sexta-feira, junho 20, 2025

Da Scania ao Gripen: a surpreendente conexão sueca no programa de caças da FAB

O que caminhões pesados e caças supersônicos Gripen têm em comum? Para quem acompanha a história industrial da Suécia, a resposta está na antiga união entre duas marcas hoje independentes, mas que já operaram sob o mesmo teto: Saab e Scania. A trajetória que começa com essa fusão industrial na década de 1960 desemboca, décadas depois, na linha de montagem de jatos de combate em Gavião Peixoto, interior de São Paulo, com implicações diretas para a soberania e a indústria de defesa do Brasil. 

De Saab-Scania à separação 

Em 1969, foi formalizada a criação do grupo Saab-Scania AB, reunindo a expertise aeroespacial e automotiva da Saab com a tradição da Scania na fabricação de veículos pesados. A sinergia se deu principalmente em áreas de engenharia de motores e tecnologia industrial. A Saab já era reconhecida por seus aviões militares e carros; a Scania, por sua robustez em transporte de carga e passageiros. 

A convivência durou até 1995, quando a holding sueca Investor AB decidiu desmembrar o grupo. A Saab AB seguiu no ramo aeroespacial e de defesa, enquanto a Scania AB manteve seu foco em caminhões e ônibus. Desde então, as empresas têm histórias corporativas independentes — mas os legados dessa antiga união ainda reverberam, inclusive fora da Suécia. 

Leia também:

Scania S 770:  Casal transforma o caminhão mais potente do Brasil em motorhome de luxo

Atualizado: MAN vai lançar novo motor D30 diesel para pesados desenvolvido a partir do Scania Super

A escolha brasileira 

O programa FX-2 da Força Aérea Brasileira, lançado no início dos anos 2000, visava a substituição dos antigos caças Mirage 2000. Após uma longa concorrência, o governo brasileiro anunciou, em 2013, a escolha do caça sueco Saab Gripen NG (atualmente designado Gripen E/F), com contrato assinado no ano seguinte. 

A decisão brasileira levou em conta não apenas o desempenho técnico do caça, mas também a proposta sueca de envolvimento industrial e transferência de tecnologia. O acordo previa a fabricação de parte significativa das aeronaves no Brasil e o treinamento de engenheiros e técnicos nacionais, o que pesou fortemente na balança em comparação com os concorrentes americanos e franceses. 

Produção nacional 

A parceria entre a Saab e a Embraer é o pilar da montagem dos Gripen no Brasil. Em maio de 2023, foi inaugurada a linha de produção nacional do caça em Gavião Peixoto (SP). Trata-se da única planta fora da Suécia capaz de montar integralmente os jatos, em uma estrutura que inclui também um centro de engenharia e ensaios em voo. 

Do total de 36 caças adquiridos, 15 serão montados no Brasil, enquanto outros 8 terão parte da produção nacionalizada. Os demais serão produzidos na Suécia. Mais do que uma simples montagem, a participação brasileira envolve integração de sistemas, desenvolvimento de software e testes estruturais, capacitando o país para futuras expansões e manutenção autônoma da frota. 

Cooperação bilateral e novas perspectivas 

A colaboração entre Brasil e Suécia extrapola o Gripen. Em 2023, a Suécia confirmou a compra de dois cargueiros Embraer C-390 Millennium, fortalecendo a relação bilateral. Além disso, a planta de Gavião Peixoto se torna um ativo estratégico para exportações futuras. Colômbia, Índia e Filipinas são alguns dos países que demonstraram interesse no caça, o que pode transformar o Brasil em uma base regional de produção e manutenção. 

Implicações para a indústria de transporte 

Embora o elo histórico entre Saab e Scania tenha se rompido formalmente há três décadas, o programa Gripen no Brasil resgata, de certa forma, a filosofia industrial sueca de integração tecnológica entre setores. A expertise desenvolvida na montagem de aeronaves de combate — que exigem precisão logística, gestão de cadeia de suprimentos e controle de qualidade extremo — pode ter impactos positivos em outras áreas da engenharia de transporte no país. 

Além disso, a participação da Embraer, tradicional fabricante de jatos comerciais e executivos, consolida sua presença também no setor de defesa de alta complexidade, com implicações para sua competitividade global em múltiplos segmentos. 

Por fim… 

A história da Saab e da Scania, que já estiveram sob a mesma bandeira, ganha novos contornos no Brasil com a fabricação local do caça Gripen. A iniciativa representa não apenas uma modernização da frota da FAB, mas também um marco industrial para o setor aeroespacial brasileiro. Trata-se de uma evolução estratégica que une passado e futuro da engenharia de transporte, reforçando a capacidade nacional em projetos de alta tecnologia e valor agregado. 

- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -spot_img

ASSINE NOSSA NEWSLETTER

Últimas notícias
você pode gostar:

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui