sexta-feira, maio 16, 2025

Vendas de importados cresce mais do que de nacionais

A indústria automotiva brasileira encerrou o primeiro quadrimestre de 2025 com sinais positivos na produção e nas exportações, mas enfrenta um novo desafio: o crescimento acelerado das vendas importados, especialmente da China. A fatia de carros chineses atingiu 6% dos emplacamentos no período, refletindo um aumento de 28% nas vendas desses modelos, enquanto as montadoras nacionais avançaram apenas 0,2%.

Segundo dados divulgados pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), entre janeiro e abril de 2025, foram produzidos 811,2 mil veículos no país, um crescimento de 6,7% em relação ao mesmo período de 2024 — o melhor resultado desde 2019. As exportações tiveram um salto expressivo de 47,8%, impulsionadas principalmente pela demanda argentina, que respondeu por 59,1% do total exportado.

Por outro lado, o mercado interno mostra sinais de estagnação. Embora o emplacamento total tenha subido 3,4%, a diferença entre modelos nacionais e importados chama atenção. As vendas de importados cresceram 18,7% e chegaram a 150,1 mil unidades no quadrimestre. A China lidera entre os países de origem, com 44,1 mil veículos vendidos — consolidando-se como principal fonte de pressão sobre a indústria local.

Anfavea
Fonte: Anfavea
Leia também:

Agrale amplia portfólio de tratores com três novos modelos 

Volvo inicia produção de ônibus biarticulado e articulado elétricos no Brasil

Cocal: nova planta vai abastercer a frota com biometano e a sobra será vendida

Produção em alta, caminhões em baixa

O bom desempenho da produção foi puxado principalmente pelos automóveis e comerciais leves, que registraram alta de 6,2%. Já os veículos pesados apresentaram desempenho misto: a produção de ônibus subiu 8%, mas a de caminhões caiu 6% em abril, encerrando o quadrimestre com retração de 0,4% nas vendas.

vendas de importados
**Emplacamento de veículos pesados segue em queda para caminhões e dispara para ônibus**
Enquanto as vendas de caminhões recuaram 13,1% em abril e acumulam queda de 0,4% no quadrimestre, os ônibus registraram forte alta: 26,8% em abril e expressivos 32,4% no acumulado de 2025. Os dados refletem a mudança na dinâmica do transporte e os impactos da demanda por mobilidade urbana. Fonte: Anfavea.

Esse comportamento preocupa o setor, que vinha de uma trajetória positiva de recuperação. “Precisamos retomar a confiança do consumidor e estabilizar os incentivos de financiamento e renovação da frota”, afirmou o presidente da Anfavea, Igor Calvet.

vendas de importados
Fonte: Anfavea

China adia produção local

Na coletiva de imprensa realizada em 8 de maio, Calvet destacou que a facilidade para importar está postergando o início da produção local de montadoras chinesas. Empresas como BYD e GWM prometeram fábricas no Brasil — em Camaçari (BA) e Iracemápolis (SP), respectivamente —, mas seguem priorizando as importações. “Estão pedindo até isenção tarifária para veículos desmontados (CKD e SKD), o que afronta nossa indústria”, criticou.

Para conter o avanço, a Anfavea defende a antecipação da alíquota de 35% para importação de elétricos e híbridos, prevista para 2026, além de estudar ações contra práticas de dumping.

Se inscreva no Canal FrotaCast:

Sula Miranda participa do 15º episódio do FrotaCast e defende mais oportunidades para mulheres no transporte

Locadoras e eletrificados em alta

Outro destaque do quadrimestre foi o crescimento nas vendas para locadoras, que representaram 25% dos emplacamentos de veículos leves em abril. Além disso, os modelos eletrificados — elétricos, híbridos e híbridos plug-in — continuam ganhando espaço, com participação de 10,1% no total vendido, somando mais de 66 mil unidades no ano.

Perspectivas para o setor

A Anfavea passou a integrar o Boletim Focus, colaborando com projeções econômicas. Para 2025, a entidade estima crescimento de 6,3% para a indústria automotiva, apoiado no aquecimento da demanda e no lançamento de novos modelos com tecnologias de propulsão alternativas.

Embora os dados gerais revelem recuperação, o avanço das importações — e a ausência de contrapartidas industriais por parte das marcas estrangeiras — representa um risco real de desindustrialização. O setor cobra medidas efetivas do governo para garantir condições equitativas de concorrência e a sustentabilidade da cadeia automotiva brasileira.

- Publicidade -
Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -spot_img

ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Últimas notícias
você pode gostar:

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui