sábado, outubro 12, 2024

Da crise do álcool ao boom dos veículos elétricos: Uma jornada automotiva brasileira

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Quem nasceu na década 1970… O quê? Tá bom, ok, não vou mentir a idade, quem nasceu no final da década de 1960, sabe o que foi a falta de álcool (hoje chamado de etanol) nos postos de abastecimento no Brasil na década de 1980. Eu era adolescente, eu ajudava meus amigos que tinham Monza movido a álcool a ficar na fila para abastecer. O meu trabalho era engatar a primeira, andar 10 metros, depois mais 10 metros, e isso por horas, até chegar na bomba de abastecimento. Só quem tem a minha idade sabe o que foi viver sem energia para a mobilidade. Essa fase do Brasil é conhecida como a crise do Pró-Álcool (não vou entrar nos detalhes sobre este projeto que fracassou no início e depois foi um sucesso). A história está se repetindo, mas com os carros elétricos.

Foi da dor das filas para abastecimento de carros movidos a álcool que nasceu o carro flex, uma solução muito útil por décadas, mas já precisando de repaginação. O carro flex é um dos maiores feitos da engenharia automotiva brasileira, mesmo alguns especializadas dizendo que carro flex é igual a pato: “anda, nada e voa, mas não faz nada direito”. Existe verdade nisso, e tem a ver com o futuro dos carros híbridos.

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Vamos entender o que a experiência do passado tem a ver com carros elétricos.

A crise do etanol nos anos 70 e 80 no Brasil foi um verdadeiro “plot twist” na saga dos combustíveis. Imagine só, um dia você está feliz abastecendo seu carro com álcool, e no outro, os postos estão mais secos que piada de tiozão no churrasco de domingo. Mas não subestime o poder da necessidade: ela fez os brasileiros inventarem o carro flex!

Isso mesmo, a tecnologia que permite ao seu carro beber álcool ou gasolina, dependendo do humor do mercado. E olha que revolução: o primeiro protótipo bicombustível foi o luxuoso Chevrolet Omega. Quem diria que a falta de uma bebida levaria a uma inovação tão sóbria?

Lógico, estamos na era do ESG. Portanto, não faça aquela continha dos “70%” para saber qual é a vantagem econômica entre abastecer com etanol ou gasolina. Tenha a seguinte consciência: quando você abastece com gasolina, você investe nas guerras do Oriente Médio e dos países produtores de petróleo. Quando você abastece com etanol, você investe no Brasil e em uma tecnologia brasileira e mais sustentável. Certamente, há muitas empresas que tornaram o abastecimento da frota com etanol, como a Nestlé, com mais de 1.700 automóveis da frota corporativa no Brasil.

As vendas de carros elétricos disparam, mas a Infraestrutura de carregamento fica para trás na União Europeia. E no Brasil? Se você mora na capital de São Paulo e tem uma boa conta bancária, você não terá problemas. Só vai precisar de paciência, que ainda não está à venda nas farmácias. Mas os terapeutas estão aí para serem analgésicos por meio da fala. Mas, com dinheiro, você pode instalar um carregador com potência acima dos 7 Kw na garagem da sua casa. Se você mora em prédio, você vai ter que negociar com todos os vizinhos, ou usar carregadores em estacionamentos públicos, como na Estapar, onde a hora do seu veículo estacionado é mais cara do que 10 litros de gasolina. E vai pagar também pela energia.

O que podemos aprender com a Europa? 

Um recente relatório divulgado pela European Automobile Manufacturers’​ Association (ACEA) revelou um cenário preocupante para quem não gosta de transporte público: enquanto as vendas de carros elétricos na União Europeia (UE) aumentaram significativamente entre 2017 e 2023, a instalação de pontos de carregamento não acompanhou esse ritmo, crescendo apenas uma fração do necessário. Esse descompasso acende um alerta sobre a urgência de expandir a infraestrutura de carregamento para atender à crescente demanda por veículos elétricos.

Conforme o relatório da ACEA, as vendas de carros elétricos triplicaram durante o período mencionado, um sinal encorajador do avanço na transição para veículos de emissão zero. Quem mora no Brasil tem alternativas ecológicas ao veículo elétrico 100% a bateria, como etanol e biomentano para alimentar geradores de energia elétrica. Além disso, o etanol vai ser fonte primária para produção futura de hidrogênio. Pois o problema do carro elétrico não é o motor elétrico, mas a fonte de energia.

álcool
Esta foto eu fiz quando estava em Xian, na China, e não foi uma foto sobre o tempo nubliado. O cinza é das fumaças geradas pelas termo elétricas a carvão

Em 2024, o carro 100% elétrico dependente de uma indústria poluente, que são as fabricantes de baterias e os geradores de energia com combustíveis fósseis, bem como as termos elétricas movidas a carvão e petróleo. Um estudo do MBCBrasil mostra que o carro híbrido polui menos do que um 100% elétrico a bateria. Leia sobre:

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O Brasil tem o privilegio de não depender de fontes poluentes para suportar transição energética.

No entanto, a instalação de pontos de carregamento públicos na UE não acompanhou o ritmo de crescimento. Em média, menos de 3.000 novos pontos de carregamento foram instalados por semana, totalizando pouco mais de 150.000 no ano passado, alcançando um total de mais de 630.000 em toda a região.

Sigrid de Vries, Diretora Geral da ACEA, expressou sua preocupação com essa disparidade. “Precisamos da adoção em massa de carros elétricos em todos os países da UE para alcançar as ambiciosas metas de redução de CO₂ da Europa. Isto não acontecerá sem a disponibilidade generalizada de infraestruturas públicas de carregamento em toda a região”, afirmou. Vries destacou que a instalação insuficiente de pontos de carregamento representa um obstáculo significativo para a transição energética no setor automobilístico.

As projeções futuras aumentam ainda mais a pressão para expandir rapidamente a infraestrutura de carregamento. Segundo estimativas da Comissão Europeia, até 2030, serão necessários cerca de 3,5 milhões de pontos de carregamento em toda a UE. Para alcançar essa meta, seria necessário instalar aproximadamente 410.000 novos pontos de carregamento públicos por ano, quase três vezes mais do que a taxa de instalação atual.

No entanto, a ACEA apresenta uma estimativa ainda mais alta. Eles afirmam que serão necessários 8,8 milhões de pontos de carregamento até 2030 para atender à crescente demanda por veículos elétricos na região. Isso exigiria a instalação de mais de 1,2 milhões de carregadores por ano, oito vezes mais do que a taxa de instalação atual.

“Acesso fácil a pontos de carregamento públicos não é ‘bom de ter’, mas sim uma condição essencial para descarbonizar o transporte rodoviário, além de apoiar o mercado e garantir um quadro de produção competitivo na Europa”, alertou de Vries. Ela enfatizou a urgência de aumentar os investimentos em infraestrutura de carregamento para atender às metas climáticas e impulsionar a transição para a mobilidade elétrica na UE.

Lógico, como na época do Pró-Álcool, vamos achar solução. Para isso, existem os profissionais de logística, que vão planejar como usar veículos de transporte de cargas e passageiros construindo a infraestrutura necessária independentemente de outros. Mas isso é um nicho do mercado de veículos elétricos, mas não a solução para todas as pessoas. Estamos preparados? Não! Estamos nos preparando? Em parte!

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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