A Pesquisa CNT de Rodovias 2025, que completa 30 anos como principal diagnóstico da infraestrutura viária brasileira, revela uma melhora no Estado Geral das rodovias do país, custo elevado e deficiências que persistem.
O levantamento, financiado pelo SEST SENAT e realizado desde 1995, avaliou 114.197 quilômetros de vias pavimentadas e mostra que os investimentos recentes começam a refletir positivamente na qualidade das estradas.
Segundo a CNT, 37,9% da malha analisada passou a ser classificada como Ótima ou Boa em 2025, ante 33,0% em 2024. Em termos práticos, são quase 6,5 mil quilômetros a mais em melhores condições de trafegabilidade. Ao mesmo tempo, os trechos Ruins ou Péssimos recuaram de 26,6% para 19,1%, reduzindo gargalos operacionais que historicamente elevam custos e aumentam o risco de atrasos e avarias no transporte de cargas.
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Para o setor logístico, os números indicam um cenário de leve alívio, mas ainda distante do ideal. A categoria Regular segue predominante, respondendo por 43,0% da extensão avaliada, o que significa que grande parte das rotas estratégicas do país continua exigindo atenção redobrada das transportadoras no planejamento de viagens, consumo de combustível e manutenção da frota.
Pavimento melhora, mas traçado segue como entrave logístico
A análise técnica da pesquisa considera pavimento, sinalização e geometria da via. O pavimento apresentou o melhor desempenho em 2025: 43,5% dos trechos foram classificados como Ótimos ou Bons. Ainda assim, quase 20% seguem em condição Ruim ou Péssima, afetando diretamente o consumo de diesel, o desgaste de pneus, suspensões e componentes mecânicos.
Já a geometria da via permanece como um dos principais entraves à produtividade logística. Apenas 37,8% dos trechos receberam classificação Ótima ou Boa, enquanto 33,9% foram considerados Ruins ou Péssimos. Problemas como ausência de acostamento, pistas simples predominantes, curvas perigosas e traçados inadequados reduzem a velocidade média operacional, ampliam o tempo de viagem e aumentam o risco de acidentes — fatores que pressionam prazos e custos do transporte rodoviário de cargas.

Concessões impulsionam qualidade e previsibilidade operacional
A Pesquisa CNT 2025 reforça a diferença de desempenho entre rodovias concedidas e aquelas sob gestão pública. Nas vias concedidas, os trechos classificados como Ruins despencaram 61,6% em um ano, passando de 1.609 km para apenas 618 km. Nas rodovias públicas, a redução também ocorreu, mas em ritmo menor: queda de 23,3%, de 21.630 km para 16.594 km.
Para operadores logísticos, esse dado é relevante porque rodovias concedidas tendem a oferecer maior previsibilidade operacional, com melhor padrão de manutenção, sinalização e atendimento ao usuário. Embora o custo do pedágio entre no cálculo do frete, a CNT avalia que a melhora da infraestrutura reduz perdas indiretas com consumo excessivo de combustível, quebras, acidentes e atrasos.
Infraestrutura ruim ainda encarece o frete no Brasil
Mesmo com os avanços, a CNT estima que a qualidade do pavimento eleva, em média, em 31,2% os custos operacionais do transporte rodoviário no Brasil. Nas rodovias públicas, onde 64,4% dos trechos apresentam algum problema no pavimento, o impacto médio chega a 35,8%. Já nas concedidas, o aumento médio é de 18,4% em relação a pavimentos classificados como Ótimos.
O efeito direto aparece no consumo de combustível. A má qualidade das rodovias gera um desperdício anual estimado em 1,2 bilhão de litros de diesel, o equivalente a R$ 7,2 bilhões por ano em custos adicionais para o setor de transporte. Esse valor, segundo a CNT, poderia ser direcionado para renovação de frota, adoção de tecnologias mais eficientes e investimentos em soluções de baixo carbono, como caminhões elétricos ou combustíveis renováveis.

Segurança viária também impacta a logística
Entre 2016 e julho de 2025, foram registrados 697.435 acidentes nas rodovias federais monitoradas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), com custo econômico acumulado estimado em R$ 149,67 bilhões. Além das perdas humanas, os acidentes geram impactos diretos na logística, como interrupções de tráfego, perda de cargas, aumento do valor do seguro e redução da confiabilidade das operações.
Em 2024, os acidentes consumiram R$ 16,79 bilhões da economia brasileira, valor superior ao total investido pelo governo federal em obras de infraestrutura rodoviária no mesmo período. Para a CNT, a comparação evidencia que investir em conservação e modernização das estradas é também uma estratégia de redução de custos logísticos sistêmicos.
Outro dado positivo para o setor é a redução dos pontos críticos mapeados pela pesquisa, que passaram de 2.446 em 2024 para 2.144 em 2025. A queda indica melhora na conservação das vias e tende a reduzir interrupções inesperadas, desvios forçados e riscos operacionais em rotas estratégicas de escoamento de cargas .
Planejamento de longo prazo é decisivo para a competitividade
Para a CNT, a continuidade da melhora depende de investimentos regulares, planejamento de longo prazo e maior uso de tecnologias como pavimentos mais duráveis e o BIM (Building Information Modeling). Essas soluções podem elevar a eficiência das obras, reduzir custos ao longo do ciclo de vida das rodovias e ampliar a competitividade logística do país.
Ao completar 30 anos, a Pesquisa CNT de Rodovias reforça que a infraestrutura viária continua sendo um dos principais determinantes do custo Brasil. Os avanços registrados em 2025 sinalizam uma retomada positiva, mas o desafio logístico permanece: transformar a melhora pontual em um padrão consistente de qualidade capaz de reduzir o custo do frete, aumentar a previsibilidade das operações e sustentar o crescimento econômico.


