Construção elétrica avança em ritmo acelerado e promete transformar o setor com menos emissões, ruído e impacto urbano e nos canteiros de obras.
Cidades mais silenciosas, com ar mais limpo e canteiros de obras que parecem ter saído de um filme futurista: essa é a nova realidade que começa a se formar com a eletrificação do setor da construção. Ainda que o caminho seja longo, empresas e governos já dão passos importantes para reverter o impacto ambiental de uma das indústrias mais poluentes do planeta.
A construção civil é responsável por cerca de 13% das emissões globais de gases de efeito estufa, segundo estimativas do setor. Só os canteiros de obras respondem por 1,1% do total mundial, o equivalente a 400 milhões de toneladas de CO₂ por ano, emitidas por máquinas pesadas movidas a diesel. No entanto, equipamentos elétricos, como escavadeiras, carregadeiras e caminhões, surgem como uma alternativa viável para mudar esse cenário.

O setor de construção é um dos que mais estão recebendo investimento no Brasil, tanto para construção civil urbana quanto para grandes obras de infraestrutura. No entanto, a oferta de equipamentos elétricos ainda é bastante limitada, já que é um mercado que começou muito recentemente. A Volvo CE Construction Equipment oferece dois modelos no País: escavadeira compacta elétrica ECR25 e a carregadeira de rodas L25 Electric.
Na Europa, o portfólio da Volvo CE já oferece 14 modelos de máquinas para construção e mineração elétricos. Além disso, a Volvo Trucks oferece sete modelos para todos os segmentos e, especificamente para construção, o FMX.
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Terceiro lançamento para este ano
Em breve, a Volvo CE fará o seu terceiro lançamento de máquina elétrica para construção. A carregadeira L120 Electric foi apresentada ao mercado brasileiro em 2024 e deve começar a ser comercializada este ano. O modelo está sendo testado em operações reais, com destaque para a parceria com a Pedreira Caxiense Fagundes, no Rio Grande do Sul, em colaboração com a Linck Máquinas.

Os testes visam validar, em campo, o desempenho projetado em laboratório e identificar melhorias no uso da máquina. A L120 Electric é equipada com baterias de 282 kWh, oferecendo autonomia entre 4,5 e 6 horas, com recarga em menos de uma hora (dependendo do carregador).
Os resultados mostraram uma redução de até 90% nos custos com energia em comparação a modelos a diesel, além de benefícios como menor emissão de gases poluentes, menos ruído e vibração, e ambiente de trabalho mais saudável. A eletrificação do portfólio integra o compromisso da Volvo com metas climáticas baseadas em ciência, estabelecidas pela organização Science Based Targets (SBTi).
XCMG Brasil
Outra marca que tem investido em veículos elétricos é a chinesa XCMG Brasil, que possui fábrica em Pouso Alegre, sul de Minas Gerais. Ele tem o maior portfólio entre caminhões e máquinas de construção e mineração no Brasil, mas, por enquanto, todos importados. Recentemente, ela lançou o primeiro caminhão pipa elétrico (leia abaixo reportagem sobre o modelo).
XCMG Brasil lança o primeiro caminhão pipa 100% elétrico do País
Em Oslo, na Noruega, essa transição já é realidade: 98% dos canteiros da cidade são livres de combustíveis fósseis, com quase um quarto deles totalmente eletrificados. O exemplo da capital norueguesa é emblemático de uma transformação em curso que pode redefinir os paradigmas da construção urbana.
Sonho de qualquer trabalho ou vizinho de canteiro de obra
A mudança não trata apenas da redução de emissões. Canteiros elétricos representam menos poluição sonora, melhor qualidade do ar e ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis. “Além de construir infraestrutura e moradia, esses canteiros constroem uma nova visão de cidade: mais limpa, tranquila e sustentável”, destaca Gustav Boberg, da Volvo Construction Equipment.
A Volvo, aliás, foi uma das pioneiras nesse movimento. Em 2019, a empresa decidiu parar de desenvolver equipamentos menores a diesel e lançou suas primeiras máquinas elétricas durante a feira Bauma, na Alemanha. Desde então, vem expandindo sua atuação com soluções pensadas para atender às metas de sustentabilidade de cidades e governos locais.
Caminhões elétricos: mais do que transporte
Outro posto-chave na eletrificação da construção é o papel dos caminhões elétricos, que já estão em operação em canteiros ao redor do mundo. Muamer Music, gerente do segmento de construção na Volvo Trucks, vê esses veículos como verdadeiros catalisadores da mudança.
“Estar com um caminhão elétrico em um canteiro redefine sua visão sobre o que é possível. Eles são silenciosos, limpos e eficientes”, afirma. Embora a resistência inicial seja comum — especialmente por receio de que os veículos não tenham autonomia suficiente — a experiência prática costuma converter até os mais céticos.
Muamer destaca que os caminhões são capazes de realizar as tarefas mais exigentes, como transporte de areia, cascalho e materiais de demolição, com desempenho comparável ao dos modelos a diesel. E o melhor: “Com quatro baterias, você pode operar durante dois turnos diários sem problemas”, explica.
A infraestrutura acompanha
Para sustentar essa revolução, é preciso que a infraestrutura de recarga cresça no mesmo ritmo. A Europa já caminha para mais de 500 zonas de baixa emissão, o que pressiona o setor a se adaptar rapidamente. A construção de estações de recarga com equipamentos elétricos, por exemplo, é um exemplo emblemático do conceito “construir elétrico com elétrico”.
A colaboração entre governos, fornecedores de energia, empresas e fabricantes é essencial para garantir que essa transformação ocorra de forma integrada. “A verdadeira mudança exige parceria”, diz Gustav Boberg.
Uma mudança que já começou
O futuro da construção elétrica não está mais no campo das ideias. Está sendo moldado, parafraseando os próprios protagonistas, “no chão dos canteiros”. Cada projeto realizado com máquinas elétricas é mais do que uma obra concluída: é a comprovação de que a tecnologia funciona, é viável — e é necessária.
“A construção não pode parar”, reforça Muamer Music. “Mas ela pode evoluir. E a eletrificação é um grande passo à frente — para os clientes, para o meio ambiente e para todos que vivem próximos a essas obras. A cidade do futuro está sendo construída agora.”