A Michelin anunciou que encerrará as atividades de sua unidade industrial em Guarulhos (SP) até o final de 2025. A empresa alega que a medida é reflexo da crescente pressão da concorrência com produtos importados, especialmente da Ásia, que têm chegado ao mercado brasileiro com preços significativamente mais baixos. Segundo a empresa, a operação tornou-se economicamente inviável diante desse cenário desafiador.
A fábrica de Guarulhos atualmente é responsável pela produção de câmaras de ar para motos e bicicletas, pneus industriais e componentes utilizados por outras unidades da Michelin. O pior para indústria nacional é de que são segmentos de mercado em franco crescimento.
Por outro lado, o setor de duas rodas no Brasil segue em trajetória de crescimento e deve manter o ritmo em 2025. Após um desempenho recorde em 2024 — com produção de mais de 1,7 milhão de motocicletas e vendas no varejo superando 1,87 milhão de unidades — a expectativa é que o mercado continue aquecido. As projeções apontam para 2,02 milhões de motos emplacadas em 2025, um avanço de 7,7% em relação ao ano anterior, além de crescimento de 13% nas exportações. O desempenho reflete uma tendência consistente nos últimos anos, impulsionada pela praticidade na mobilidade urbana e por fatores econômicos que favorecem o uso de motos.
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O mercado de bicicletas também acompanha esse movimento positivo, com destaque para o avanço das elétricas. No primeiro trimestre de 2025, a produção de e-bikes atingiu 6.800 unidades — um salto de 89% na comparação anual. As bicicletas convencionais também mantêm bom desempenho, especialmente no Polo Industrial de Manaus, que concentra a maior parte da produção nacional e tem capacidade instalada para mais de 2,5 milhões de unidades somando bicicletas e motocicletas. A tendência é de consolidação desse segmento, com o aumento da demanda por soluções sustentáveis e alternativas de mobilidade.
E o desafio para Michelin não é apenas a importação de pneus. No segmento de duas rodas, a marca enfrenta uma concorrência da indústria nacional crescente, como a da Levorin, que produz mais de 28 milhões de pneus por ano para bicicletas e motos, além de outros fabricantes que têm investimento no aumento de produção e qualidade de seus produtos, e com preços mais competitivos.
As outras unidades Michelin no Brasil
A Michelin possui sete unidades industriais operacionais distribuídas em diferentes regiões do Brasil. O complexo de Campo Grande (RJ) é um dos mais relevantes da companhia no mundo, com produção voltada para pneus de ônibus, caminhões, máquinas agrícolas e da mineração. Já a planta de Resende (RJ) é dedicada a pneus para veículos de passeio e caminhonetes, além de reforços metálicos.
Na região Norte, a unidade de Manaus (AM) aproveita os benefícios fiscais da Zona Franca para produzir pneus voltados aos segmentos de motos e bicicletas. Essas vantagens tornam mais interessante para a empresa transferir a produção de Guarulhos (SP) para o Norte. Além dessas, a Michelin atua com operações de logística, pesquisa e sustentabilidade em estados como Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais.
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Reestruturação diante de um mercado desaquecido
O anúncio do fechamento da unidade de Guarulhos ocorre em um momento delicado para o setor de pneus no Brasil. De acordo com dados mais recentes da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip), o volume de vendas no primeiro quadrimestre de 2025 caiu 4,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, totalizando 15,99 milhões de pneus negociados entre montadoras e o mercado de reposição.
No acumulado de 2024, o setor registrou uma retração de 2,7% nas vendas — o menor nível desde 2013. O desempenho reflete o impacto de uma série de fatores, incluindo a desaceleração da indústria automotiva, a alta dos custos de produção e a ampliação da participação de produtos estrangeiros, que têm minado a competitividade da produção nacional devido ao “Custo Brasil” com a desafiadora e complexa legislação tributária.