Nesta reportagem, você vai descobrir como a Cocal, uma das principais sócias da Copersucar, está ampliando sua atuação no setor de energias renováveis com investimentos em energia solar e biometano, quais são os planos da empresa para substituir o diesel em sua frota, sobre o retrofit de caminhões a diesel para gás, e como pretende vender biometano à Petrobras
A companhia sucroenergética Cocal, uma das principais sócias da Copersucar, está expandindo sua atuação para além da cana-de-açúcar e acelerando sua transição energética. Em 2025, a empresa deu dois passos decisivos nesse processo: em abril, inaugurou sua primeira usina de energia solar, e em julho pretende colocar em operação sua segunda planta de biometano em Paraguaçu Paulista (SP). Juntas, as duas iniciativas consumiram R$ 241 milhões em investimentos.
A estratégia, segundo André Gustavo Alves da Silva, diretor comercial de novos produtos da Cocal, marca uma nova fase para a empresa. “De 2017 a 2022, nosso foco era maximizar o potencial energético da cana. Foi aí que começaram os novos negócios de levedura, biogás e CO₂ industrial. Quando fechamos esse ciclo, percebemos que poderíamos combinar o potencial da cana com outros ecossistemas”, explica o executivo.
A nova planta de biometano é uma extensão da estrutura já existente de biogás da Cocal, que utiliza subprodutos da cana-de-açúcar – como a vinhaça e a torta de filtro – para gerar energia elétrica. Agora, com a nova unidade, será possível obter o metano purificado, pronto para ser utilizado internamente ou comercializado. A capacidade instalada é de 60 mil metros cúbicos diários, com tecnologia fornecida pela Geo bio gas&carbono.
O projeto contou com R$ 216 milhões em financiamento integral do Fundo Clima, via BNDES. A iniciativa dialoga diretamente com o marco regulatório do biometano, previsto para entrar em vigor em 2026, com metas progressivas de descarbonização estabelecidas pela Lei do Combustível do Futuro. A nova legislação exigirá que produtores e importadores de gás natural comecem a reduzir suas emissões em 1%, aumentando esse percentual com o tempo.
Antecipando-se à regulação, a Cocal participou da chamada pública da Petrobras para aquisição de biometano, com ofertas para fornecimento entre 2026 e 2029. “Fomos um dos poucos players que fizeram oferta para 2026”, afirma Silva. A estatal, maior agente no mercado de gás natural, ainda está em fase de negociação com os ofertantes.
Além da molécula em si, a Cocal também ofertou o atributo verde do biometano, mecanismo que permite negociar o valor ambiental do combustível separadamente. Dessa forma, o gás renovável pode ser comercializado como gás natural convencional para usos industriais ou térmicos, ao mesmo tempo em que seu crédito ambiental é negociado com grandes empresas e agentes regulados.
Mesmo fora da estrutura legal do Combustível do Futuro, a Cocal acredita que a demanda pelo biometano supera a oferta atual. Parte da produção já abastece 35 máquinas da própria empresa, substituindo o diesel em sua frota agrícola. Dos 30 milhões de litros de diesel consumidos anualmente, 2 milhões já foram substituídos por biometano produzido na planta de Narandiba (SP).
Apesar disso, há desafios operacionais, principalmente relacionados à logística de abastecimento e segurança no campo. Para superar esses obstáculos, a empresa mantém parceria com a fabricante MWM, desenvolvendo um projeto de retrofit de motores agrícolas para uso com etanol, como solução complementar.
O excedente de biometano poderá ser direcionado ao mercado industrial, mas os planos da Cocal vão além: a unidade pode ser o ponto de partida para a produção de combustível sustentável de aviação (SAF), em um projeto conjunto com a Copersucar e a Geo bio gas&carbono. A proposta está em estágio de pesquisa e avalia a viabilidade de adaptar o processo europeu de conversão Fischer-Tropsch (FT) à realidade brasileira.
“A dificuldade é converter a tecnologia europeia em tecnologia nacional”, explica Silva. Se bem-sucedido, o projeto poderá consolidar a Cocal como referência nacional em SAF a partir de biometano, fortalecendo seu papel na cadeia da descarbonização e da bioenergia.
