Na série “Mesmo nome, dois mundos diferentes”, o destaque da vez é o Mercedes-Benz Atego — caminhão que, embora compartilhe o mesmo nome em mercados distintos, representa soluções logísticas muito diferentes conforme o continente onde opera. Esta reportagem mostra como a tropicalização transforma profundamente esse veículo no Brasil, moldando sua construção, motorização e equipamentos para atender a um ambiente operacional extremamente exigente. Na Europa, por outro lado, a modelo aposta na sofisticação tecnológica e em avançados sistemas de segurança.
Atego no Brasil: robustez, simplicidade e adaptação ao terreno
No mercado brasileiro, o Atego é sinônimo de resistência e funcionalidade. A linha começa pelo modelo médio 1419, voltado para distribuição urbana, equipado com motor OM 924 de 4 cilindros, 4,8 litros e 185 cv. Já os modelos mais robustos, como o Atego 3133 8×4, utilizam o motor OM 926 de 286 cv e oferecem capacidade máxima de tração de até 45.100 kg, atendendo com eficiência aplicações severas na construção civil e no agronegócio.
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Ao todo, a família Atego no Brasil conta com mais de 20 versões, desenvolvidas para lidar com condições adversas como topografia acidentada, pavimentação irregular e infraestrutura logística limitada. A estratégia de “tropicalização” inclui ajustes na suspensão, reforços estruturais, rodas maiores, calibração de motor e simplicidade nos sistemas eletrônicos — tudo para garantir durabilidade, fácil manutenção e disponibilidade mecânica.
Atego na Europa: logística leve, tecnologia e segurança de série

Na Europa, o Mercedes-Benz Atego ocupa uma posição de caminhão leve a médio, posição ocupada no Brasil pelo Accelo. A PBT do Atego europeu começa 6,5 toneladas e vai até 15 toneladas. A partir deste peso e configurações com três ou quatros eixos, as opções passam para as linhas Actros, no uso pavimentado, e Arocs, no uso fora de estrada ou operações mais severas, como construção civil.
O Atego do Velho Continente conta o motor OM 934 de 4 cilindros e 5,1 litros, que oferece potências entre 156 cv e 231 cv. Há ainda versões mais potentes com motor de 7,7 litros, chegando a 299 cv.
Diferentemente do modelo nacional, o Atego europeu adota como padrão o câmbio automatizado PowerShift Advanced (opcional no modelo brasileiro) e uma extensa gama de sistemas de assistência ao motorista. Isso inclui recursos como o Active Brake Assist 6 (frenagem autônoma de emergência), o Active Sideguard Assist 2 (monitoramento de ponto cego em conversões e mudanças de faixa), e o Front Guard Assist (detecção de obstáculos à frente do veículo durante manobras).
Substituto do Axor no Brasil: um Atego “anabolizado”

Diante da ausência do Axor em novas gerações no Brasil, a Mercedes-Benz lançou versões do Atego com capacidade ampliada, apelidadas de “Atego anabolizados”. Essa solução visa oferecer uma alternativa mais acessível ao Arocs — modelo premium, com foco no fora de estrada pesado. Contudo, há críticas importantes, sobretudo por parte de operadores do setor florestal: relatam exposição excessiva de cabos e mangueiras sob o chassi, além da menor altura dos ângulos de ataque.
Enquanto na Europa o Arocs substituiu naturalmente o Axor e é amplamente adotado nas aplicações de construção, no Brasil sua presença permanece restrita a operações mais específicas e de maior valor agregado, como mineração e obras de infraestrutura pesada.
Atego 4×4: disponível lá, mas não aqui
Um ponto de diferenciação importante é a oferta, na Europa, de versões do Atego com tração integral 4×4, algo que poderia ser bastante útil para operações de distribuição urbana em áreas de difícil acesso no Brasil, especialmente em regiões com terrenos acidentados ou em períodos de chuvas intensas. Atualmente, entre as montadoras atuantes no Brasil, apenas a Volkswagen oferece um caminhão médio com tração 4×4 — o Delivery 11.180.
Cabines: ergonomia com sotaques diferentes
Tanto no Brasil quanto na Europa, o Atego oferece uma gama variada de cabines. No mercado europeu, estão disponíveis quatro opções principais:
- S ClassicSpace (convencional, teto baixo)
- S ClassicSpace Estendida
- L ClassicSpace (cabine leito com teto baixo)
- L BigSpace (cabine leito com teto alto)
No Brasil, as nomenclaturas podem variar, mas a gama é semelhante. As dimensões, contudo, apresentam pequenas diferenças: as cabines nacionais são ligeiramente mais largas e compridas, adequando-se melhor à realidade operacional brasileira e ao perfil dos motoristas, que frequentemente permanecem longos períodos a bordo.
Segurança: avanço gradual no Brasil, excelência na Europa
A nova geração Euro 6 do Atego brasileiro finalmente incorporou importantes sistemas de segurança, muitos deles exigidos por legislação a partir de 2023. Entre os itens presentes estão:
- Freios ABS
- Controle de tração (ASR)
- Controle eletrônico de estabilidade (ESC)
- Distribuição eletrônica da frenagem (EBD)
- Luzes de frenagem de emergência (ESS)
- Assistente de partida em rampa (Hill Holder)
Esses recursos representam um salto em relação às gerações anteriores, embora o foco principal do modelo nacional ainda seja a simplicidade mecânica e a resistência ao uso intensivo. Já na Europa, esses itens são apenas a base de um pacote mais amplo, voltado à prevenção de acidentes e à assistência proativa ao condutor.
Conclusão:
O Mercedes-Benz Atego é um exemplo claro de como um mesmo nome pode representar veículos essencialmente distintos quando moldados pelas necessidades e realidades de seus mercados. No Brasil, é símbolo de simplicidade e custo operacional controlado. Na Europa, é a expressão de tecnologia e conforto. Essa dualidade reflete não apenas estratégias de engenharia, mas também as profundas diferenças estruturais e logísticas entre os dois continentes.