O Brasil atravessa uma profunda crise política, econômica e social. De um lado, a população é refém da criminalidade e de suas consequências; de outro, está nas mãos de políticos e magistrados que frequentemente agem em conluio, priorizando seus próprios interesses em detrimento do bem comum. A cada novo dia, surgem notícias que vão desde o aumento da inflação — e, com isso, a perda do poder de compra dos brasileiros — até escândalos envolvendo membros da alta cúpula do Judiciário, que soltam criminosos e utilizam aviões da Força Aérea Brasileira para assistir a jogos de futebol, como se fossem parte de uma realeza acima das regras comuns.
Diante desse cenário, observa-se que, enquanto os brasileiros são vítimas de um sistema que os obriga a sustentar uma casta que os despreza, esse mesmo sistema promove, com empenho, o empobrecimento programado da população. Recentemente, fomos bombardeados com a notícia de que a próxima gestão federal não será capaz de cumprir com os repasses previstos para a saúde e a educação. Ou seja, o “viva o SUS” e a “pátria educadora” são apenas slogans de políticos e de uma elite falante que vende um discurso dissociado da realidade. E nesse emaranhado de promessas vazias, o brasileiro segue à mercê.
O Brasil que não é dos brasileiros
A campanha criada pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira — “O Brasil é dos brasileiros” — foi uma tentativa de contrapor o famoso boné vermelho de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, com o slogan Make America Great Again (MAGA). O slogan nacional — também estampado em bonés, mas na cor azul — buscava melhorar a imagem de um governo duramente reprovado pela população, que enfrenta dificuldades crescentes, como a inflação dos alimentos. O resultado foi um verdadeiro fiasco, que apenas confirmou o óbvio: o atual governo vive de discursos e promessas, enquanto as ações concretas para melhorar a vida do povo seguem distantes de suas prioridades.
Prova disso é a liberação recorrente de emendas parlamentares e verbas cada vez mais altas para a classe artística, ao mesmo tempo em que se cortam benefícios destinados à população mais vulnerável. Nesta semana, por exemplo, o presidente Lula liberou R$ 27,4 milhões para o Supremo Tribunal Federal. O montante, destinado à gestão e manutenção do Judiciário, é apenas mais um entre os muitos privilégios concedidos aos magistrados.
Para se ter uma ideia, o STF custa 39% mais do que a Família Real Britânica. Em 2024, seu orçamento chegou a R$ 897,6 milhões, enquanto os cofres públicos do Reino Unido destinaram o equivalente a R$ 645,1 milhões à monarquia no ano anterior. Além disso, alguns desembargadores chegaram a receber salários próximos de R$ 1 milhão em 2024 — um escárnio diante da realidade da maioria dos brasileiros.
Entre os muitos privilégios, destaca-se o uso de aviões da FAB. O ministro Alexandre de Moraes, por exemplo, viajou para assistir a um jogo de futebol utilizando essa estrutura. Já Luís Roberto Barroso, segundo diversos portais, é o recordista no uso desse benefício. Nesta semana, ele teria antecipado sua viagem para curtir um fim de semana em um hotel de luxo em Trancoso (BA). Com um salário base de R$ 46.366,19, deve mesmo ser difícil fretar voos comerciais como qualquer cidadão.
E não podemos esquecer os políticos — aqueles que elegemos para representar nossos interesses, mas que trabalham apenas para si mesmos. Além dos altos salários e benefícios acumulados, essa casta ainda conta com as emendas parlamentares: apenas em dezembro de 2024, cerca de R$ 8,3 bilhões foram destinados a essa modalidade. Esses valores, que deveriam atender às necessidades da população, acabam frequentemente sendo usados de forma questionável. Um exemplo emblemático é o do senador Alexandre Giordano (MDB-SP), que destinou R$ 3 milhões para uma obra em uma estrada que leva a um hotel de sua propriedade. Outro político, no caso, um ministro do governo, Juscelino Filho das Comunicações, destinou, para pavimentar também uma estrada que leva a uma propriedade sua e de sua família, cerca de R$7,5 milhões em emendas parlamentares. Muitos outros escândalos envolvendo cifras milionárias e políticos são noticiados dia após dia.
A arte de enganar
Há ainda outra casta de privilegiados: os artistas. Muitos dos que, durante a gestão passada, protagonizaram mobilizações e protestos contra o suposto desmatamento da Amazônia, hoje permanecem em silêncio — e vale lembrar que, neste exato momento, a floresta amazônica continua em chamas, embora esse seja assunto para outro texto. Sigamos. Atores, cantores e influenciadores que antes se diziam defensores da democracia e da justiça social parecem ter perdido a voz diante dos escândalos que envolvem o atual governo: mortes entre os Yanomamis, avanço do desmatamento, aumento da criminalidade, falas abertamente machistas do presidente Lula… Nada mais parece ser digno de manifestação. Talvez os constantes incentivos oferecidos pelo governo, por meio da Lei Rouanet, tornaram-os subservientes.
Somente em 2024, a Lei Rouanet bateu recorde de captação: R$ 3 bilhões. A atriz Cláudia Raia, por exemplo, foi autorizada a captar R$ 5 milhões para a produção de uma peça intitulada Os Musicais. Em outras palavras, esse volume expressivo de recursos públicos, destinado a projetos culturais, serve para alimentar uma elite artística que hoje se mantém em silêncio ensurdecedor. Enquanto isso, ao trabalhador comum, o único plano concreto do governo Lula III é o aumento de impostos e o corte de benefícios sociais.
Caminhoneiros: a engrenagem esquecida
Nesse cenário de privilégios concentrados no topo, um dos setores mais negligenciados pelo poder público é o dos caminhoneiros. Responsáveis por movimentar a maior parte da carga no território nacional, eles enfrentam péssimas condições de trabalho, estradas esburacadas, postos sem infraestrutura mínima e ausência de políticas públicas que valorizem a categoria. Mesmo sendo essenciais para manter o abastecimento do país, os caminhoneiros continuam sendo tratados como invisíveis.
Enquanto bilhões são destinados a shows e emendas parlamentares duvidosas, falta investimento na malha rodoviária nacional, nos pontos de apoio aos motoristas e em políticas de crédito e manutenção para caminhões. A classe, que carrega o país nas costas e está cada vez mais endividada com o custo do diesel e a falta de reajuste no frete, segue sendo ignorada por governos que, ironicamente, dizem representar o “Brasil dos brasileiros”.