sexta-feira, maio 16, 2025

Investimento em EVs gera crise de caixa livre nas montadoras 

Nos últimos dois anos, as 28 maiores montadoras do mundo viram seu caixa derreter. A queda no fluxo de caixa livre (free cash flow) acumulado foi de aproximadamente 75%, passando de um pico de US$ 144 bilhões (R$ 741,6 bilhões) em setembro de 2022 para apenas US$ 36 bilhões (R$ 185,4 bilhões) em dezembro de 2024. O número evidencia uma mudança drástica na saúde financeira de um setor que movimenta trilhões de dólares por ano. O motivo? Um volume sem precedentes de investimentos em eletrificação, software e plataformas digitais de mobilidade. 

O que está acontecendo? 

Empresas como Mercedes-Benz, Tesla, Toyota, GM, Volkswagen, Stellantis, BYD e Ford estão em meio a uma transformação estrutural que exige aportes bilionários em novas tecnologias. A corrida por veículos elétricos, soluções digitais e serviços de mobilidade conectada transformou as montadoras em verdadeiras empresas de tecnologia. Mas, como mostram os números, essa mudança está custando caro e ainda não trouxe retorno proporcional. 

Segundo dados compilados por analistas de mercado e confirmados por relatórios financeiros das fabricantes, o fluxo de caixa livre combinado do setor caiu de US$ 144 bilhões (R$ 741,6 bilhões) no 3º trimestre de 2022 para US$ 36 bilhões (R$ 185,4 bilhões) no 4º trimestre de 2024. Embora tenha havido uma leve recuperação de 3% no último trimestre, o patamar atual ainda representa uma retração drástica em relação ao auge. 

caixa livre
Fonte: Relatório das montadoras

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O colapso do caixa, empresa por empresa 

A Stellantis, uma das maiores montadoras do mundo, viu seu fluxo de caixa industrial cair cerca de €18,9 bilhões (R$ 120,8 bilhões) em 2024, segundo seu relatório oficial apresentado aos investidores. A empresa atribui essa queda à diminuição do lucro operacional e ao aumento expressivo dos investimentos em novos produtos elétricos e infraestrutura fabril.  

A Ford é outro exemplo emblemático. A empresa acumulou perdas de US$ 9,7 bilhões (R$ 49,9 bilhões) entre 2023 e 2024 apenas em suas divisões de veículos elétricos e software. Um dos reflexos disso foi o cancelamento do projeto FNV4, uma nova arquitetura eletrônica que prometia rivalizar com a da Tesla. A montadora concluiu que os custos e os atrasos tornavam o projeto inviável, conforme noticiou a Agência Reutes. 

Já a Tesla, referência global em veículos elétricos, viu sua margem de lucro operacional (NOPAT) cair de 13% em 2022 para apenas 5% em 2024, conforme análise publicada pela Forbes. A empresa ainda lidera o mercado de EVs, mas vem sofrendo com aumento da concorrência e queda de demanda em algumas regiões, principalmente, após o início do governo de Donald Trump, informa a Revista Forbes. 

A corrida pelos trilhões do futuro 

O pano de fundo dessa crise de caixa é uma transformação inevitável. A eletrificação da frota mundial é prioridade não apenas de governos e consumidores, mas também do mercado financeiro. A Volkswagen, por exemplo, anunciou que vai investir €52 bilhões (R$ 332,6 bilhões) em eletrificação e baterias até 2026. 

A BMW, mesmo com investimentos robustos em eletrificação e digitalização, conseguiu gerar cerca de €5 bilhões (R$ 31,9 bilhões) em fluxo de caixa livre em 2024, demonstrando um pouco mais de equilíbrio financeiro, conforme está no BMW Group Report.  

Um setor sob pressão 

A indústria automotiva vive um dilema. De um lado, há a urgência em inovar. Do outro, os modelos de receita tradicionais estão perdendo força, e os novos (como serviços de software embarcado, mobilidade por assinatura e plataformas digitais) ainda não se consolidaram. Enquanto isso, o setor convive com margens apertadas e eficiência de capital em declínio. 

Segundo análise da S&P Global, montadoras tradicionais estão sofrendo para competir com players nativos do ambiente digital, como Tesla e BYD. 

A pressão aumenta diante de um cenário macroeconômico adverso, aponta a análise da PwC Auto Industry Trend. Juros elevados, inflação e instabilidades geopolíticas tornam mais caro o financiamento desses investimentos e reduzem a disposição do consumidor em adquirir novos veículos. 

O que vem pela frente? 

Apesar das dificuldades, montadoras como a Stellantis mantêm o otimismo. A empresa destacou que possui um balanço sólido e espera melhorar seus números à medida que os investimentos em eletrificação e software começarem a dar retorno, revelou a Morningstar, consultoria de investimentos. 

Ainda assim, o setor como um todo enfrenta um momento de inflexão. A indústria automobilística está sendo redesenhada, e o capital está sendo drenado mais rapidamente do que os novos modelos de negócios conseguem compensar. 

O futuro pertence às montadoras que conseguirem cruzar essa travessia com inteligência, tecnologia e, acima de tudo, fôlego financeiro.

Nota:

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor e não representam, necessariamente, a visão deste veículo.

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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