativas de concorrência e a sustentabilidade da cadeia automotiva brasileira.