Previsto como novo elo estratégico no corredor bioceânico, túnel entre Argentina e Chile beneficiaria diretamente o transporte rodoviário de cargas do Brasil rumo aos portos do Pacífico. Estudo de viabilidade foi concluído, mas construção ainda depende de decisão política e definição de financiamento.
O Túnel Internacional Paso Las Leñas, planejado para atravessar a Cordilheira dos Andes entre Argentina e Chile, tem potencial para revolucionar a logística sul-americana, criando uma nova rota permanente de escoamento de cargas do Brasil para os portos do Pacífico. Integrando o chamado corredor bioceânico central, o projeto traria ganhos substanciais em tempo, confiabilidade e custo operacional, especialmente para o transporte rodoviário que liga o centro-sul brasileiro aos mercados asiáticos via Chile.
Com cerca de 13 km de extensão, o túnel conectaria a região de San Rafael, em Mendoza (Argentina), ao setor de Coya, na Região de O’Higgins (Chile), criando um passo andino com capacidade de operação durante todo o ano — algo que não ocorre com o atual Paso Cristo Redentor, frequentemente fechado por nevascas.
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A obra é estratégica para o transporte internacional de cargas, encurtando trajetos e oferecendo uma nova via para o escoamento de grãos, carnes, insumos industriais e produtos manufaturados brasileiros com destino ao Pacífico. Na prática, trata-se de uma alternativa viária mais curta e estável entre Porto Alegre, Uruguaiana, Mendoza e os portos de San Antonio e Valparaíso, no Chile.
Viabilidade confirmada, mas execução indefinida
Entre 2020 e 2024, o projeto avançou com a realização de estudos de engenharia, impacto ambiental e viabilidade econômica, financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e governos regionais. Os resultados foram positivos: o túnel é tecnicamente viável, trará ganhos logísticos significativos e pode ser estruturado via parceria público-privadas (PPP).
O custo estimado da obra é de cerca de US$ 1,6 bilhão, incluindo o túnel e as vias de acesso nos dois países. Porém, apesar dos estudos concluídos, o projeto ainda não entrou na fase de licitação. O principal entrave é institucional: a entidade binacional EBILEÑAS, criada para conduzir o empreendimento, segue inativa por falta de designações oficiais – especialmente do lado chileno.

Sem a reativação da comissão binacional, o processo de contratação e construção permanece travado. Do lado chileno, o governo prevê apenas para 2031 o início das obras de uma das estradas de acesso à futura travessia, o que dá a medida do horizonte de longo prazo que ainda envolve a execução.
Impacto direto na logística brasileira
Para o setor de transporte e logística do Brasil, o Paso Las Leñas representa uma oportunidade concreta de reduzir custos logísticos e ampliar a competitividade das exportações rumo à Ásia. Além disso, ajudaria a desafogar os portos do Atlântico e a diversificar os fluxos de exportação por rodovias mais seguras e regulares.
Empresas de transporte rodoviário internacional, operadores logísticos, exportadores e associações de comércio exterior vêm acompanhando de perto o avanço (ou a estagnação) do projeto, que pode impactar diretamente planejamentos de rotas, investimentos em frotas, terminais e centros de distribuição ao longo do corredor.
Enquanto isso, a indefinição política e a falta de financiamento travam o potencial de um dos mais promissores projetos de integração sul-americana. A expectativa é que, com os estudos prontos e o apoio regional consolidado, os governos do Chile e da Argentina finalmente avancem na estruturação financeira e na convocação da licitação internacional.
Até lá, o túnel Paso Las Leñas segue sendo um projeto viável e desejado, mas ainda fora do cronograma logístico real.