sexta-feira, junho 20, 2025

Do metano ao hidrogênio: 40 anos em busca da energia do futuro

Um relato pessoal e técnico sobre o desenvolvimento e a aplicação de novas fontes de energia veicular no Brasil, com ênfase no uso do gás metano, etanol e, especialmente, do hidrogênio. A partir de experiências diretas em testes de veículos, parcerias com universidades e centros de pesquisa, o engenheiro Eustáquio Sirolli apresenta iniciativas pioneiras, aprendizados e propostas concretas para o avanço da mobilidade sustentável no país. Também são destacadas contribuições de pesquisadores, empresas e instituições que vêm atuando no desenvolvimento de tecnologias limpas voltadas ao transporte de cargas e passageiros. Confira:

O Brasil e suas oportunidades energéticas!

Por Eustáquio Sirolli*

Eustáquio Sirolli
Eustáquio Sirolli é engenheiro, com de mais de 48 anos de atuação na indústria automobilística. São 39 anos na Mercedes-Benz do Brasil, onde chegou ao cargo de gerente de Marketing do Produto e depois de Treinamento. Além de oito anos como diretor de Engenharia da Foton caminhões. Graduado em Engenharia de Produção e Automobilística pela FEI, fez MBA em Automotive Business pela FGV e mestrado em Ciência dos Materiais pelo IPEN/USP. Além disso, está focando no estudo sobre hidrogênio em aplicações veiculares

Faz bastante tempo que tenho a oportunidade de trabalhar com novas energias. Em 1984, a empresa para a qual eu trabalhava construiu um veículo a gás metano — precisamente um ônibus urbano — que foi cedido ao setor de motores da USP para rodar experimentalmente na universidade. Desse primeiro teste, seguiu-se a montagem de três veículos urbanos para rodarem pelo país, nos locais onde havia metano disponível.

Nesse contexto de experimentação com novas fontes de energia, foi realizada uma sequência de montagens de veículos para oferta ao mercado. No entanto, infelizmente, as vendas não aconteceram, e um lote expressivo ficou parado no pátio da montadora.

Essas informações compartilho “de memória”, sem intenção de um resgate cronológico preciso, mas sim como me recordo dos fatos.

Já em 2018, tive a oportunidade de trabalhar com quatro caminhões chineses que operavam com metano líquido (LCH₄), com combustão em ciclo Otto. E as surpresas foram positivas: boa performance, baixo ruído, freio-motor eficiente e consumo adequado às expectativas. Após um período de rodagem, o teste foi concluído e os resultados foram repassados ao cliente, para que este decidisse seguir ou não com o fornecedor dos caminhões.

Avanços acadêmicos

Durante essa fase de testes, foi possível estabelecer contato com o RCGI — Research Centre for Greenhouse Gas Innovation — da USP. O contato foi feito com a Professora Doutora Dominique Mouette, com o objetivo de entender os avanços acadêmicos em P&D&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) e verificar possíveis convergências ou divergências entre as investigações empresariais e os estudos acadêmicos.

Em conjunto com um grupo de empresários do setor de ônibus, visitamos a unidade de produção de hidrogênio a partir do etanol, conceito desenvolvido pela brasileira Hytron. Um dos desenvolvedores desse processo é o Dr. Gabriel Daniel Lopes. Fomos recebidos pela Professora Doutora Karen Louise Mascarenhas e sua equipe, sob direção do Professor Júlio Romano Meneghini, diretor do RCGI. Vale ressaltar que a estação de produção de hidrogênio do RCGI irá abastecer pelo menos três ônibus e carros da Toyota movidos a essa fonte energética.

Combustível “plantado”

Na busca por conhecimento sobre novas fontes de energia renovável, chegamos ao etanol — o combustível “plantado”, no qual o Brasil se destaca mundialmente. Com observações de especialistas no tema, obtive a seguinte linha técnica: é possível desenvolver um motor dedicado ao uso exclusivo do etanol, otimizando sua queima a ponto de obter um desempenho energético próximo ao do motor a diesel. Por outro lado, tornar o motor flex dificulta a eficiência da combustão dos diferentes combustíveis envolvidos, o que deve ser objeto constante de estudo e acompanhamento.

