As mineradoras são os maiores clientes frotistas de caminhões pesados fora de estrada e qualquer descoberta de reservas minerais pode sinalizar o aumento da demanda por equipamentos de mineração. Pois é o que acaba de ocorrer na América do Sul. A mineradora canadense Lundin Mining informou a Vicuña Corp., uma joint venture formada com a BHP, que concluiu estimativas atualizadas de recursos minerais para os depósitos de Filo del Sol e Josemaria, localizados na região do distrito Vicuña, na fronteira entre Chile e Argentina.
A nova avaliação confirma um potencial mineral significativo na região, com destaque para grandes volumes de cobre, ouro e prata — metais essenciais para setores estratégicos da economia global, incluindo energia, tecnologia e infraestrutura. Os depósitos estão localizados em uma das zonas mais promissoras dos Andes, conhecida pelo alto potencial geológico e pelo interesse contínuo de grandes players da mineração global.
Segundo a empresa que tem operação no Brasil, Chile, Portugal e Estados Unidos, o recurso mineral recém-estimado posiciona a região entre os 10 maiores depósitos de cobre do mundo: 13 milhões de toneladas (Mt) de cobres; 32 milhões de onças (Moz) em ouro e 650 Moz em prata.
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Impacto na cadeia logística e no setor de transportes
A notícia pode movimentar o mercado de equipamentos pesados, pois a implantação e operação de projetos desse porte demandam centenas de caminhões fora de estrada, tratores, escavadeiras e caminhões rodoviários adaptados para o transporte de minério, combustível e mantimentos nas áreas de operação.
Especialistas do setor já apontam que marcas como Scania, Volvo, Mercedes-Benz, Volvo CE, Caterpillar, entre outras, devem intensificar sua atuação junto a integradores logísticos que operam no Chile e na Argentina. Modelos como os off-road 8×4 e 10×4, além de cavalo-mecânicos robustos para composições de grande capacidade, tendem a ganhar espaço nos pedidos futuros.
Além disso, a infraestrutura viária em regiões de alta altitude e terreno acidentado — como o distrito Vicuña — exige veículos com alta confiabilidade mecânica, torque elevado e tecnologia embarcada para operação em ambientes extremos. Esse tipo de aplicação pressiona as montadoras a fornecer soluções cada vez mais adaptadas ao ambiente da mineração de alta montanha.
Projeções otimistas
Com o crescimento contínuo da demanda por cobre e metais críticos, impulsionado pela transição energética global, iniciativas como essa devem atrair investimentos significativos para a América do Sul nos próximos anos. O Chile e a Argentina reforçam seu papel como polos estratégicos para o suprimento global desses minerais, e a movimentação da Lundin Mining e da BHP pode ser apenas o começo de um novo ciclo de expansão mineradora na região andina.
A expectativa é de que os primeiros contratos de fornecimento para a frota de apoio às operações e à construção de infraestrutura sejam anunciados ainda em 2025. Empresas de transporte, locadoras de caminhões e operadores logísticos devem acompanhar de perto os desdobramentos desses projetos, que prometem movimentar não apenas a economia local, mas também a indústria automotiva e de equipamentos pesados em escala continental.
Desafios logísticos
O aumento da demanda por equipamentos pesados, impulsionado por projetos como os de Filo del Sol e Josemaria, não se limita apenas à necessidade de maior volume de máquinas. A logística de transporte e a infraestrutura local também desempenham um papel crucial nesse cenário.
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De acordo com Carlos Souza, gerente de operações de uma grande locadora de equipamentos pesados, a adaptação da frota para as condições extremas de altitude, além da oferta de serviços contínuos de manutenção e treinamento especializado, se tornam um fator chave para o sucesso dessas operações. “Na mineração de grande porte, não basta ter os equipamentos certos. É fundamental ter suporte técnico próximo, peças de reposição rápidas e pessoal treinado para garantir a operação contínua, especialmente em locais de difícil acesso como a região andina”, afirma Souza.
