quinta-feira, maio 15, 2025

Cocal: nova planta vai abastercer a frota com biometano e a sobra será vendida

Nesta reportagem, você vai descobrir como a Cocal, uma das principais sócias da Copersucar, está ampliando sua atuação no setor de energias renováveis com investimentos em energia solar e biometano, quais são os planos da empresa para substituir o diesel em sua frota, sobre o retrofit de caminhões a diesel para gás, e como pretende vender biometano à Petrobras

A companhia sucroenergética Cocal, uma das principais sócias da Copersucar, está expandindo sua atuação para além da cana-de-açúcar e acelerando sua transição energética. Em 2025, a empresa deu dois passos decisivos nesse processo: em abril, inaugurou sua primeira usina de energia solar, e em julho pretende colocar em operação sua segunda planta de biometano em Paraguaçu Paulista (SP). Juntas, as duas iniciativas consumiram R$ 241 milhões em investimentos.

A estratégia, segundo André Gustavo Alves da Silva, diretor comercial de novos produtos da Cocal, marca uma nova fase para a empresa. “De 2017 a 2022, nosso foco era maximizar o potencial energético da cana. Foi aí que começaram os novos negócios de levedura, biogás e CO₂ industrial. Quando fechamos esse ciclo, percebemos que poderíamos combinar o potencial da cana com outros ecossistemas”, explica o executivo.

A nova planta de biometano é uma extensão da estrutura já existente de biogás da Cocal, que utiliza subprodutos da cana-de-açúcar – como a vinhaça e a torta de filtro – para gerar energia elétrica. Agora, com a nova unidade, será possível obter o metano purificado, pronto para ser utilizado internamente ou comercializado. A capacidade instalada é de 60 mil metros cúbicos diários, com tecnologia fornecida pela Geo bio gas&carbono.

O projeto contou com R$ 216 milhões em financiamento integral do Fundo Clima, via BNDES. A iniciativa dialoga diretamente com o marco regulatório do biometano, previsto para entrar em vigor em 2026, com metas progressivas de descarbonização estabelecidas pela Lei do Combustível do Futuro. A nova legislação exigirá que produtores e importadores de gás natural comecem a reduzir suas emissões em 1%, aumentando esse percentual com o tempo.

Antecipando-se à regulação, a Cocal participou da chamada pública da Petrobras para aquisição de biometano, com ofertas para fornecimento entre 2026 e 2029. “Fomos um dos poucos players que fizeram oferta para 2026”, afirma Silva. A estatal, maior agente no mercado de gás natural, ainda está em fase de negociação com os ofertantes.

Além da molécula em si, a Cocal também ofertou o atributo verde do biometano, mecanismo que permite negociar o valor ambiental do combustível separadamente. Dessa forma, o gás renovável pode ser comercializado como gás natural convencional para usos industriais ou térmicos, ao mesmo tempo em que seu crédito ambiental é negociado com grandes empresas e agentes regulados.

Mesmo fora da estrutura legal do Combustível do Futuro, a Cocal acredita que a demanda pelo biometano supera a oferta atual. Parte da produção já abastece 35 máquinas da própria empresa, substituindo o diesel em sua frota agrícola. Dos 30 milhões de litros de diesel consumidos anualmente, 2 milhões já foram substituídos por biometano produzido na planta de Narandiba (SP).

Apesar disso, há desafios operacionais, principalmente relacionados à logística de abastecimento e segurança no campo. Para superar esses obstáculos, a empresa mantém parceria com a fabricante MWM, desenvolvendo um projeto de retrofit de motores agrícolas para uso com etanol, como solução complementar.

O excedente de biometano poderá ser direcionado ao mercado industrial, mas os planos da Cocal vão além: a unidade pode ser o ponto de partida para a produção de combustível sustentável de aviação (SAF), em um projeto conjunto com a Copersucar e a Geo bio gas&carbono. A proposta está em estágio de pesquisa e avalia a viabilidade de adaptar o processo europeu de conversão Fischer-Tropsch (FT) à realidade brasileira.

