A Frota News reproduz, na íntegra, a entrevista concedida por Márcio Querichelli, presidente da IVECO para a América Latina, à IRU (International Road Transport Union – União Internacional dos Transportes Rodoviários). Na conversa, ele detalha os objetivos, resultados e próximos passos do programa Caminhos para Elas, que vem transformando a realidade de mulheres no setor de transporte de cargas no Brasil. Confira:

Por que foi criado o Caminhos para Elas?
O Caminhos para Elas tem como objetivo promover a equidade de gênero no setor de transporte rodoviário. Muitas mulheres com carteira de habilitação enfrentam obstáculos como a falta de oportunidades e a exigência de experiência prévia, o que dificulta o acesso ao primeiro emprego como motoristas de caminhão.
Com essa iniciativa, a IVECO está abrindo portas, oferecendo treinamento e criando oportunidades reais para que mais mulheres possam assumir o controle de seu futuro profissional no setor de transportes.
O programa também ajuda a enfrentar um dos principais desafios da área: a escassez de motoristas no Brasil. Ao incentivar a participação feminina, contribuímos para suprir essa demanda com profissionais qualificadas e dedicadas.
O Caminhos para Elas é mais do que um programa — é um movimento da IVECO para transformar o transporte em um espaço mais inclusivo, diverso e acessível.
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Como o programa funciona?
O projeto foi lançado em 2024, em parceria com o SEST SENAT, instituição dedicada à formação de profissionais do setor de transportes. Juntos, desenvolvemos um curso especializado para mulheres.
Reconhecemos que, além dos desafios da profissão, as mulheres enfrentam barreiras adicionais. Por isso, o curso foi adaptado para incluir o desenvolvimento de habilidades essenciais, como autoconfiança e empoderamento. As turmas são exclusivas para mulheres, promovendo um ambiente de apoio e aprendizado colaborativo.
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As participantes também têm a oportunidade de aprender com uma caminhoneira experiente, que compartilha informações e conselhos práticos sobre como superar os desafios da estrada.
Elas ainda recebem treinamento prático com o caminhão IVECO S-Way, o que proporciona experiência real e as prepara melhor para o mercado de trabalho.
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Como é medido o impacto do programa?
Um dos principais indicadores é o percentual de participantes que conseguiram emprego após o curso. Outro dado importante é a taxa de participação em eventos e painéis sobre equidade de gênero no setor de transportes.
Em 2025, passamos a acompanhar também o envio de currículos por meio da Vitrine para Elas, uma plataforma online que funciona como um banco de currículos. As participantes podem criar um perfil profissional via LinkedIn — ferramenta amplamente utilizada por empresas de transporte —, conectando o programa diretamente ao mercado de trabalho.
Quais os resultados até agora?
Durante o primeiro ano, em 2024, 60% das mulheres treinadas conseguiram emprego. Eventos foram realizados em São Paulo, Contagem e Curitiba, reunindo cerca de 200 participantes para debater igualdade de gênero e incentivar empresas a contratar e reter motoristas mulheres.
Além disso, empresas que contrataram motoristas do sexo feminino relataram benefícios como maior eficiência de combustível, menor necessidade de manutenção e redução de infrações de trânsito.
Uma das participantes, Cíntia Rocha, caminhoneira de Contagem, viu no programa a chance de crescer na carreira e se tornar exemplo para outras mulheres. Ela destacou o valor do treinamento e seu impacto positivo em sua trajetória. Sentir-se motivada e saber que não está sozinha é essencial para o desenvolvimento das profissionais do setor.
Como as caminhoneiras são percebidas no Brasil?
O ambiente ainda é majoritariamente masculino. Fatores culturais e estruturais contribuem para essa realidade: a profissão foi historicamente dominada por homens, e ainda há falta de banheiros femininos, áreas de descanso adequadas e turnos flexíveis — especialmente importantes para mães. Essas barreiras dificultam o ingresso e a permanência das mulheres na profissão.
O Caminhos para Elas visa não apenas criar oportunidades, mas também transformar a indústria e sensibilizar o setor sobre os desafios de contratar e manter mulheres em suas equipes.
Em 2024, organizamos três painéis de equidade de gênero com transportadoras, clientes, fornecedores, sindicatos e associações. Também lançamos um blog para compartilhar estudos de caso sobre diversidade, equidade e inclusão no setor de transportes, com o objetivo de inspirar mudanças reais.
Quais os principais obstáculos para as mulheres que querem ser caminhoneiras?
As aspirantes a caminhoneira enfrentam desafios como:
- Aspectos culturais: o setor ainda é dominado por homens. Muitas mulheres enfrentam ceticismo e preconceito ao buscar oportunidades.
- Infraestrutura rodoviária inadequada: faltam pontos de apoio seguros, com banheiros e áreas de descanso apropriadas para mulheres.
- Conciliar vida profissional e pessoal: as rotas longas são uma barreira, sobretudo para mulheres com responsabilidades familiares.
- Pouca representatividade e apoio: a ausência de outras mulheres no setor e a falta de redes de apoio tornam a jornada ainda mais desafiadora.
Quem são os parceiros do programa?
Nossos parceiros desempenham papel essencial na promoção da diversidade e inclusão no setor. O apoio deles é fundamental para o avanço de políticas públicas que enfrentem os obstáculos enfrentados pelas mulheres.
Hoje, contamos com o apoio do Conselho Nacional de Transportes e de outras organizações que estão conectando ativamente as mulheres a oportunidades de trabalho.
Nossa rede de concessionárias, clientes e fornecedores também tem papel central. Eles estão adotando políticas mais inclusivas e revisando seus processos de contratação para abrir mais portas para as mulheres. É um passo importante!
A IVECO tem programas semelhantes em outros países?
Sim. Em Córdoba, na Argentina, há um projeto que visa promover a inclusão e diversidade no transporte, com mulheres dirigindo ônibus urbanos. A formação é realizada pela IVECO Academy, nosso centro de capacitação na América Latina.
Já o Caminhos para Elas está entrando em sua segunda edição no Brasil, com mais força e experiência. A intenção é expandir o modelo para a Argentina, adaptando o sucesso local a outros contextos regionais.
O Frota News, que mantém um compromisso contínuo com a visibilidade e valorização das mulheres no setor de transporte, reconhece iniciativas como a da IVECO como fundamentais para acelerar a equidade de gênero em um dos setores mais estratégicos do país.