Com uma estratégia diversificada, a Cocal caminha para se tornar um hub multienergético renovável, onde a cana-de-açúcar é apenas o ponto de partida para soluções integradas em energia limpa e sustentável.
MWM realiza troca de motores a diesel por biometano
Produção Local: Produzir localmente reduz a necessidade de construir grandes extensões de linhas de gasodutos. A Cocal, empresa do setor sucroenergético. A saber, é mais uma empresa a trocar o motor a diesel por propulsor a gás biometano da MWM tanto para caminhões como em motobombas.
A iniciativa envolve a substituição de motores a diesel usados por motores movidos a biometano novos. Mantendo assim a eficiência em desempenho e com uma redução significativa em emissões de particulado e CO₂.
A transformação, planejada inicialmente em 2022, representa um avanço importante na descarbonização do setor. A MWM instalou novos motores 100% a gás e sistemas completos de alta pressão em 20 equipamentos da Cocal. A princípio, com potências variando entre 220 e 330 cavalos. Estes veículos e equipamentos agora operam exclusivamente com biometano, um combustível sustentável produzido a partir dos resíduos da cana-de-açúcar.
Leia também:
Cristian Malevic, diretor de Descarbonização da MWM, destacou a importância dessa iniciativa. “Além da redução do impacto ambiental, há outros benefícios, como a simplificação da manutenção e reposição de peças, com cerca de 85% dos componentes idênticos aos utilizados nos motores a diesel. E a similaridade no consumo, torque e potência em relação aos motores a diesel garante desempenho e eficiência,” explicou Malevic.
A planta da Cocal em Narandiba (SP) converte a vinhaça e a torta de filtro, resíduos da produção de cana, em biogás e gera biometano a partir dele. Este gás renovável é então distribuído para os clientes por meio de carretas ou gasodutos, além de abastecer a frota da própria empresa, reduzindo o consumo de diesel durante a safra.
Jurandir de Oliveira, diretor agrícola da Cocal, comentou sobre os desafios e benefícios dessa tecnologia. “Nosso principal desafio na utilização de equipamentos a biometano no campo está na autonomia e logística de abastecimento. Por isso, estamos ao lado da MWM para buscar soluções que viabilizem cada vez mais a operação em larga escala. Na última safra, que se encerrou em março de 2024, a Cocal atingiu o consumo total de 685 mil m³ de biometano na própria frota — o equivalente a 1.900 toneladas de CO₂ que deixaram de ser emitidas na atmosfera,” afirmou Oliveira.
Aliás, a Cocal vem investindo na transição energética de caminhões a diesel para biometano desde 2020, quando começou a utilização de caminhões Scania R 410 movidos a gás em parceria com a Lots Group, empresa de logística do Grupo Scania.
Algumas vantagens do uso do biometano no lugar do diesel e do gás natural veicular:
O biometano é um combustível renovável derivado do biogás. Ele é produzido a partir da purificação do biogás, eliminando assim o alto teor de carbono e originando um combustível semelhante ao gás natural. Comparado ao gás natural, o biometano oferece várias vantagens:
- Economia Verde: Ao produzir biometano a partir de resíduos orgânicos, promovemos uma economia circular renovável e sustentável e contribuímos para a gestão sustentável desses materiais.
- Redução de Emissões: O uso de biometano diminui as emissões de dióxido de carbono e metano na atmosfera em comparação com o gás natural e o diesel.
- Gestão de Resíduos: O biometano é uma solução inteligente para a gestão de resíduos orgânicos, transformando-os em energia útil e evitando o envio desses resíduos para lixões.
- Produção Local: Produzir localmente reduz a necessidade de construir grandes extensões de linhas de gasodutos. Já dezenas de empresas que estão investindo na produção local do biometano.
- Melhoria da Qualidade de Vida: Ao reduzir o lançamento de metano na atmosfera, o biometano contribui para melhorar a qualidade do ar e a saúde da população.