sexta-feira, junho 20, 2025

ZF entra no jogo dos híbridos com motor a combustão como gerador

Em um momento em que os veículos elétricos avançam para consolidar uma participação de mercado entre 15% e 20%, a alemã ZF anuncia sua entrada em um segmento específico e estratégico: sistemas de autonomia estendida, nos quais o motor a combustão atua unicamente como gerador de energia elétrica, sem qualquer ligação mecânica com as rodas. A novidade posiciona a ZF ao lado de Horse Powertrain e Scania, que já desenvolvem soluções similares, voltadas para veículos híbridos com foco em eficiência, autonomia e adaptabilidade.

Nos últimos anos, a ZF já havia lançado a tecnologia de extensores de alcance em produção em série. Entre outras coisas, as máquinas elétricas da ZF foram instaladas em uma série de táxis icônicos de Londres. Atualmente, a ZF trabalha na próxima geração, o Extensor de Alcance elétrico (eRE) e o Extensor de Alcance elétrico plus (eRE+).

Ambas as variantes são projetos altamente integrados, flexíveis em termos de desempenho, arquitetura E/E, 400 V ou 800 V e tipo de semicondutor. O eRE conecta um motor elétrico com um inversor integrado, software adequado e conjunto de engrenagens planetárias. O eRE+ também possui uma embreagem inteligente e um diferencial. Como resultado, ele pode ser usado como um gerador de corrente ou como um acionamento secundário adicional, o que economiza o desenvolvimento de um componente separado pelos fabricantes.

A potência varia de 70 a 110 kW (eRE) ou de 70 a 150 kW (eRE+). São potenciais que já atendem veículos comerciais leves, como os furgões de 3.5 toneladas de PBT. “O novo interesse e a crescente demanda por extensores de autonomia mostram que o potencial dessa tecnologia está longe de se esgotar – em particular para plataformas de modelos já projetadas para sistemas de transmissão elétricos a bateria”, afirma Scharrer, acrescentando: “Por trás de nossas soluções está o conceito de sistema e plataforma. Isso significa que estamos perfeitamente equipados para responder a todas as necessidades dos clientes e do mercado com ciclos de desenvolvimento mais curtos.”

A solução da ZF surge em um cenário de mudança de paradigma no setor automotivo. Embora os carros 100% elétricos continuem em crescimento, agora mais lentamente, fatores como a infraestrutura de recarga desigual e a chamada “ansiedade de autonomia” mantêm abertas as portas para soluções híbridas inteligentes — e que não exigem complexas reengenharias.

Horse Powertrain também aposta no modelo EREV

Horse Powertrain
À direita, o sistema híbrido apresentado em Xangai; à esquerda, o sistema hibrido apresentado no Brasil

A presença da ZF nesse segmento fortalece uma tendência que já conta com nomes como a Horse Powertrain, joint venture entre Renault, Geely e Aramco. A empresa apresentou no Salão do Automóvel de Xangai 2025 o Future Hybrid Concept, um sistema integrado que reúne motor a combustão, motor elétrico e transmissão em uma única unidade, concebida para plataformas elétricas.

No caso da Horse, o foco também está na arquitetura EREV (Electric Vehicle with Range Extender), onde o motor térmico atua apenas como gerador, sem tração direta. O sistema se destaca pela compatibilidade com diferentes combustíveis (gasolina, etanol, metanol e sintéticos), além de suportar recarga ultrarrápida de até 800 volts.

“Estamos vivendo uma reconfiguração do cenário global. Cada mercado caminha a seu modo, e soluções híbridas como a nossa, ou como a da ZF, ganham relevância por serem escaláveis e adaptáveis”, afirmou Matias Giannini, CEO da Horse Powertrain.

Scania também investe na lógica híbrida com motor gerador

O Veículo Elétrico de Alcance Estendido (EREV), desenvolvido pela Scania e DHL, é uma solução intermediária para o transporte rodoviário sustentável. Enquanto a infraestrutura para caminhões 100% elétricos é aprimorada, o EREV utiliza um gerador movido a combustível para suprir desafios como a escassez de pontos de recarga, custos elevados de eletricidade e sobrecarga na rede.

Com autonomia de até 800 km, o caminhão será testado pela divisão Post & Parcel Germany da DHL entre Berlim e Hamburgo a partir de fevereiro de 2025. O modelo substitui um dos pacotes de bateria por um gerador de 120 kW, inicialmente movido a gasolina e posteriormente a diesel/HVO. A colaboração entre Scania e DHL busca reduzir emissões de CO₂ em mais de 80%, promovendo uma transição pragmática rumo à eletrificação total do transporte pesado.

O CEO da Scania, Christian Levin, enfatiza que políticas públicas devem reconhecer e incentivar tais soluções enquanto expandem a infraestrutura de recarga. Essa abordagem visa acelerar a descarbonização sem esperar pela eletrificação completa do setor.

Leia mais sobre o projeto da Scania:

Scania e DHL testarão caminhão elétrico com gerador de energia elétrica movido a diesel verde

Brasil também acompanha o movimento

No Brasil, a Horse Powertrain lidera dois projetos emblemáticos:

  • O Volare Attack 9 Híbrido, desenvolvido com a Marcopolo, primeiro micro-ônibus híbrido movido a etanol do país.
  • O Lecar 459 Hybrid, primeiro carro de passeio da montadora brasileira Lecar com arquitetura EREV, que será lançado em 2026.

Ambos seguem a mesma lógica defendida por ZF e Scania: motor a combustão como gerador, motor elétrico como única fonte de tração.

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Saiba mais:

Volare apresenta micro-ônibus sustentáveis e versáteis na Agrishow

Conclusão

A entrada da ZF nesse campo específico consolida um movimento importante da indústria: o fortalecimento de uma nova geração de híbridos, que preservam a lógica elétrica na condução, mas com apoio térmico inteligente para expansão de autonomia. Em vez da substituição abrupta dos motores a combustão, o setor começa a redesenhar seu uso — agora, com foco na eficiência energética e sustentabilidade em cenários de infraestrutura desigual.

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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