Em um momento em que os veículos elétricos avançam para consolidar uma participação de mercado entre 15% e 20%, a alemã ZF anuncia sua entrada em um segmento específico e estratégico: sistemas de autonomia estendida, nos quais o motor a combustão atua unicamente como gerador de energia elétrica, sem qualquer ligação mecânica com as rodas. A novidade posiciona a ZF ao lado de Horse Powertrain e Scania, que já desenvolvem soluções similares, voltadas para veículos híbridos com foco em eficiência, autonomia e adaptabilidade.
Nos últimos anos, a ZF já havia lançado a tecnologia de extensores de alcance em produção em série. Entre outras coisas, as máquinas elétricas da ZF foram instaladas em uma série de táxis icônicos de Londres. Atualmente, a ZF trabalha na próxima geração, o Extensor de Alcance elétrico (eRE) e o Extensor de Alcance elétrico plus (eRE+).
Ambas as variantes são projetos altamente integrados, flexíveis em termos de desempenho, arquitetura E/E, 400 V ou 800 V e tipo de semicondutor. O eRE conecta um motor elétrico com um inversor integrado, software adequado e conjunto de engrenagens planetárias. O eRE+ também possui uma embreagem inteligente e um diferencial. Como resultado, ele pode ser usado como um gerador de corrente ou como um acionamento secundário adicional, o que economiza o desenvolvimento de um componente separado pelos fabricantes.
A potência varia de 70 a 110 kW (eRE) ou de 70 a 150 kW (eRE+). São potenciais que já atendem veículos comerciais leves, como os furgões de 3.5 toneladas de PBT. “O novo interesse e a crescente demanda por extensores de autonomia mostram que o potencial dessa tecnologia está longe de se esgotar – em particular para plataformas de modelos já projetadas para sistemas de transmissão elétricos a bateria”, afirma Scharrer, acrescentando: “Por trás de nossas soluções está o conceito de sistema e plataforma. Isso significa que estamos perfeitamente equipados para responder a todas as necessidades dos clientes e do mercado com ciclos de desenvolvimento mais curtos.”
A solução da ZF surge em um cenário de mudança de paradigma no setor automotivo. Embora os carros 100% elétricos continuem em crescimento, agora mais lentamente, fatores como a infraestrutura de recarga desigual e a chamada “ansiedade de autonomia” mantêm abertas as portas para soluções híbridas inteligentes — e que não exigem complexas reengenharias.
Horse Powertrain também aposta no modelo EREV

A presença da ZF nesse segmento fortalece uma tendência que já conta com nomes como a Horse Powertrain, joint venture entre Renault, Geely e Aramco. A empresa apresentou no Salão do Automóvel de Xangai 2025 o Future Hybrid Concept, um sistema integrado que reúne motor a combustão, motor elétrico e transmissão em uma única unidade, concebida para plataformas elétricas.
No caso da Horse, o foco também está na arquitetura EREV (Electric Vehicle with Range Extender), onde o motor térmico atua apenas como gerador, sem tração direta. O sistema se destaca pela compatibilidade com diferentes combustíveis (gasolina, etanol, metanol e sintéticos), além de suportar recarga ultrarrápida de até 800 volts.
“Estamos vivendo uma reconfiguração do cenário global. Cada mercado caminha a seu modo, e soluções híbridas como a nossa, ou como a da ZF, ganham relevância por serem escaláveis e adaptáveis”, afirmou Matias Giannini, CEO da Horse Powertrain.
Scania também investe na lógica híbrida com motor gerador
O Veículo Elétrico de Alcance Estendido (EREV), desenvolvido pela Scania e DHL, é uma solução intermediária para o transporte rodoviário sustentável. Enquanto a infraestrutura para caminhões 100% elétricos é aprimorada, o EREV utiliza um gerador movido a combustível para suprir desafios como a escassez de pontos de recarga, custos elevados de eletricidade e sobrecarga na rede.
Com autonomia de até 800 km, o caminhão será testado pela divisão Post & Parcel Germany da DHL entre Berlim e Hamburgo a partir de fevereiro de 2025. O modelo substitui um dos pacotes de bateria por um gerador de 120 kW, inicialmente movido a gasolina e posteriormente a diesel/HVO. A colaboração entre Scania e DHL busca reduzir emissões de CO₂ em mais de 80%, promovendo uma transição pragmática rumo à eletrificação total do transporte pesado.
O CEO da Scania, Christian Levin, enfatiza que políticas públicas devem reconhecer e incentivar tais soluções enquanto expandem a infraestrutura de recarga. Essa abordagem visa acelerar a descarbonização sem esperar pela eletrificação completa do setor.
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Brasil também acompanha o movimento
No Brasil, a Horse Powertrain lidera dois projetos emblemáticos:
- O Volare Attack 9 Híbrido, desenvolvido com a Marcopolo, primeiro micro-ônibus híbrido movido a etanol do país.
- O Lecar 459 Hybrid, primeiro carro de passeio da montadora brasileira Lecar com arquitetura EREV, que será lançado em 2026.
Ambos seguem a mesma lógica defendida por ZF e Scania: motor a combustão como gerador, motor elétrico como única fonte de tração.
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Conclusão
A entrada da ZF nesse campo específico consolida um movimento importante da indústria: o fortalecimento de uma nova geração de híbridos, que preservam a lógica elétrica na condução, mas com apoio térmico inteligente para expansão de autonomia. Em vez da substituição abrupta dos motores a combustão, o setor começa a redesenhar seu uso — agora, com foco na eficiência energética e sustentabilidade em cenários de infraestrutura desigual.