sexta-feira, junho 20, 2025

Caminhão off-road a gás da Scania mira agro e ganha impulso com o Fundo Clima

A Scania já comercializa o novo caminhão off-road G 460 6×4 XT a gás, que ganha vários reforços para atuar no fora de estrada, com preço estimado em R$ 1.300.000. O modelo G 460 6×4 XT a diesel tem preço médio de R$ 1.174.000, e o modelo rodoviário G 460 6×2, valor médio de R$ 1.202.000, segundo a Fipe. 

A novidade marca a estreia do primeiro modelo off-road a gás natural ou biometano voltado a aplicações severas como o transporte de cana-de-açúcar e madeira. 

Com motor de 460 cv e torque de 2.300 Nm, o modelo compartilha a mecânica dos rodoviários a gás da marca, mas diferencia-se pela cabine G da linha XT, projetada especialmente para ambientes off-road. A estrutura reforçada inclui grade dianteira preta, para-choque de aço avançado com maior ângulo de ataque, suspensão elevada e eixos preparados para encarar terrenos acidentados. 

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A capacidade é de PBT de 35 toneladas, com eixo traseiro RBP835 de tração máxima de 150 toneladas, e quinta roda reforçada para suportar operações severas. A autonomia pode chegar a 650 km com o “mochilão” — conjunto adicional de cilindros de gás instalados atrás da cabine. Segundo a Scania, uma versão com esse sistema feita em série está em desenvolvimento, com foco no setor florestal, que, geralmente, precisa de maior autonomia.  

Gás e biometano ganham força com apoio do BNDES 

O lançamento do G 460 XT a gás chega em um momento estratégico: o governo federal ampliou o acesso a financiamentos para veículos movidos a combustíveis limpos. O Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Fundo Clima), via BNDES, passou a oferecer crédito para compra de caminhões a gás e para conversões de motores a diesel.  

Na realidade, não é realizada uma conversão e, sim, a substituição completa do motor e sistema de abastecimento diesel pelo a gás, também conhecida como retrofit. No Brasil, por enquanto, a MWM é a única fabricante de motores a oferecer esta solução e limitada a 330 cv. Algumas empresas, como Cocal e SADA já contam com caminhões que passaram por retrofit.  

Além de facilitar a aquisição de novos modelos, o BNDES liberou R$ 130 milhões para projetos de produção de biometano, como o Projeto Gás Verde, o que deve acelerar a transição energética no setor de transportes. Segundo Renata Isfer, presidente da Associação Brasileira do Biogás e Biometano (ABiogás), 53% das emissões de transporte vêm de veículos pesados, que representam apenas 6% da frota. “O impacto ambiental de migrar esse segmento é imenso”, destaca. 

A Scania, pioneira nos caminhões a gás no Brasil, já ultrapassou 1.600 unidades vendidas desde 2019, e pretende comercializar mais 1.000 unidades até o fim de 2025. “Mais de 5% da nossa produção atual já é composta por modelos a gás”, afirma André Gentil, gerente de vendas da marca. 

Financiamento e incentivos impulsionam mercado

Com novas opções de crédito, como o CDC Verde do Scania Banco, a tecnologia se torna mais viável também do ponto de vista financeiro. A linha oferece taxas de juros menores e prazos estendidos. “A economia em operações de grande porte pode chegar a R$ 200 mil”, diz Gentil. 

Além disso, estados como São Paulo e Goiás, oferecem isenção de IPVA até 2029 para veículos a gás, o que representa um alívio adicional entre R$ 70 mil e R$ 80 mil por caminhão nesse período. 

A infraestrutura de abastecimento também avança. Corredores azuis permitem que caminhões como o G 460 XT saiam abastecidos com GNV e completem o trajeto com biometano. Postos preparados já operam em Cuiabá (MT), Campo Grande (MS) e cidades do interior paulista. 

Produção nacional e novos concorrentes

caminhão off-road
Iveco S-Way a gás

Iveco S-Way a gásO cenário positivo tem motivado outras fabricantes. A Iveco aposta no S-Way CNG 460 e no Tector CNG, este último voltado a operações urbanas. A montadora iniciou a produção de um lote de 100 caminhões a gás, com 30 unidades entregues ainda este ano. A Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) também apresentou, na Fenatran 2024, o Constellation 26.280 a biometano, voltado à coleta de resíduos sólidos. 

Biometano avança como protagonista da transição energética

Produzido a partir da decomposição de resíduos orgânicos, o biometano é uma alternativa renovável ao gás natural. No Rio Grande do Sul, a CRVR vai inaugurar em julho uma planta com capacidade de até 60 mil m³/dia em Minas do Leão. Uma segunda usina, em São Leopoldo, deve iniciar operações em 2026. Os investimentos somam R$ 250 milhões. 

Minas Gerais também aposta na tecnologia. A Gasmig abriu chamada pública para aquisição de biometano voltado ao Triângulo Mineiro, com foco em fomentar redes locais de distribuição. “A meta é impulsionar o desenvolvimento econômico e a transição energética da região”, afirma o presidente da companhia, Carlos Camargo de Colón. 

Combustível do Futuro e RenovaBio preparam o caminho

A regulamentação do programa Combustível do Futuro, prevista para o fim de 2025, e as metas obrigatórias do RenovaBio, a partir de 2026, devem consolidar o papel do biometano como principal alternativa sustentável para o transporte de cargas no Brasil. 

O estudo “Perspectivas para o Biogás e o Biometano”, da Agência Internacional de Energia (AIE), aponta Brasil, China e Índia como os países com maior potencial de crescimento sustentável nesse setor. Com uma política pública articulada e crescente adesão de fabricantes e transportadores, o Brasil dá sinais claros de que pode se tornar líder global na descarbonização do transporte pesado. 

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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