sexta-feira, junho 20, 2025

Caminhão autônomo fez viagem de 1.930 km em operação real nos EUA

Enquanto os EUA iniciam operações comerciais em vias públicas com caminhão autônomo, o Brasil concentra sua automação em zonas industriais e mineradoras. A diferença? Infraestrutura, regulação e ambição tecnológica. 

Quando o assunto é caminhões autônomos, uma tecnologia que promete aumentar a segurança nas estradas e mitigar a falta crônica de motoristas, há um vácuo entre os Estados Unidos e o Brasil por razões até óbvias — como a precariedade da infraestrutura viária, a ausência de conectividade confiável e o atraso em legislações específicas no território nacional. Não que o Brasil esteja alheio à revolução. Os caminhões autônomos já são uma realidade por aqui, especialmente em setores fechados como mineração, logística portuária e operações agrícolas. Porém, quando o tema é o uso de veículos autônomos em vias públicas, podemos dizer sem exagero que há um abismo entre o Hemisfério Norte e o Sul. 

Estados Unidos: do teste à operação comercial nas estradas 

Em abril de 2025, a Aurora Innovation se tornou a primeira empresa a lançar oficialmente uma operação de transporte comercial com caminhões autônomos pesados em vias públicas nos EUA. O feito histórico envolveu o transporte de produtos congelados por mais de 1.930 quilômetros entre Dallas e Houston, no Texas, sem qualquer intervenção humana. 

O caminhão operava com o Aurora Driver, sistema de direção autônoma Nível 4 na escala da SAE, com câmeras, radares e sensores LiDAR que detectam obstáculos a mais de 450 metros. O projeto foi precedido por quatro anos de testes e mais de 4.828.020 de quilômetros rodadas de forma supervisionada. 

Outras empresas também integram esse ecossistema: 
  • Waymo Via, da Alphabet (Google), testa caminhões Freightliner Cascadia autônomos em vários estados. 
  • Kodiak Robotics já opera o primeiro “truckport” (ponto de apoio exclusivo para caminhões autônomos) na Geórgia. 
  • Plus realiza testes com seu sistema SuperDrive no Texas e na Suécia. 

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Além da tecnologia, os EUA contam com infraestrutura adaptada e políticas estaduais permissivas: Texas, Arizona e Arkansas lideram essa revolução com regulamentações pró-autonomia. Há estados em prol da restrição, como Califórnia e Indiana. A ausência de um marco regulatório federal ainda é um gargalo, mas mesmo isso não impediu a evolução do setor. 

Brasil: realidade autônoma, mas confinada 

Enquanto os EUA colocam caminhões sem motorista em suas rodovias, o Brasil aposta em operações confinadas — ou seja, fora de vias públicas. A líder desse movimento é a Vale, que desde 2016 opera caminhões fora de estrada autônomos na mina de Brucutu (MG). Hoje, a empresa já conta com 24 caminhões autônomos, 18 perfuratrizes e 30 máquinas de pátio operando sem intervenção humana em suas minas em Carajás (PA) e Minas Gerais. 

caminhão autônomo
Caminhão autônomo da Caterpillar em operação na mina Brucutu, da Vale

Os veículos da Vale, fabricados pela Caterpillar, têm capacidade para até 320 toneladas e operam com rede 4G privada. A empresa estima uma redução de 10% no consumo de combustível e 15% nos custos de manutenção, além de ganhos expressivos em segurança: nenhuma fatalidade registrada desde o início da operação autônoma. 

Outra iniciativa relevante é a da Lume Robotics, startup capixaba que colocou o primeiro caminhão 100% autônomo do Brasil para operar dentro do terminal portuário de Aracruz (ES), transportando celulose. Em parceria com a Suzano, a Lume também desenvolve o primeiro caminhão elétrico autônomo sem cabine da América Latina. 

O abismo estrutural e regulatório 

A grande diferença entre os dois países não está apenas na tecnologia, mas sim na capacidade de escalar e integrar essas soluções à malha pública de transporte. Enquanto o Texas, por exemplo, já conta com rotas logísticas exclusivas para veículos autônomos, no Brasil sequer se discute um marco regulatório nacional específico para esses veículos. 

As principais barreiras para a adoção de caminhões autônomos em vias públicas no Brasil incluem: 

  • Infraestrutura rodoviária precária, com sinalização deficiente e manutenção irregular; 
  • Conectividade limitada, especialmente fora dos grandes centros urbanos; 
  • Ausência de regulamentação nacional que defina parâmetros para operação autônoma em rodovias; 
  • Baixo incentivo à inovação em transporte pesado por parte do setor público. 

Em outras palavras, enquanto os EUA estruturam uma rede de apoio legal, logístico e tecnológico, o Brasil ainda depende do setor privado para impulsionar qualquer avanço — restrito a ambientes controlados, fechados, e com investimentos próprios. 

Caminhões autônomos e o futuro da logística 

A promessa dos caminhões autônomos vai além da redução de custos. O setor de transporte rodoviário enfrenta uma crise global de escassez de motoristas — nos EUA, o déficit pode chegar a 160 mil profissionais até 2030, segundo a American Trucking Associations. A automação aparece como uma saída viável, especialmente para rotas longas, repetitivas e de alto custo humano. 

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Conclusão: dois mundos sobre rodas 

A comparação entre Brasil e Estados Unidos no campo dos caminhões autônomos não é apenas tecnológica — é estrutural, política e estratégica. Enquanto o país norte-americano avança com testes públicos e parcerias com gigantes do setor de logística, o Brasil se mostra eficiente apenas onde consegue isolar o ambiente e controlar todas as variáveis. 

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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