sábado, abril 26, 2025

Entrevista: Presidente da ANATC fala sobre os projetos para fortalecer o transporte de carga

Mesmo com os gestores públicos conscientes da importância do transporte entre centros produtores de bens, mais de 5.700 municípios e dezenas de mercados externos, o Brasil enfrenta uma série de desafios estruturais. Eles vão desde a precariedade da malha viária até a insegurança nas estradas e a constante instabilidade regulatória e econômica. À frente da Associação Nacional de Transporte de Cargas (ANATC), fundada em 2018, o presidente Elisandro Rodrigo Antunes tem buscado ampliar a representatividade do setor junto aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, defendendo maior diálogo institucional e ações coordenadas para enfrentar os gargalos que afetam diretamente a eficiência, a segurança e a sustentabilidade da atividade.

Em entrevista exclusiva, Antunes fala sobre os obstáculos cotidianos enfrentados pelas empresas transportadoras, a importância da união entre os agentes do setor, os avanços conquistados pela associação e os projetos para fortalecer ainda mais a atuação da ANATC como voz ativa nas decisões que moldam o futuro da logística nacional.

Os principais gargalos nas estradas brasileiras

Quais são os principais desafios enfrentados pelos transportadores de cargas rodoviárias no Brasil atualmente?
— São muitos os gargalos. Destaco alguns principais:
Infraestrutura rodoviária: Vivemos em um país continental, altamente dependente do transporte rodoviário, mas ainda carente de estradas com boa trafegabilidade. Em várias regiões, falta pavimentação, a manutenção preventiva é praticamente inexistente e a corretiva, muitas vezes, é feita de forma inadequada.
Segurança pública: A maior parte dos locais de descanso e pernoite é insalubre, e muitos trechos de rodovias são altamente vulneráveis a assaltos e outros tipos de violência.
Segurança jurídica, fiscal e tributária: A ausência de regras claras e as constantes mudanças criam um ambiente de alto risco, tornando o planejamento de longo prazo quase inviável.
Instabilidade econômica: Assim como em outros setores, a insegurança econômica — com variações em juros, câmbio, entre outros — impede que as empresas tenham previsibilidade para programar ações futuras.

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Representatividade como motor de transformação

Como a ANATC tem contribuído para a melhoria das políticas desse modal no país?
— A associação tem como missão principal apresentar a realidade diária dos transportadores aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Ao dar voz aos associados para expor os desafios enfrentados nas estradas, a ANATC fornece subsídios para que as decisões desses três poderes estejam alinhadas com as necessidades reais do setor.

União como estratégia de fortalecimento

Qual é a importância da união dos transportadores de cargas para o desenvolvimento do setor?
— O transporte rodoviário abrange diversos segmentos dentro do mesmo setor. Por isso, é fundamental que existam políticas e estratégias bem direcionadas. A união, ao menos entre empresas do mesmo segmento, é essencial para que se conquistem avanços significativos. Acreditamos que o caminho é a cooperação e a organização coletiva.

Segurança nas estradas: uma prioridade urgente

Quais ações estão sendo tomadas pela associação para enfrentar os problemas de segurança no setor de transporte?
— Nossa principal frente de atuação nesse tema é a representação em Brasília, onde temos acesso direto aos diversos setores da segurança pública — como as Polícias Federal, Civil e Militar. Estamos em constante diálogo com essas instituições e também com o Judiciário, apresentando nossas dificuldades e mostrando a vulnerabilidade dos motoristas e veículos nas estradas. Ainda há muitos gargalos e uma segurança muito frágil, e queremos tornar isso visível às autoridades.

Sustentabilidade e associativismo caminhando juntos

Quais iniciativas a ANATC tem implementado para fortalecer a sustentabilidade no transporte de cargas?
— A simples existência de uma associação já é, por si só, um ato de fortalecimento e de busca pela sustentabilidade do setor. O associativismo cumpre esse papel, pois dá às empresas oportunidades de acesso a informações importantes — desde questões governamentais até temas empresariais de interesse coletivo. Reforçamos esse espírito de colaboração e construção conjunta como um dos nossos principais valores.

Participação ativa na criação de normas

Como a associação auxilia suas empresas associadas a se adaptarem às novas regulamentações do setor?
— A principal forma de atuação é participando desde o início da elaboração e do desenvolvimento das regulamentações. Isso evita que sejam criadas normas impossíveis de serem aplicadas na prática. Defendemos regulamentações eficazes, que ajudem a coibir desvios e que possam ser cumpridas com responsabilidade. Nossa presença nas discussões desde a origem das propostas é fundamental.

Agro e transporte: uma parceria que não tem fim

Qual é a visão da ANATC para o futuro do agronegócio brasileiro em relação ao transporte de cargas?
— O transporte rodoviário é essencial para todos os setores da economia, especialmente para o agronegócio, que é o grande motor da economia brasileira. Em um país continental como o nosso, é indispensável ter empresas de transporte fortes e sustentáveis para garantir o crescimento do agro. Essa interdependência entre transporte e produção agrícola é permanente — o ferroviário e o fluvial não chegam até as fazendas. Investir em infraestrutura, como estradas e portos, é melhorar todo o ecossistema.

Avanços e conquistas da ANATC

Quais são os maiores avanços que a associação conquistou desde sua fundação?
— Desde 2018, a ANATC tem feito um trabalho sério em defesa do mercado e de seus associados. Entre os avanços, destaco a participação na formulação de regulamentações, o apoio a instituições como o Instituto Brasil Logística (IBL) e nossa presença cada vez mais marcante no cenário nacional. Mas, acima de tudo, nosso maior feito tem sido promover a união dos associados — empresas que antes eram concorrentes e pouco se comunicavam hoje mantêm uma relação sólida e colaborativa dentro de um ambiente legal e organizado.

Mais diálogo entre entidades representativas

Em sua opinião, como a parceria entre os principais representantes do setor pode ser aprimorada?
— Assim como o nosso setor tem a ANATC, outros segmentos também têm suas associações, muitas delas até mais antigas e organizadas. Essa interdependência entre setores não vai acabar. Nenhum produto sai da indústria ou chega ao consumidor sem transporte. Somos elos de uma mesma corrente — se uma falha, tudo desanda. O aprimoramento dessas parcerias passa por diálogo, reconhecimento mútuo e presença ativa nas discussões. É preciso saber quais entidades representam cada setor, entender suas pautas e, principalmente, estar à mesa quando os assuntos estratégicos forem debatidos.

Expansão e voz mais ativa

Quais são os projetos futuros da ANATC para expandir sua atuação e impactar positivamente o setor de transporte?
— Nosso maior objetivo é ser cada vez mais a voz do transporte rodoviário de cargas junto aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, às agências reguladoras e à sociedade. Queremos expor nossas dores, mostrar o que fazemos de bom e escutar o que podemos melhorar em termos de representatividade. Com o tempo, acredito que vamos continuar nos fortalecendo e ampliando nosso impacto. Nosso compromisso é com um trabalho sério, técnico e ético, em prol de todo o setor.

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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