sexta-feira, junho 20, 2025

Governo encarece crédito e derruba a produção de caminhões em maio

Enquanto o mercado brasileiro de caminhões apresenta leve crescimento na produção geral, um segmento em especial acende o sinal de alerta: os caminhões pesados. De janeiro a maio deste ano, a produção total de caminhões cresceu 5,6% em relação ao mesmo período de 2024, com 55 mil unidades fabricadas. Mas, no caminho inverso, os pesados registraram queda de 10,6%, somando apenas 28,3 mil unidades.

A retração tem implicações diretas no desempenho geral da indústria, uma vez que os pesados historicamente representam mais de 50% das vendas do setor — mas agora respondem por apenas 40% do mercado, segundo Marco Saltini, vice-presidente da Anfavea. “Precisamos olhar com atenção para o mercado de pesados e para esta tendência de queda. O fato de a produção ter caído 11% é um fator preocupante, uma vez que a demanda está diretamente ligada ao PIB”, alertou.

Juros e crédito restrito travam demanda

Saltini atribui a desaceleração à combinação de crédito escasso e juros elevados. “Mesmo com a safra recorde, os transportadores estão em compasso de espera e não estão renovando suas frotas, esperando um recuo da taxa de juros”, explicou. A inadimplência elevada também tem reduzido a disposição dos bancos em conceder crédito, o que agrava ainda mais o cenário.

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A situação é refletida nos números de emplacamentos. Nos primeiros cinco meses do ano, foram licenciados 46,3 mil caminhões, uma queda de 1,1% em relação ao mesmo período de 2024. Desse total, 21,2 mil foram caminhões pesados, o que representa uma queda expressiva de 14,1%.

Médios e leves sustentam o setor

Apesar da queda entre os pesados, o desempenho dos segmentos médios, leves e semileves ajudou a sustentar o setor. Os caminhões médios registraram crescimento de 16,8%, os leves subiram 18,1% e os semileves cresceram 16,5% em emplacamentos no acumulado de janeiro a maio. Esse movimento reforça a percepção de que o transporte urbano e de entregas de menor volume tem reagido melhor às condições econômicas atuais.

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No ranking por marcas, a Mercedes-Benz manteve a liderança nos emplacamentos com 11,2 mil unidades, seguida pela Volkswagen Caminhões e Ônibus (8,9 mil), Volvo (7,7 mil) e Scania (6,1 mil). No segmento de pesados, porém, a Volvo ficou à frente com 7,1 mil unidades, seguida por Scania (5,7 mil), Mercedes-Benz (4,7 mil) e VWCO (3,2 mil).

Produção cresce em maio, mas cenário é incerto

Em maio, a indústria teve um alívio: a produção mensal foi de 12,3 mil caminhões, alta de 10,3% na comparação com maio de 2024 e de 11,9% sobre abril. Já os emplacamentos somaram 9,2 mil unidades, retração de 4% em relação a maio do ano passado e de 2% sobre abril. O setor teme que o aumento recente do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), caso não seja revertido, possa impactar ainda mais a demanda nos próximos meses.

Exportações em forte alta

Na contramão do mercado interno, as exportações de caminhões de janeiro a maio somaram 10,9 mil unidades — crescimento expressivo de 88,3% em relação aos mesmos meses de 2024. Só em maio, foram embarcadas 2,8 mil unidades, avanço de 119,8% sobre o mesmo mês do ano anterior e alta de 32,2% frente a abril.

Países da América do Sul, especialmente Chile, México, Peru e Uruguai, foram os principais destinos. O desempenho nas exportações tem sido uma válvula de escape importante para as montadoras instaladas no Brasil.

Expectativa para o segundo semestre

Saltini lembra que tradicionalmente o segundo semestre costuma trazer aquecimento nas vendas de veículos comerciais, especialmente por causa do agronegócio e das entregas no fim do ano. No entanto, o cenário atual exige cautela. “Há uma preocupação real com o mercado de pesados. Esperamos que o governo reveja a questão do IOF e que haja alguma sinalização de queda nas taxas de juros, o que poderia reaquecer o setor ainda em 2025”, concluiu.

A indústria, portanto, caminha em duas velocidades: enquanto os segmentos de menor porte e as exportações dão sinais positivos, o coração do transporte de cargas no Brasil — os caminhões pesados — enfrenta um momento de retração, com impacto direto sobre a cadeia logística e a economia como um todo.

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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