Em um mundo que há práticas de “greenwashing” para o marketing em favor da agenda ESG, mostrar resultados passou a ser fundamental, e a Renault decidiu reinventar o papel da logística dentro de seu grupo global. O que antes era visto como uma operação de bastidor, o “balé invisível” que garante a entrega de milhões de veículos, hoje é um centro estratégico de inovação.
A montadora francesa, que vendeu mais de 2,264 milhões de veículos em 2024, colocou a Inteligência Artificial (IA) e os dados no coração de sua cadeia de suprimentos — uma rede que conecta 100 mil peças, 4 mil fornecedores e 25 fábricas em 11 países, entre elas a unidade de São José dos Pinhais (PR), parcialmente (26,4%) vendida à chinesa Geely Auto.
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Nas redes sociais, a Renault compartilhou alguns dos resultados concretos, as ferramentas utilizadas e os desafios dessa transformação digital:
- €20 milhões (cerca de R$ 106 milhões) economizados entre 2020 e 2024;
- 7.500 toneladas de CO₂ a menos emitidas no mesmo período.
Esses números mostram que eficiência logística e sustentabilidade caminham juntas — e, mais que isso, que a agenda ESG pode gerar lucro.
Na Renault, a IA é tratada como uma ferramenta de resolução de problemas reais, não como um projeto de laboratório. A missão é traduzir a complexidade operacional em clareza — do carregamento de caminhões à previsão de riscos globais.
OPTIM3D: Otimização do espaço (e do carbono)
Um dos projetos mais emblemáticos dessa jornada é o OPTIM3D.
- Desafio: maximizar o uso do espaço nos caminhões sem aumentar o número de viagens.
- Solução: um algoritmo de IA que calcula automaticamente a melhor forma de carregar os veículos, aproveitando cada centímetro cúbico disponível.
- Impacto: menos caminhões nas estradas, mais eficiência logística e redução direta das emissões de carbono.
O OPTIM3D transforma algo aparentemente banal — o empilhamento de caixas e componentes — em uma equação de sustentabilidade e custo-benefício.
OPTIMROUTE: o GPS estratégico da Renault
Outra ferramenta inovadora é o OPTIMROUTE, o “planejador inteligente” de rotas.
- Desafio: o tempo e o esforço envolvidos no planejamento manual de trajetos complexos.
- Solução: um sistema que calcula em segundos as melhores rotas, equilibrando distância, custo e tempo.
- Impacto: decisões ágeis e uma malha de transporte otimizada, o que reduz atrasos e custos de combustível.
O resultado é uma operação mais ágil, flexível e adaptável a eventos imprevistos — algo essencial num cenário global de crises logísticas.
Torre de controle: da reação à previsão
A Renault também opera uma torre de controle logística, equipada com ferramentas como o U-PREDICT e o MEDIA SCREENING.
- O U-PREDICT antecipa custos logísticos em tempo real.
- O MEDIA SCREENING monitora acontecimentos mundiais que possam afetar o fornecimento de peças.
Essa infraestrutura de dados transforma a cadeia de suprimentos reativa em um sistema preditivo, capaz de agir antes que os problemas ocorram.
Colaboração entre humanos e máquinas
O segredo do sucesso, segundo o grupo, não está apenas na tecnologia, mas na colaboração sinérgica entre humanos e IA. Cientistas de dados, especialistas em logística, equipes de TI e universidades trabalham juntos para desenvolver algoritmos sob medida que unem machine learning, pesquisa operacional e IA generativa.
A filosofia é clara: a IA não substitui, mas potencializa as pessoas. Ela fornece as respostas para que as equipes possam tomar decisões mais rápidas, inteligentes e sustentáveis, disse Sébastien Liorzou, VP de Processos e Digital Supplay Chain.
O futuro: agentes autônomos e decisões em tempo real
A Renault já vislumbra o próximo passo: a adoção de agentes de IA autônomos, capazes de orquestrar tarefas logísticas, aprender com a experiência e sugerir ações em tempo real.
Ao colocar a inteligência artificial no centro de sua logística, a Renault demonstra que inovação e sustentabilidade podem andar lado a lado — e que cada caixa otimizada, cada rota recalculada e cada decisão antecipada compõem um movimento estratégico que vai muito além da tecnologia.


