O Mato Grosso do Sul vive um momento de transformação econômica impulsionado pela força dos biocombustíveis. A agroindústria voltada à produção de energia renovável tem sido responsável por alavancar o desenvolvimento do estado, com reflexos diretos no crescimento do PIB, na geração de empregos e na competitividade nacional e internacional do setor.
Em 2025, a economia sul-mato-grossense deve crescer 4,8%, segundo estimativas do governo estadual — um desempenho expressivo que supera em 2,8 pontos percentuais a previsão de crescimento do PIB brasileiro. Esse avanço é liderado, em grande parte, pelo segmento de bioenergia, que já representa 17% do Produto Interno Bruto estadual.
De acordo com a Biosul (Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul), o estado alcançou uma produção histórica de 4,2 bilhões de litros de etanol na safra 2024/2025, consolidando-se como o quarto maior produtor do país. A meta é ambiciosa: ser o segundo maior produtor até 2027, ficando atrás apenas de São Paulo. Para 2034, o objetivo é ainda mais ousado — alcançar 48,5 bilhões de litros de biocombustíveis, ante os 35 bilhões produzidos em 2024.
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Crescimento em todas as frentes
O avanço da bioenergia no estado não se restringe ao etanol. Em 2024, a produção de biodiesel foi de 9,4 bilhões de litros, com meta de chegar a 14,3 bilhões até 2034. A produção de diesel verde (HVO) ainda é inexistente, mas há expectativa de alcançar 13,6 bilhões de litros em dez anos. Já o SAF (combustível sustentável para aviação) teve início com 0,9 bilhão de litros, mirando 6,5 bilhões em 2034.
Outro destaque é o biometano, que teve produção de 1,8 bilhão de Nm³ em 2024, e deve atingir 3,3 bilhões de Nm³ até 2034. O etanol de milho, alternativa crescente no portfólio energético do estado, somou 7,3 bilhões de litros em 2024, com projeção de quase dobrar — chegando a 14,3 bilhões de litros — na próxima década.
Desafio: falta de mão de obra
Apesar do otimismo com os números, a rápida expansão do setor traz consigo um grande desafio: a escassez de mão de obra. Segundo empresas do ramo, setores como o de transporte já enfrentam dificuldade para encontrar trabalhadores qualificados. Isso ocorre porque a velocidade de crescimento da agroindústria de biocombustíveis supera a capacidade atual de formação e alocação de profissionais.
Hoje, o setor emprega cerca de 30 mil pessoas diretamente no estado e conta com 22 usinas de bioenergia em operação. A expectativa é que esse número aumente com os investimentos programados para os próximos anos.
Protagonismo global
O destaque de Mato Grosso do Sul reflete um cenário global de crescimento dos biocombustíveis. Segundo a Agência Internacional de Energia (EIA, na sigla em inglês), o setor movimentou US$ 320 bilhões em 2023, o equivalente a aproximadamente R$ 1,6 trilhão, considerando a cotação média do dólar. Esse volume contribuiu com 10% da expansão do PIB mundial e foi responsável pela criação de mais de 2,8 milhões de novos postos de trabalho no planeta.
Nesse contexto, o Brasil — e especialmente o Mato Grosso do Sul — tem papel de liderança, combinando recursos naturais abundantes, políticas públicas de incentivo e uma cadeia produtiva altamente tecnificada.
Perspectivas
Com metas bem definidas, capacidade produtiva crescente e forte apelo sustentável, o Mato Grosso do Sul se posiciona como um polo estratégico na transição energética brasileira. A consolidação do estado como referência nacional em biocombustíveis depende agora da superação de gargalos na qualificação de mão de obra e de investimentos em logística, pesquisa e inovação. A corrida já começou — e o estado quer chegar na frente.