Caminhões elétricos enfrentam barreiras, e a Volkswagen busca destravar o setor com o eletropostos no Rio de Janeiro
A eletrificação no transporte de carga é um desafio muito mais complexo do que no transporte de passageiros urbanos que tem apoio de políticas públicas e financiamento subsidiado. Mesmo na Europa — onde os incentivos governamentais e a infraestrutura de recarga estão muito mais avançados do que no Brasil —, os ônibus elétricos já representam 22,7% das vendas de veículos pesados de passageiros, enquanto os caminhões elétricos não passam de 3,8%.
O desafio para veículos de carga é tamanho que levou Christian Levin, CEO global da Scania e presidente do Conselho Executivo do TRATON Group, a desabafar sobre as dificuldades dessa transição, em entrevista publicada no Brasil com exclusividade pela Frota News: Entrevista exclusiva: Não é falha de engenharia, é falha de política”, critica CEO da Scania sobre eletrificação
Agora, imagine o grau de frustração quando se fala em eletrificação de veículos de caminhões em um país como o Brasil, onde a infraestrutura pública para automóveis ainda engatinha. Apesar disso, a Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) mantém sua convicção: acredita no futuro elétrico e segue investindo na consolidação do e-Delivery, o primeiro e ainda único caminhão elétrico produzido no país.
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Pioneira na eletromobilidade no transporte de cargas brasileiro, a VWCO dará um passo adiante ao participar do programa internacional Laneshift Rio, iniciativa global liderada pela C40 Cities e pelo The Climate Pledge, voltada à ampliação da infraestrutura pública de recarga na cidade do Rio de Janeiro. A montadora fará parte da Aliança Cidade-Empresa Laneshift, contribuindo com consultoria técnica e experiência de campo no desenvolvimento de soluções para o transporte comercial sustentável.
O e-Delivery está entre os veículos que serão utilizados no projeto para testar e aperfeiçoar um modelo de hub público de recarga. Segundo a VWCO, a participação no Laneshift representa uma oportunidade concreta de colaborar com o poder público e demais parceiros na construção de uma infraestrutura robusta de recarga, condição essencial para que o transporte elétrico de cargas ganhe escala. Uma iniciativa positiva, mas, mais representativa como agenda ESG da VWCO do que uma solução para logística.
Difícil será convencer o frotista de que ele poderá contar, todos os dias, com vagas disponíveis para recarregar os caminhões em pontos públicos — sujeitos a filas, disputas de espaço e eventuais falhas técnicas. O setor de logística precisa de eletropostos instalados dentro de suas próprias garagens, onde haja previsibilidade: vaga garantida, energia suficiente e carregadores com ao menos 99% de disponibilidade. Afinal, trata-se de um caminhão com agenda de entregas e horários rígidos a cumprir. Ainda assim, a infraestrutura pública pode atender parte da demanda — mesmo que, por enquanto, de uma minoria que não precisa da rigidez na operação de logística urbana.
“A colaboração entre setor público e privado é essencial para acelerar a descarbonização do transporte de carga. Com o Laneshift, temos a oportunidade de testar modelos reais de recarga pública e contribuir com nossa experiência em veículos elétricos para tornar essa transição uma realidade concreta nas cidades brasileiras, diminuindo a dependência dos clientes de infraestrutura própria e ampliando as oportunidades para expansão de suas frotas”, afirma Roberto Cortes, CEO e presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus.
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O programa Laneshift prevê a instalação de 15 novos eletropostos públicos até 2028. Desde julho, a aliança opera um projeto demonstrativo de recarga no Rio de Janeiro, com dois eletropostos abertos ao público: o Eleposto Carioca, na Barra da Tijuca — o primeiro hub de recarga em área pública da cidade —, e outro na Avenida Brasil. Ambos funcionam como verdadeiros laboratórios urbanos para testar modelos de operação, cobrança e integração de veículos comerciais elétricos à malha urbana.
O piloto já contabiliza mais de 1.000 sessões de recarga e 35 MWh consumidos, envolvendo diferentes modelos de veículos de carga que circulam na capital fluminense. Atualmente, 20% de todas as recargas públicas do Rio de Janeiro já correspondem ao transporte de carga, demonstrando o potencial do segmento. Os dados coletados nessa fase de testes servirão de base para a expansão da rede de recarga prevista no Plano Estratégico 2025-2028 da cidade, com apoio técnico do Laneshift e participação ativa da VWCO.


