Enquanto o mercado brasileiro de caminhões apresenta leve crescimento na produção geral, um segmento em especial acende o sinal de alerta: os caminhões pesados. De janeiro a maio deste ano, a produção total de caminhões cresceu 5,6% em relação ao mesmo período de 2024, com 55 mil unidades fabricadas. Mas, no caminho inverso, os pesados registraram queda de 10,6%, somando apenas 28,3 mil unidades.
A retração tem implicações diretas no desempenho geral da indústria, uma vez que os pesados historicamente representam mais de 50% das vendas do setor — mas agora respondem por apenas 40% do mercado, segundo Marco Saltini, vice-presidente da Anfavea. “Precisamos olhar com atenção para o mercado de pesados e para esta tendência de queda. O fato de a produção ter caído 11% é um fator preocupante, uma vez que a demanda está diretamente ligada ao PIB”, alertou.
Juros e crédito restrito travam demanda
Saltini atribui a desaceleração à combinação de crédito escasso e juros elevados. “Mesmo com a safra recorde, os transportadores estão em compasso de espera e não estão renovando suas frotas, esperando um recuo da taxa de juros”, explicou. A inadimplência elevada também tem reduzido a disposição dos bancos em conceder crédito, o que agrava ainda mais o cenário.
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A situação é refletida nos números de emplacamentos. Nos primeiros cinco meses do ano, foram licenciados 46,3 mil caminhões, uma queda de 1,1% em relação ao mesmo período de 2024. Desse total, 21,2 mil foram caminhões pesados, o que representa uma queda expressiva de 14,1%.
Médios e leves sustentam o setor
Apesar da queda entre os pesados, o desempenho dos segmentos médios, leves e semileves ajudou a sustentar o setor. Os caminhões médios registraram crescimento de 16,8%, os leves subiram 18,1% e os semileves cresceram 16,5% em emplacamentos no acumulado de janeiro a maio. Esse movimento reforça a percepção de que o transporte urbano e de entregas de menor volume tem reagido melhor às condições econômicas atuais.
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No ranking por marcas, a Mercedes-Benz manteve a liderança nos emplacamentos com 11,2 mil unidades, seguida pela Volkswagen Caminhões e Ônibus (8,9 mil), Volvo (7,7 mil) e Scania (6,1 mil). No segmento de pesados, porém, a Volvo ficou à frente com 7,1 mil unidades, seguida por Scania (5,7 mil), Mercedes-Benz (4,7 mil) e VWCO (3,2 mil).
Produção cresce em maio, mas cenário é incerto
Em maio, a indústria teve um alívio: a produção mensal foi de 12,3 mil caminhões, alta de 10,3% na comparação com maio de 2024 e de 11,9% sobre abril. Já os emplacamentos somaram 9,2 mil unidades, retração de 4% em relação a maio do ano passado e de 2% sobre abril. O setor teme que o aumento recente do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), caso não seja revertido, possa impactar ainda mais a demanda nos próximos meses.
Exportações em forte alta
Na contramão do mercado interno, as exportações de caminhões de janeiro a maio somaram 10,9 mil unidades — crescimento expressivo de 88,3% em relação aos mesmos meses de 2024. Só em maio, foram embarcadas 2,8 mil unidades, avanço de 119,8% sobre o mesmo mês do ano anterior e alta de 32,2% frente a abril.
Países da América do Sul, especialmente Chile, México, Peru e Uruguai, foram os principais destinos. O desempenho nas exportações tem sido uma válvula de escape importante para as montadoras instaladas no Brasil.
Expectativa para o segundo semestre
Saltini lembra que tradicionalmente o segundo semestre costuma trazer aquecimento nas vendas de veículos comerciais, especialmente por causa do agronegócio e das entregas no fim do ano. No entanto, o cenário atual exige cautela. “Há uma preocupação real com o mercado de pesados. Esperamos que o governo reveja a questão do IOF e que haja alguma sinalização de queda nas taxas de juros, o que poderia reaquecer o setor ainda em 2025”, concluiu.
A indústria, portanto, caminha em duas velocidades: enquanto os segmentos de menor porte e as exportações dão sinais positivos, o coração do transporte de cargas no Brasil — os caminhões pesados — enfrenta um momento de retração, com impacto direto sobre a cadeia logística e a economia como um todo.