A Scania já comercializa o novo caminhão off-road G 460 6×4 XT a gás, que ganha vários reforços para atuar no fora de estrada, com preço estimado em R$ 1.300.000. O modelo G 460 6×4 XT a diesel tem preço médio de R$ 1.174.000, e o modelo rodoviário G 460 6×2, valor médio de R$ 1.202.000, segundo a Fipe.
A novidade marca a estreia do primeiro modelo off-road a gás natural ou biometano voltado a aplicações severas como o transporte de cana-de-açúcar e madeira.
Com motor de 460 cv e torque de 2.300 Nm, o modelo compartilha a mecânica dos rodoviários a gás da marca, mas diferencia-se pela cabine G da linha XT, projetada especialmente para ambientes off-road. A estrutura reforçada inclui grade dianteira preta, para-choque de aço avançado com maior ângulo de ataque, suspensão elevada e eixos preparados para encarar terrenos acidentados.
Leia também:
Solurb avança na descarbonização da frota com uso do gerador de hidrogênio no MS
Apoie e patrocine a seção Frota Sustentável

A capacidade é de PBT de 35 toneladas, com eixo traseiro RBP835 de tração máxima de 150 toneladas, e quinta roda reforçada para suportar operações severas. A autonomia pode chegar a 650 km com o “mochilão” — conjunto adicional de cilindros de gás instalados atrás da cabine. Segundo a Scania, uma versão com esse sistema feita em série está em desenvolvimento, com foco no setor florestal, que, geralmente, precisa de maior autonomia.
Gás e biometano ganham força com apoio do BNDES
O lançamento do G 460 XT a gás chega em um momento estratégico: o governo federal ampliou o acesso a financiamentos para veículos movidos a combustíveis limpos. O Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Fundo Clima), via BNDES, passou a oferecer crédito para compra de caminhões a gás e para conversões de motores a diesel.
Na realidade, não é realizada uma conversão e, sim, a substituição completa do motor e sistema de abastecimento diesel pelo a gás, também conhecida como retrofit. No Brasil, por enquanto, a MWM é a única fabricante de motores a oferecer esta solução e limitada a 330 cv. Algumas empresas, como Cocal e SADA já contam com caminhões que passaram por retrofit.
Além de facilitar a aquisição de novos modelos, o BNDES liberou R$ 130 milhões para projetos de produção de biometano, como o Projeto Gás Verde, o que deve acelerar a transição energética no setor de transportes. Segundo Renata Isfer, presidente da Associação Brasileira do Biogás e Biometano (ABiogás), 53% das emissões de transporte vêm de veículos pesados, que representam apenas 6% da frota. “O impacto ambiental de migrar esse segmento é imenso”, destaca.
A Scania, pioneira nos caminhões a gás no Brasil, já ultrapassou 1.600 unidades vendidas desde 2019, e pretende comercializar mais 1.000 unidades até o fim de 2025. “Mais de 5% da nossa produção atual já é composta por modelos a gás”, afirma André Gentil, gerente de vendas da marca.
Financiamento e incentivos impulsionam mercado
Com novas opções de crédito, como o CDC Verde do Scania Banco, a tecnologia se torna mais viável também do ponto de vista financeiro. A linha oferece taxas de juros menores e prazos estendidos. “A economia em operações de grande porte pode chegar a R$ 200 mil”, diz Gentil.
Além disso, estados como São Paulo e Goiás, oferecem isenção de IPVA até 2029 para veículos a gás, o que representa um alívio adicional entre R$ 70 mil e R$ 80 mil por caminhão nesse período.
A infraestrutura de abastecimento também avança. Corredores azuis permitem que caminhões como o G 460 XT saiam abastecidos com GNV e completem o trajeto com biometano. Postos preparados já operam em Cuiabá (MT), Campo Grande (MS) e cidades do interior paulista.
Produção nacional e novos concorrentes

Iveco S-Way a gásO cenário positivo tem motivado outras fabricantes. A Iveco aposta no S-Way CNG 460 e no Tector CNG, este último voltado a operações urbanas. A montadora iniciou a produção de um lote de 100 caminhões a gás, com 30 unidades entregues ainda este ano. A Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) também apresentou, na Fenatran 2024, o Constellation 26.280 a biometano, voltado à coleta de resíduos sólidos.
Biometano avança como protagonista da transição energética
Produzido a partir da decomposição de resíduos orgânicos, o biometano é uma alternativa renovável ao gás natural. No Rio Grande do Sul, a CRVR vai inaugurar em julho uma planta com capacidade de até 60 mil m³/dia em Minas do Leão. Uma segunda usina, em São Leopoldo, deve iniciar operações em 2026. Os investimentos somam R$ 250 milhões.
Minas Gerais também aposta na tecnologia. A Gasmig abriu chamada pública para aquisição de biometano voltado ao Triângulo Mineiro, com foco em fomentar redes locais de distribuição. “A meta é impulsionar o desenvolvimento econômico e a transição energética da região”, afirma o presidente da companhia, Carlos Camargo de Colón.
Combustível do Futuro e RenovaBio preparam o caminho
A regulamentação do programa Combustível do Futuro, prevista para o fim de 2025, e as metas obrigatórias do RenovaBio, a partir de 2026, devem consolidar o papel do biometano como principal alternativa sustentável para o transporte de cargas no Brasil.
O estudo “Perspectivas para o Biogás e o Biometano”, da Agência Internacional de Energia (AIE), aponta Brasil, China e Índia como os países com maior potencial de crescimento sustentável nesse setor. Com uma política pública articulada e crescente adesão de fabricantes e transportadores, o Brasil dá sinais claros de que pode se tornar líder global na descarbonização do transporte pesado.