“A dificuldade é converter a tecnologia europeia em tecnologia nacional”, explica Silva. Se bem-sucedido, o projeto poderá consolidar a Cocal como referência nacional em SAF a partir de biometano, fortalecendo seu papel na cadeia da descarbonização e da bioenergia.

Com uma estratégia diversificada, a Cocal caminha para se tornar um hub multienergético renovável, onde a cana-de-açúcar é apenas o ponto de partida para soluções integradas em energia limpa e sustentável.

MWM realiza troca de motores a diesel por biometano

Produção Local: Produzir localmente reduz a necessidade de construir grandes extensões de linhas de gasodutos. A Cocal, empresa do setor sucroenergético. A saber, é mais uma empresa a trocar o motor a diesel por propulsor a gás biometano da MWM tanto para caminhões como em motobombas.

A iniciativa envolve a substituição de motores a diesel usados por motores movidos a biometano novos. Mantendo assim a eficiência em desempenho e com uma redução significativa em emissões de particulado e CO₂.

A transformação, planejada inicialmente em 2022, representa um avanço importante na descarbonização do setor. A MWM instalou novos motores 100% a gás e sistemas completos de alta pressão em 20 equipamentos da Cocal. A princípio, com potências variando entre 220 e 330 cavalos. Estes veículos e equipamentos agora operam exclusivamente com biometano, um combustível sustentável produzido a partir dos resíduos da cana-de-açúcar.

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Cristian Malevic, diretor de Descarbonização da MWM, destacou a importância dessa iniciativa. “Além da redução do impacto ambiental, há outros benefícios, como a simplificação da manutenção e reposição de peças, com cerca de 85% dos componentes idênticos aos utilizados nos motores a diesel. E a similaridade no consumo, torque e potência em relação aos motores a diesel garante desempenho e eficiência,” explicou Malevic.

A planta da Cocal em Narandiba (SP) converte a vinhaça e a torta de filtro, resíduos da produção de cana, em biogás e gera biometano a partir dele. Este gás renovável é então distribuído para os clientes por meio de carretas ou gasodutos, além de abastecer a frota da própria empresa, reduzindo o consumo de diesel durante a safra.

Jurandir de Oliveira, diretor agrícola da Cocal, comentou sobre os desafios e benefícios dessa tecnologia. “Nosso principal desafio na utilização de equipamentos a biometano no campo está na autonomia e logística de abastecimento. Por isso, estamos ao lado da MWM para buscar soluções que viabilizem cada vez mais a operação em larga escala. Na última safra, que se encerrou em março de 2024, a Cocal atingiu o consumo total de 685 mil m³ de biometano na própria frota — o equivalente a 1.900 toneladas de CO₂ que deixaram de ser emitidas na atmosfera,” afirmou Oliveira.

Aliás, a Cocal vem investindo na transição energética de caminhões a diesel para biometano desde 2020, quando começou a utilização de caminhões Scania R 410 movidos a gás em parceria com a Lots Group, empresa de logística do Grupo Scania.

Algumas vantagens do uso do biometano no lugar do diesel e do gás natural veicular:

O biometano é um combustível renovável derivado do biogás. Ele é produzido a partir da purificação do biogás, eliminando assim o alto teor de carbono e originando um combustível semelhante ao gás natural. Comparado ao gás natural, o biometano oferece várias vantagens:

  1. Economia Verde: Ao produzir biometano a partir de resíduos orgânicos, promovemos uma economia circular renovável e sustentável e contribuímos para a gestão sustentável desses materiais.
  2. Redução de Emissões: O uso de biometano diminui as emissões de dióxido de carbono e metano na atmosfera em comparação com o gás natural e o diesel.
  3. Gestão de Resíduos: O biometano é uma solução inteligente para a gestão de resíduos orgânicos, transformando-os em energia útil e evitando o envio desses resíduos para lixões.
  4. Produção Local: Produzir localmente reduz a necessidade de construir grandes extensões de linhas de gasodutos. Já dezenas de empresas que estão investindo na produção local do biometano.
  5. Melhoria da Qualidade de Vida: Ao reduzir o lançamento de metano na atmosfera, o biometano contribui para melhorar a qualidade do ar e a saúde da população.

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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