Nessa fase, fiz a mim mesmo a seguinte pergunta: qual o novo energético a ser considerado? Foi assim que retomei contato com o IPEN — Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares — onde anteriormente cursei mestrado em Ciência dos Materiais. Agora, com foco em energia para propulsão veicular, fui apresentado ao tema do hidrogênio e das células a combustível pelos Professores Doutores Fábio Coral Fonseca e Elisabete Inácio Santiago. O centro de pesquisa dessa tecnologia encontra-se dentro do IPEN, na USP.

Por sugestão dos professores Fábio e Elisabete, fui orientado a cursar disciplinas que poderiam ser aproveitadas como créditos para mestrado, doutorado ou, no mínimo, para nivelar meu conhecimento sobre o tema.

As disciplinas cursadas foram:
  • Células a Combustível, ministrada pelos professores Elisabete Inácio Santiago e Fábio Coral Fonseca
  • Hidrogênio, pelos professores Vanderlei Bergamaschi e Jamil Ayoub
  • Eletrocatalisadores, pelos professores Almir Oliveira e Rodrigo Brambilla

Esse conjunto de disciplinas foi essencial para embasar o entendimento dos artigos, papers e demais materiais relacionados ao tema hidrogênio/Fuel Cell. Aos interessados, recomendo a participação nesse curso, que representa uma iniciativa de vanguarda tecnológica.

Preciso externar minha surpresa positiva com o time de professores e pesquisadores do IPEN dedicados ao hidrogênio e às Fuel Cells, bem como a receptividade nas conversas sobre essa energia, cujas emissões se resumem a calor e vapor d’água!

Como parte da investigação sobre formas de obtenção do hidrogênio, entrei em contato com a GAS FUTURO — representada por Rodrigo Bogcaz e Ricardo Barreira — e sua parceira chinesa HOUPU, para obter informações sobre eletrolisadores e estações de abastecimento. Em resumo: é necessário um investimento considerável para a instalação de um posto de abastecimento de hidrogênio.

Faço questão de nomear os colaboradores, pois os avanços só foram possíveis graças às pessoas, e não apenas às siglas das instituições.

Também não posso deixar de mencionar a dedicação de Mônica Panik, por sua curadoria no time do SAEH2 Student Challenge. Seria uma grande injustiça não reconhecer sua contribuição.

Há muitos outros aspectos a serem citados, mas gostaria de destacar a visita feita à Toyota, com o time coordenado pelo MSc. Camilo Adas, da SAE, e posteriormente com os professores e pesquisadores do IPEN, com presença da diretora-superintendente Professora Doutora Isolda Costa. Externo aqui minha percepção sobre a experiência de rodar com o Mirai a hidrogênio: parecia um verdadeiro “tapete voador”.

Fiz esse resgate histórico do meu envolvimento pessoal com novas fontes de energia para propor uma sugestão ao Brasil na área do hidrogênio.

Direto ao ponto:

Uma estação de abastecimento de hidrogênio a 350 bar, 700 bar e também na forma liquefeita poderia ser instalada em São Paulo e outra no Rio de Janeiro, cidades separadas por 450 km. Isso permitiria que empresas que já possuem carros, caminhões e ônibus a hidrogênio pudessem operar esses veículos com regularidade, contribuindo para o avanço dessa nova matriz energética.

A Toyota já possui o Mirai; a Hyundai, o Nexo e o caminhão XCIENT; a Daimler Truck, o GenH2 Truck movido a hidrogênio líquido; a Marcopolo, seus ônibus a hidrogênio. Ou seja, o Brasil poderia inaugurar a primeira rota operacional da América Latina para essa nova tecnologia. Todas essas empresas já têm um know-how básico com seus veículos.

Resumindo: essas duas estações permitiriam a criação de um “consórcio” de usuários e interessados em hidrogênio no Brasil.

*Eustáquio Sirolli é engenheiro, com de mais de 48 anos de atuação na indústria automobilística. São 39 anos na Mercedes-Benz do Brasil, onde chegou ao cargo de gerente de Marketing do Produto e depois de Treinamento. Além disso, foram oito anos como diretor de Engenharia da Foton caminhões. Graduado em Engenharia de Produção e Automobilística pela FEI, fez MBA em Automotive Business pela FGV e mestrado em Ciência dos Materiais pelo IPEN/USP. Atualmente, está focando no estudo sobre hidrogênio em aplicações veiculares.

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