Nos projetos em andamento, a demanda por caminhões pesados para transporte de minério e escavação é acompanhada pela necessidade de caminhões rodoviários para o transporte de insumos, equipamentos e combustível. A mineradora Teck, operando no Chile, por exemplo, utiliza uma frota diversificada composta por caminhões 6×4 e 8×4 para a logística de abastecimento e transporte de materiais de apoio. Esses caminhões, adaptados para operar em terrenos íngremes e com pouca infraestrutura rodoviária, representam um grande desafio para os operadores logísticos, que precisam garantir um alto nível de disponibilidade de frota e manutenção para minimizar os tempos de inatividade.
Dados do setor mostram que, em grandes operações mineradoras, a frota de caminhões pesados pode crescer significativamente ao longo do tempo. Por exemplo, no caso do projeto Antapaccay, também no Peru, a frota da operação de transporte de minério ultrapassa os 200 caminhões pesados, com modelos que variam de Caterpillar 793F a Komatsu 930E, todos adaptados para suportar grandes volumes de carga e longas distâncias em regiões com escassez de infraestrutura.
A importância da telemetria e dos sistemas de monitoramento
Para garantir o desempenho ideal e reduzir custos operacionais, muitos dos novos caminhões em operação nas minas andinas estão sendo equipados com sistemas de telemetria avançados, que permitem monitorar em tempo real dados críticos como consumo de combustível, desgaste de pneus, eficiência do motor e comportamento da suspensão. Sistemas como o Caterpillar VisionLink e o Komatsu KOMTRAX são amplamente utilizados em projetos de mineração para melhorar a gestão da frota e antecipar falhas mecânicas.
Esse tipo de tecnologia tem se mostrado vital para garantir a operação eficiente em áreas remotas, onde o tempo de inatividade de um caminhão pode acarretar prejuízos significativos. A telemetria também desempenha um papel importante no cumprimento de normas ambientais, uma vez que permite monitorar as emissões de poluentes e otimizar o consumo de combustível, algo particularmente importante nas regiões de mineração em altitude, onde as condições ambientais são desafiadoras.
Infraestrutura e soluções de transporte multimodal
Além da frota de caminhões, a construção e manutenção de infraestrutura de transporte são igualmente desafiadoras. Muitas minas, como as de Cerro Verde no Peru e Escondida no Chile, possuem corredores logísticos dedicados, com estradas e pontes construídas especificamente para suportar o peso e o tráfego contínuo de caminhões pesados.
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No entanto, em locais mais remotos, a mineração ferroviária tem ganhado destaque como alternativa mais econômica e sustentável. Projetos como o da Vale no Brasil, que utilizam o Sistema Ferroviário Carajás para o transporte de minério, podem servir de modelo para soluções de transporte multimodal no Chile e na Argentina. A integração de caminhões pesados com a ferrovia pode, em muitos casos, reduzir custos operacionais e melhorar a eficiência no transporte de grandes volumes de minério.
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O futuro da mineração e a evolução da frota pesada
Com o avanço dos projetos mineradores, especialmente em regiões de alto potencial como a fronteira Chile-Argentina, as montadoras de caminhões pesados se preparam para oferecer soluções ainda mais especializadas. Modelos com maior capacidade de carga, eficiência energética e resistência a condições extremas deverão ser cada vez mais comuns no setor.
Além disso, com a crescente demanda por minerais essenciais para a transição energética, como o cobre e o lítio, as perspectivas para o mercado de equipamentos pesados são otimistas. Roberto Moreira, especialista em logística mineira, conclui: “Estamos entrando em uma nova fase da mineração, onde a demanda por equipamentos pesados será constantemente impulsionada não só pela necessidade de transporte, mas pela evolução das próprias operações mineradoras, que exigem soluções mais tecnológicas, ágeis e sustentáveis.”
Essa expansão do setor de mineração não só fortalecerá a economia dos países envolvidos, mas também colocará a América do Sul no centro das discussões globais sobre as cadeias de suprimento de metais estratégicos, com reflexos significativos para o mercado de equipamentos pesados.