O mercado brasileiro de caminhões a gás urbano começa a ganhar corpo com a chegada de modelos voltados especialmente para operações urbanas e regionais. A corrida pela descarbonização do transporte pesado mobiliza montadoras e gestores de frota, que observam com atenção os ganhos em emissões, ruído e economia operacional. Além disso, o crescimento de interesse pelas empresas por frotas a gás cresce exponencialmente, visto que a meta da Scania para este ano é maior do a soma das vendas dos últimos quatro anos.
Entre os semipesados, três modelos despontam como os protagonistas dessa nova fase do transporte sustentável no Brasil: Scania P 280 6×2, Iveco Tector NG, e o Volkswagen Constellation 26.280 — este último ainda em fase de testes com clientes estratégicos. A Frota News apresenta um comparativo técnico e estratégico exclusivo entre esses modelos para ajudar frotistas a tomar decisões mais seguras na transição energética.
Tecnologia de motorização e desempenho
Os três caminhões utilizam motores a ciclo Otto, com ignição por centelha, preparados para rodar com biometano e, na falta deste, com GNV (Gás Natural Veicular). Veja os dados técnicos:
Característica | Scania P 280 6×2 | Iveco Tector NG | VW Constellation 26.280 |
Motor | Scania 9L ciclo Otto | FPT NEF 6, 5.9L ciclo Otto | Cummins B6.7N ciclo Otto |
Potência | 280 cv | 204 cv | 280 cv |
Torque | 1.400 Nm | 750 Nm | 1.100 Nm |
Transmissão | Opticruise (automatizada) | Manual de 6 marchas | Allison (automática) |
Capacidade de gás (m³) | Até 226 m³ | 120 m³ | Até 240 m³ |
Autonomia estimada | 400 a 500 km | Até 350 km | Até 300 km |
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Scania P 280
O Scania P 280 é reconhecido pela sua potência de 280 cv e torque elevado de 1.400 Nm, características que conferem desempenho superior para demandas de operações urbanas pesadas e trechos regionais. Um de seus principais diferenciais é a transmissão automatizada Opticruise, amplamente testada e consagrada em aplicações de alta severidade, que garante trocas de marcha precisas, menor desgaste dos componentes e maior conforto para o motorista. O modelo também inclui suspensão pneumática de série, que proporciona um rodar mais suave mesmo em condições adversas, além de um chassi reforçado que assegura durabilidade e resistência em operações mais exigentes.

Além disso, o Scania P 280 é projetado com foco em eficiência operacional. Com capacidade de armazenamento de gás de até 226 m³, sua autonomia pode chegar a 500 km, dependendo da configuração de tanques. Isso representa uma vantagem significativa para transportadoras que operam em trechos mistos ou rotas urbanas com menor infraestrutura de abastecimento. Essa configuração técnica o posiciona como uma solução robusta e versátil dentro do segmento de caminhões a gás.
No contexto da transição energética no Brasil, a Scania demonstra liderança e pioneirismo no desenvolvimento de caminhões a gás, acumulando anos de experiência no enfrentamento dos desafios da cadeia de suprimentos e logística de abastecimento no mercado brasileiro. Essa maturidade tecnológica reflete-se tanto na confiabilidade dos seus produtos quanto no suporte oferecido aos frotistas que optam pela adoção de combustíveis mais limpos e sustentáveis.
Além das características de um produto mais robusto, a Scania tem maior maturidade no projeto de caminhões a gás no Brasil, pois ela é pioneira e já conhece todos os desafios, além de toda a cadeia de fornecimento de gás para frotistas.
Iveco Tector NG
A Iveco tem longa tradição em caminhões a gás na Europa, com mais de 8 mil unidades entregues aos frotistas europeus. No Brasil, ela iniciou sua jornada no ano passado. O Iveco Tector NG é equipado com o motor FPT NEF 6, ciclo Otto, de 5.9 litros, desenvolvido para operar com combustíveis como biometano e GNV (Gás Natural Veicular). Com uma potência de 204 cv e torque de 750 Nm, ele se posiciona como uma solução de entrada neste segmento e mais indicado para operações urbanas leves e médias, incluindo entregas de carga fracionada e serviços municipais. Apesar de ser o mais modesto em termos de desempenho, o modelo atende com excelência às necessidades de aplicações menos severas, com foco na economia e na sustentabilidade.

