Acordo com a Wabtec prevê introdução de trens híbridos a bateria e aumento no uso de biodiesel na frota que liga o Maranhão ao Pará
A Estrada de Ferro Carajás (EFC), operada pela mineradora Vale, será a primeira a receber trens híbridos no transporte de cargas. A medida faz parte de um pacote ambiental mais amplo, que inclui o aumento da proporção de biodiesel utilizado nas locomotivas que cruzam o Norte e o Nordeste do Brasil. A expectativa é reduzir significativamente a emissão de poluentes ao longo dos cerca de mil quilômetros entre São Luís (MA) e Parauapebas (PA).
De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, a Vale vai ampliar de 14% para 25% a proporção de biodiesel na frota de 297 locomotivas em operação na ferrovia. A iniciativa é sustentada por um novo acordo firmado com a fabricante Wabtec Corporation, que fornecerá 14 locomotivas da linha Evolution — modelo fabricado em Contagem (MG) e projetado para operar com misturas mais elevadas de biocombustível.
Segundo João Silva Junior, diretor de operações da EFC, os primeiros testes laboratoriais com as novas máquinas foram positivos. “Nosso fornecedor também já fez testes de bancada, principalmente no nosso motor diesel, compressores, turbinas, para a gente já ver o efeito. O grande ponto nosso era [a preocupação com] a perda de potência. E aí no teste de bancada passou completamente”, afirmou o executivo.
Embora os motores tenham demonstrado capacidade para operar com até 50% de biodiesel, os ensaios em condições reais de operação ainda serão necessários. Os testes em campo devem começar no segundo semestre deste ano e se estender por pelo menos seis meses.
Trens híbridos: tecnologia de transição
A maior inovação anunciada, no entanto, é a introdução de trens híbridos — uma tecnologia inédita no Brasil. Fruto de um acordo firmado com a Wabtec em 2023, o projeto prevê a incorporação de três locomotivas equipadas com baterias que serão acopladas às composições a diesel já em operação. As baterias são recarregadas por meio da energia gerada durante o processo de frenagem, o que representa uma solução de recuperação energética inteligente e sustentável.
O impacto potencial da novidade é expressivo: estima-se que os trens híbridos possam economizar até 25 milhões de litros de diesel por ano, o que equivaleria a uma redução de 63 mil toneladas de emissões de CO₂, segundo projeções da Vale. “Essa transição com o híbrido vai ser importante. Eu vou ter condição de usar a bateria em determinado ponto e utilizar combustível em outro. E o que a gente quer é ter um combustível melhor”, disse Silva Junior.
Limitações da eletrificação total
A Vale já possui uma locomotiva totalmente elétrica desde 2022, utilizada exclusivamente em operações de manobra devido à sua potência limitada de 2.000 HPs. Para substituir as locomotivas a diesel de carga, seriam necessárias 14 unidades elétricas para cada trem, o que inviabilizaria a operação por questões logísticas e de manutenção. Nesse cenário, o modelo híbrido surge como uma alternativa viável de transição energética no transporte ferroviário de grande escala.
Quatro décadas de operação
Com 40 anos de operação no transporte de cargas a serem completados em 2025, a EFC também se consolida como uma das principais rotas logísticas do país. Apenas em 2023, transportou mais de 176 milhões de toneladas de minério de ferro, 10,9 milhões de toneladas de grãos e 2,1 bilhões de litros de combustíveis. No transporte de passageiros, a ferrovia alcançou um recorde de 423 mil usuários no último ano, antecipando as comemorações pelos 40 anos desse serviço, previstos para 2026.
A linha corta 27 municípios nos estados do Maranhão e Pará, com 15 estações em funcionamento ao longo do trajeto. A viagem entre São Luís e Parauapebas leva cerca de 16 horas, com destaque para as paradas em Santa Inês, Açailândia e Marabá.