quinta-feira, abril 10, 2025

Fim de uma era: Último Tatra T815 sai da linha de produção. E a Tatra no Brasil? 

No último dia 25 de fevereiro de 2025, a fábrica da Tatra Trucks, localizada em Kopřivnice, na República Tcheca, produziu seu último caminhão Tatra T815. O veículo, destinado ao uso dos bombeiros, simboliza o encerramento de um ciclo industrial que perdurou por mais de quatro décadas. Agora, a empresa concentra seus esforços nos modelos das gamas Force e Phoenix, que carregam a herança tecnológica e o legado desse icônico caminhão. 

Uma história de Inovação e desafios 

A trajetória do Tatra T815 começou nos anos 1970, quando a fabricante tcheca decidiu modernizar seu famoso modelo militar, o T813. Inicialmente, outro caminhão, o T157, havia sido projetado para aplicações civis, mas as autoridades socialistas da época optaram por fundir os projetos. O resultado foi o T815, um caminhão robusto e inovador, mas que gerou controvérsias devido à sua complexidade e altos custos de produção. 

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Apesar das críticas iniciais, o modelo conseguiu consolidar-se no mercado e tornou-se uma referência em resistência e desempenho, sendo amplamente utilizado em aplicações militares, industriais e de transporte pesado. Sua robustez foi testada nas mais adversas condições, incluindo participações bem-sucedidas no rali Dakar, onde demonstrou sua durabilidade e engenharia diferenciada. 

Desafios e declínio 

A virada do século trouxe novos desafios para a Tatra. A demanda pelo T 815 começou a diminuir, enquanto os custos de produção aumentavam significativamente. A concorrência com montadoras globais, aliada às crescentes exigências ambientais e de eficiência energética, forçaram a empresa a buscar novos caminhos para se manter competitiva. Foi nesse contexto que surgiram as gamas Force e Phoenix, projetadas para atender às demandas do século XXI com tecnologias mais avançadas e maior eficiência operacional. 

O encerramento da produção do T 815 marca o fim de uma era, mas também abre caminho para uma nova fase na história da Tatra. A empresa mantém seu compromisso com inovação e qualidade, garantindo que o espírito pioneiro do T 815 continue vivo nos modelos que agora protagonizam o portfólio da marca. 

Depois de dois anos de reestruturação, a Tatra Brasil passa a responder pelo mercado Latino Americano. Ou seja, a marca de origem tcheca passa a ser comandada pelos empresários brasileiros Eduardo Padilha e Ricardo Sales na região – leia-se do México para baixo. Dessa forma, a fabricante vai se reposicionar no mercado. De imediato, a linha civil Fênix não chega ao mercado. E a TatraBras vai focar 100% na gama de defesa, com os modelos Force.

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Aliás, em 2023, a companhia fez a sua primeira aparição na LAAD, maior feira do segmento na região, realizada em abril, na cidade do Rio de Janeiro. Lá, fechou os primeiros negócios para veículos de defesa, com unidades entregues ao exército brasileiro.

Estratégias da Tatra Brasil
Seja como for, com o novo posicionamento, a TatraBras desativou a unidade onde seria a instalação da linha de montagem dos caminhões, em Ponta Grossa, no Paraná. Mesmo porque, conforme o diretor da fabricante, Eduardo Padilha, com a chegada da Euro 6 seria inviável trazer a linha de caminhões civis ao País.

Por essa razão, a TatraBras vai começar com os veículos militares. E, paralelamente, dará os primeiros passos para introduzir a linha civil ao Brasil, já no padrão Euro 6. Para isso, deve iniciar em breve conversas com a DAF. Afinal, a marca holandesa fornece cabine, motor e câmbio (ZF) para os caminhões Tatra Fênix. Portanto, no Brasil a dinâmica deverá ser igual.

Nesse sentido, Padilha não descarta a possibilidade de a DAF responder pelo pós-venda da linha Fênix quando chegar ao Brasil. Afinal, a sua rede se expandiu no País, além da Paccar Parts, marca que produz os componentes dos veículos da DAF e demais itens para veículos comerciais.

Seja como for, a TatraBras seguirá algumas etapas para entrar aqui. Ou seja, vai começar por onde ela é forte e há espaço para crescer. Ou seja, pelos caminhões de defesa. Mas a intenção é nos próximos dois anos introduzir a linha Fênix.

Mercado de defesa

Vale lembrar que o mercado de caminhões de defesa no Brasil é pouco explorado e não há muitas empresas atuando. Nesse sentido, Iveco Defense é uma das marcas mais populares no segmento. E a Volkswagen Caminhões também desenvolve modelos baseados nas versões civis. Porém, modificados via BMB para atender ao Exército.

Seja como for, a frota de defesa do Brasil é antiga. Além disso, trata-se de um mercado com capacidade para 4 mil unidades a serem renovadas. Mas há desafios. Afinal, é um negócio feito por venda direta e com negociações mais demoradas, segundo Padilha. E com um único cliente que é o governo federal.

A Tatra tem 89 caminhões de defesa da linha Force vendidos ao Exército e Marinha, via Vibras, empresa que monta outras estruturas que os veículos precisam, como lançadores de foguetes, por exemplo. No entanto, esses veículos têm de estar rodando constantemente em testes. Para que, em caso de uso, estejam disponíveis. Por essa razão, o treinamento dos oficiais que vão conduzir os veículos fica a cargo da TatraBras. Bem como o pós-venda.