Sua transmissão manual de 6 marchas garante simplicidade e facilidade de manutenção, sendo uma escolha especialmente prática para empresas que estão em fase inicial da transição energética. O caminhão também se destaca pelo conforto interno, que inclui ergonomia avançada e sistemas que proporcionam maior comodidade ao motorista durante longas jornadas em áreas urbanas.
Com capacidade de armazenamento de gás de até 120 m³, o Tector NG oferece uma autonomia estimada de até 350 km, o que o torna uma opção atrativa para rotas urbanas que permitem reabastecimento frequente. Sua construção robusta e sua compatibilidade com combustíveis renováveis refletem o compromisso da Iveco em oferecer soluções sustentáveis no transporte de cargas.
Além disso, a Iveco traz sua expertise na tecnologia de gás natural, incorporando anos de experiência em mercados internacionais.
VW Constellation 26.280
O Volkswagen Constellation 26.280 apresenta um conjunto mecânico robusto graças ao motor Cummins B6.7N ciclo Otto, de 6.7 litros, projetado para operar com biometano e GNV (Gás Natural Veicular). Esse motor entrega uma potência de 280 cv e um torque de 1.100 Nm, 300 Nm menos do que o Scania P 280, mas ainda suficientes para atender às demandas de operações urbanas pesadas, como coleta de resíduos sólidos e outras atividades municipais de alta intensidade.

Um dos principais destaques do modelo é a transmissão automática Allison, conhecida pela sua confiabilidade e desempenho em aplicações severas. Essa transmissão proporciona trocas de marcha suaves e precisas, reduzindo o esforço do motorista e aumentando a produtividade nas operações. O sistema também contribui para a durabilidade dos componentes mecânicos, especialmente em condições de uso frequente e pesado.
Com capacidade de armazenamento de gás de até 240 m³, o modelo promete uma autonomia de cerca de 300 km, suficiente para duas jornadas completas em aplicações como a coleta de resíduos em grandes cidades.
A infraestrutura para abastecimento
O uso de gás ainda exige planejamento logístico por parte das empresas, já que a infraestrutura de abastecimento no Brasil segue concentrada em regiões metropolitanas.
Para viabilizar a operação em larga escala dos veículos a gás, a Scania está investindo em parcerias para que a indústria de gás faça a ampliação da rede de abastecimento. Segundo a fabricante sueca, já são mais de 130 postos com bombas de alta pressão para veículos pesados, cobrindo corredores estratégicos com raio de atuação de até 400 km.
Principais rotas cobertas:
- Nordeste: BR 101 (do Ceará à Bahia);
- Centro-Oeste: BR 262 (Mato Grosso do Sul);
- Sudeste: BRs 040, 381, 116, SP 348;
- Sul: BR 116 e BR 101.
Sem muitas informações, a Iveco comunicou no final de março deste que que havia feito uma parceria com a Gasmig (distribuidora de gás) para promover o gás natural e o biometano no setor de transportes em Minas Gerais. Segundo presidente da Gasmig, Carlos Camargo de Colón, “por meio do programa ‘Corredores GNV’ estamos empenhados em construir no estado a melhor infraestrutura de gás no país. O principal objetivo é garantir, ao menos, um posto GNV a cada 400km de distância nas principais rodovias que ligam Minas Gerais ao Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e Bahia, permitindo o alcance de regiões estratégicas”.
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Visão do mercado e perspectiva futura
A aposta das montadoras nos caminhões a gás urbanos é estratégica. A Scania foi pioneira e lidera em volume de vendas no Brasil. A Iveco traz know-how europeu com o Tector Natural Power e quer brigar por espaço entre frotistas de médio porte. Já a Volkswagen, que aposta em parcerias com empresas de resíduos, está validando o desempenho do Constellation em condições reais antes de escalar a produção.
Segundo especialistas, o uso de biometano deve se consolidar como o verdadeiro diferencial competitivo, por ser mais limpo e, em algumas regiões, mais barato que o diesel. No entanto, ainda há desafios logísticos, fiscais e de infraestrutura.