A transição energética no transporte coletivo urbano e rodoviário é uma realidade que avança em ritmo acelerado, mas cheia de desafios. Quem explica é Alex Nucci, diretor de Vendas de Soluções de Transporte da Scania Operações Comerciais Brasil, em entrevista exclusiva para a Frota News. Além disso, a marca apresentou recentemente um novo cavalo mecânico fora de estrada, capaz de revolucionar o transporte no setor sucroalcooleiro.
Confira a seguir os principais trechos da conversa:
Frota News: Como a Scania está se preparando para a transição do transporte coletivo para novas energias menos poluentes?
Alex Nucci: A Scania tem uma estratégia global de liderar a transição para um sistema de transporte mais sustentável. No Brasil, estamos apostando forte no biometano, no gás natural e nos elétricos. Estamos desenvolvendo veículos que possam atender à demanda de um transporte mais limpo, mas também economicamente viável para nossos clientes. Sabemos que essa transição precisa considerar as realidades regionais, tanto de infraestrutura quanto de disponibilidade de combustível.
Frota News: Quais são os maiores desafios para essa transformação?
Alex Nucci: Um dos principais desafios é a infraestrutura de abastecimento. Para gás e biometano, ainda temos uma rede limitada, e para a eletrificação total, pois o investimento em pontos de recarga das baterias é bastante alto. Outro ponto é a regulamentação e os incentivos fiscais, que ainda precisam evoluir para apoiar essa mudança em larga escala. E claro, há o desafio tecnológico: garantir que os novos veículos ofereçam a mesma confiabilidade e desempenho que os clientes já conhecem nos modelos a diesel.
Frota News: E para o transporte rodoviário de passageiros, há novidades?
Alex Nucci: Sim. Estamos trabalhando com soluções de ônibus a gás e biometano para operações rodoviárias, o que já é uma realidade em alguns clientes. Além disso, seguimos desenvolvendo alternativas híbridas e elétricas. Mas, como comentei, o sucesso da implementação depende muito de infraestrutura e incentivos.
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Frota News: A Scania também apresentou recentemente um novo modelo para o agronegócio. Pode nos contar mais?
Alex Nucci: Claro. Acabamos de lançar um cavalo mecânico fora de estrada totalmente projetado para o segmento de transbordo de cana-de-açúcar. Ele tem capacidade para tracionar dois implementos de carga, formando um bitrem de 7 ou 9 eixos. E o mais impressionante: o modelo é capaz de tracionar um Super Rodotrem de 91 toneladas, já que o seu CMT — Capacidade Máxima de Tração — chega a 150 toneladas. É uma solução pensada para aumentar a eficiência e produtividade no campo.
Frota News: Qual o impacto dessa solução no transporte agrícola?
Alex Nucci: Eleva muito o patamar de produtividade e segurança no transporte de cana. Além de substituir tratores agrícolas, que não foram feitos para a mesma robustez do transporte de carga, o novo cavalo mecânico reduz o custo operacional e melhora a gestão de frota, já que está totalmente conectado e preparado para operações inteligentes.
Saiba mais sobre o Scania 560 G Super XT para o agronegócio
A Scania vai apresentar o cavalo mecânico 560 G Super XT fora de estrada totalmente preparado para substituir os tratores no competitivo mercado de transbordo de cana-de-açúcar. Ele tem capacidade para tracionar dois implementos de carga, formando um bitrem de 7 ou 9 eixos. O modelo tem capacidade, inclusive, para tracionar um Super Rodotrem de 91 toneladas, já que o seu CMT (Capacidade Máxima de Tração) é de 150 toneladas.
Este nicho de mercado, altamente lucrativo, já vinha sendo dominado pelos caminhões rígidos autônomos e customizados, principalmente, pela Mercedes-Benz em parceria com a Grunner. A Volvo foi a pioneira ao adaptar veículos para essa aplicação, seguida pela Grunner, e depois pela Volkswagen, com o lançamento do Volkswagen Constellation 31.280 8×4 voltado para o setor. A Scania já flertou com o segmento no passado, chegando a apresentar um protótipo do P 280 Autônomo 8×4, mas sem levá-lo à produção em série.
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Capacidade de carga e ganhos operacionais
Em vez de usar tratores ou caminhões rígidos, com capacidade média para 22 toneladas, o cavalo mecânico Scania opera tracionando dois semirreboques de 34 toneladas cada. Essa configuração permite substituir dois veículos por um único conjunto, resultando em:
- Redução de até 50% nos custos totais de operação;
- Maior agilidade logística na safra;
- Menor consumo de combustível por tonelada transportada.
O motor DC13 Super de 560 cv e o câmbio G33 automatizado asseguram desempenho robusto e economia de combustível, mesmo sob cargas extremas ou em terrenos irregulares.
Vantagens do caminhão sobre o trator no transbordo de cana
Uma tendência que se consolida no setor sucroalcooleiro é a substituição de tratores por caminhões no transbordo. O uso de caminhões como o Scania 560 G Super XT apresenta benefícios claros:
- Maior capacidade de carga útil, reduzindo o número de viagens necessárias;
- Menor custo operacional por tonelada transportada;
- Velocidade superior na movimentação da carga até o ponto de descarregamento;
- Maior conforto e segurança para o operador;
- Durabilidade superior em operações contínuas de longa distância;
- Facilidade de revenda no mercado de veículos comerciais.
Enquanto tratores são essenciais no corte e manuseio dentro da lavoura, caminhões adaptados ou específicos para o agro trazem ganhos significativos no transporte da matéria-prima até as usinas ou pontos de carregamento.
Autonomia: uma ausência sentida
Apesar dos avanços em capacidade de carga e flexibilidade operacional, o Scania 560 G Super XT não é equipado com sistemas de condução autônoma. Diferente de concorrentes como Volvo e Grunner, que já oferecem veículos autônomos para o transbordo de cana, a Scania ainda aposta na operação manual.
A ausência da tecnologia autônoma significa:
- Dependência da habilidade do motorista para manter a precisão ao acompanhar colhedoras;
- Maior risco de pisoteio de plantas e perdas de carga;
- Maior variabilidade de produtividade entre operadores.
Nos caminhões autônomos, sensores e sistemas de navegação permitem acompanhar com exatidão a colhedora, otimizando o fluxo de carga e preservando o solo e as plantas.
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Flexibilidade e valor de revenda preservados
Outro destaque do projeto é a facilidade de conversão para uso rodoviário. A Scania projetou o 560 G Super XT com componentes removíveis, como mangas de eixo especiais e alargadores de chassi. A remoção desses itens devolve ao caminhão sua configuração original, tornando-o apto para operações em rodovias — um diferencial que preserva o valor de revenda do veículo.
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Segundo Marcelo Gallao, diretor de desenvolvimento da Scania Brasil, o lançamento visa atender à necessidade crescente de transportar volumes maiores em menor tempo, especialmente durante as janelas curtas de colheita da cana-de-açúcar.
O projeto contou com a parceria da Megatec, especialista em implementos agrícolas, garantindo que o conjunto final atenda às condições extremas de operação no campo.