Indústria americana amplia rapidamente estrutura de RNG (Gás Natural Renovável), enquanto motoristas e transportadoras destacam viabilidade técnica e econômica do biometano em veículos pesados. E até no Tio Sam seguem a tendência brasileira.
Enquanto o futuro dos caminhões elétricos a bateria de longa distância ainda enfrenta incertezas, cresce nos Estados Unidos — e ecoa no Brasil — uma preferência cada vez mais consolidada entre transportadores: o uso de caminhões movidos a gás natural renovável, o chamado RNG ou biometano.
Na ACT Expo 2025, o maior evento de tecnologia limpa para transporte da América do Norte, ficou claro que o biometano vem ganhando destaque como solução energética viável para o transporte pesado. Líderes da Cummins e da Hexagon Agility — duas gigantes globais de motores e sistemas de combustível — ressaltaram a densidade energética, a disponibilidade de componentes, a viabilidade econômica e a praticidade do RNG em relação aos modelos elétricos.
“O gás natural é a próxima melhor solução quando se observa a densidade de energia volumétrica. A molécula de metano é extremamente eficiente para transporte pesado”, afirmou Eric Bicpus, CCO da Hexagon Agility.
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Jennifer Rumsey, presidente e CEO da Cummins, foi enfática: “Sempre soubemos que a transição energética seria dinâmica, mas está claro agora que será ainda mais incerta e divergente do que imaginávamos. Isso exige múltiplas soluções – e o RNG tem se mostrado uma das mais promissoras”.
Infraestrutura em ritmo acelerado
O crescimento dessa alternativa energética tem respaldo em investimentos robustos. Na última semana, a RNG Coalition anunciou a operação de sua 500ª planta de produção de gás natural renovável na América do Norte — atingindo antecipadamente a meta estabelecida para 2025 no âmbito da iniciativa SMART (Sustainable Methane Abatement & Recycling Timeline), lançada em 2019.
Quando a entidade foi criada, em 2011, existiam apenas 31 instalações em funcionamento. Agora, além das 500 operacionais, há outras 153 em construção e 293 em licenciamento. O novo objetivo da coalizão é atingir mil unidades operacionais até 2030, mirando a captura de metano e CO₂ em 43 mil locais de resíduos até 2050.
A produção de biometano parte de resíduos orgânicos — como restos de alimentos, resíduos agrícolas ou águas residuais — que são convertidos em combustível limpo e renovável. Essa cadeia circular de energia é apontada como uma solução de baixíssimo carbono e com potencial significativo de redução de emissões no setor de transporte.
Brasil acompanha tendência
No Brasil, o biometano também tem ganhado espaço entre transportadoras, especialmente em corredores logísticos com acesso a usinas de produção do combustível. A opção por caminhões movidos a gás renovável se torna especialmente atrativa diante de gargalos na infraestrutura de recarga elétrica e dos custos elevados de aquisição de veículos a bateria de longa autonomia.
Somente a Scania já conta com mais de 1.700 caminhões a gás em operação no Brasil, e com meta ambiciosa de entregar chega cerca de 1.000 unidades este ano. A Iveco, apesar de não divulgar seus números de vendas, também está investindo no segmento. Outra marca que já conta com um modelo desenvolvido para o segmento de coleta de resíduos é a Volkswagen Caminhões e Ônibus.
A favor do biometano também está a familiaridade com a tecnologia por parte das oficinas mecânicas e operadores logísticos, além da crescente disponibilidade de motores pesados como o Cummins X15N, já adaptado para operação com gás natural renovável e disponível em configurações para caminhões de longa distância. No Brasil, Scania, Cummins e FPT Industrial também já contam com motores a gás em ritmo acelerado de nacionalização.
Caminhões elétricos: promessas e desafios
Enquanto isso, o mercado de caminhões elétricos de Classe 8 (uso pesado e longa distância) continua em compasso de espera. Montadoras tradicionais e novos players, como Tesla e Windrose, enfrentam desafios tanto de escala produtiva quanto de aceitação comercial.
A instabilidade nos custos de baterias, a complexidade das redes de recarga e a imprevisibilidade regulatória têm adiado decisões de compra por parte de frotistas. Em contrapartida, essa mesma incerteza tem alimentado a confiança no RNG, que se beneficia de uma cadeia de suprimento mais madura e de soluções já testadas em campo.
Um caminho possível — e mais imediato
Para Johannes Escudero, CEO da RNG Coalition, o momento é de celebração, mas também de ação estratégica. “Realizamos algo que poucos acreditavam ser possível. Mas ainda há muito trabalho a fazer. Nossa liderança coletiva está transformando a indústria, a economia e o meio ambiente”, afirmou.
Diante da urgência climática e da busca por soluções viáveis na realidade operacional do transporte pesado, o biometano emerge como um caminho concreto — e imediato — para a descarbonização.
Transportadores brasileiros atentos às movimentações internacionais já reconhecem: o gás natural renovável pode ser a ponte mais segura e sustentável entre o presente e o futuro da mobilidade de cargas. Ele oferece uma vantagem competitiva em relação às outras fontes de energia limpa, que passivos ambientais, como os aterros sanitários, em ativos energéticos.