Espécimes únicos

Dessa forma, a fabricante de origem tcheca deu início a outra rodada de negociação. Afinal, as aplicações de defesa são amplas como transporte de frota, caçambas para o transporte de material e de pontes móveis, etc. Por ora, são caminhões 4×4, 6×6 e 8×8. Mas a Tatra produz caminhões com configurações de eixos que vão até 18×18. Ou seja, sempre traçados. Portanto, o que o Brasil ou região precisarem, a Tatra pode oferecer na linha de defesa.

“Por essa razão, as exigências com relação ao pós-venda são até maiores frente aos caminhões da linha civil. São caminhões blindados, com manutenções mais exigentes. E com planos rápidos de ação relacionados ao estoque de peças”.

Vale ressaltar que caminhões para uso no fora de estrada e defesa não precisam cumprir o padrão Euro 6. Por isso, os caminhões Force contam com motor Euro 3 de emissões Euro 5. Além disso, são caminhões com chassi sem feixe de mola. Ou seja, contam com eixos independentes e são únicos no mundo, com produção pela Tatra desde 1923.

O motor

São veículos que contam com motor a ar V8 e V10, sem a necessidade de água. Por essa razão, se em caso de combate esses caminhões forem alvejados, continuam rodando mesmo que com um único cilindro. Do mesmo modo, são caminhões que podem rodar até 1,60 m embaixo da água. Por essa razão são tão demandados por países de todo o mundo.

Seja como for, a gama Force por ora é importada. Mas a Tatra projeta em 2024 montar uma operação de montagem por SKD para esses caminhões em Araucária, PR.

A guerra entre Rússia e Ucrânia está impactando as vendas da Tatra para demais mercados. Ou seja, a produção da marca na República Tcheca, basicamente atende a Ucrânia. Por essa razão, neste ano a Tatra projeta vender cerca de mais 12 unidades ao Governo brasileiro. Mas para o próximo ano a projeção de vendas é de 100 caminhões no Brasil. E cerca de 300 unidades para a América Latina. O que inclui caminhões Fênix florestal e de mineração.

Parcerias e países vizinhos

Na Argentina, por exemplo, onde o mercado de caminhões é mais flexível, a marca já está presente com a linha civil. Porém, vale lembrar que a Euro 6 ainda não chegou ao País vizinho. Portanto, ainda é mais fácil a montagem dos veículos.

“Além disso, fechamos uma parceria na Argentina com o grupo Buswagen. Dessa forma, a rede vende a marca no país vizinho e também no Uruguai. Além disso, estamos presentes também no Chile, Paraguai, Peru e Colômbia. E no México vamos iniciar nossas atividades até outubro”, diz Padilha.

Por ora, os caminhões Tatra também chegam na região por importação. Mas na Argentina, precisamente em Córdoba, já há uma operação para a montagem dos veículos por meio do SKD. De lá serão espalhados para o restante dos países vizinhos.

Falta de comunicação

Tatra
O site da empresa tem poucas informações e está desatualizado, uma demonstração que ela está com dificuldades para seguir com seus planos para o mercado brasileiro

Tatra Brasil assume mercado latino-americano com foco em defesa

Em 2012, tive o privilégio de ser convidado para conhecer a Tatra na República Techa, pois a empresa estava com planos de iniciar a operação no Brasil, fato que segue, no entanto, na velocidade que empresa com menos recursos financeiro. Entre tantas fábricas que já conheci pelo mundo, a da Tatra foi uma das mais marcantes. Ela tinha toda a sua produção quase artesanal e pouquíssima automação.

A Tatra Brasil agora responde pelo mercado latino-americano da fabricante tcheca, sob o comando dos empresários brasileiros Eduardo Padilha e Ricardo Sales. A empresa optou por focar inicialmente na linha de defesa, adiando a chegada dos caminhões civis Fênix ao Brasil. Em 2023, a marca estreou na LAAD, maior feira de defesa da região, onde concretizou as primeiras vendas ao Exército Brasileiro. 

Assista o Canal FrotaCast:

Com essa nova estratégia, a unidade planejada em Ponta Grossa (PR) foi desativada, e a introdução da linha civil no Brasil ocorrerá apenas quando os caminhões atenderem à norma Euro 6. Para isso, a empresa pretende negociar com a DAF, que fornece componentes para a linha Fênix, e pode também assumir o pós-venda. 

O mercado de caminhões militares no Brasil ainda é pouco explorado, com poucas empresas atuando. Atualmente, a Tatra Brasil tem 89 unidades vendidas para as Forças Armadas, e projeta entregar mais 12 em 2024. Para 2025, a expectativa é de 100 unidades no Brasil e 300 na América Latina, incluindo versões para os segmentos florestal e de mineração. 

A gama Force, composta por modelos de trânsito extremo, se destaca pelo chassi com eixos independentes e motores refrigerados a ar, que garantem operação mesmo sob ataques. A Tatra Brasil também planeja iniciar uma linha de montagem SKD em Araucária (PR) a partir de 2024, fortalecendo sua presença no mercado militar. 

A expansão na América Latina já ocorre em países como Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai, Peru e Colômbia. Na Argentina, a marca já conta com uma operação SKD em Córdoba, facilitando a distribuição para a região. No México, as atividades devem começar até outubro deste ano, consolidando a presença da Tatra na região. 

ITOY
Jornalista Marcos Villela é membro associado desde 2018
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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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