Mais de 2 milhões de quilômetros rodados contam a história de um pai que cruzou o Brasil para ver os filhos realizarem seus sonhos
Quantos sonhos cabem em mais de dois milhões de quilômetros? Para o caminhoneiro gaúcho Aldo Fridolino Schneider, 77 anos, a resposta é clara: os sonhos dos seus quatro filhos. Natural de Marcelino Ramos (RS) e morador de Concórdia (SC) há mais de 40 anos, ele dedicou 23 anos da vida ao volante de um Scania 111 — o famoso “jacaré” — movido por um único objetivo: garantir a formação universitária da família.
Adquirido em 1980, o Scania 111 de 1978 foi mais do que um caminhão. Foi o parceiro de estrada, o alicerce de um projeto de vida. “Eu queria ser médico, minha esposa, Leda, também sonhava em estudar. Não conseguimos, mas realizamos esse sonho por meio dos nossos filhos”, diz Schneider. Hoje, com orgulho, conta que um deles se tornou cardiologista e os outros três, cirurgiões-dentistas.
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A escolha que mudou tudo
No início dos anos 1990, chegou o momento de trocar de caminhão. Com a opção entre renovar a frota ou investir na educação dos filhos, Aldo não teve dúvidas. Manteve o velho jacaré e priorizou as mensalidades das faculdades. “Esse caminhão representa a luta para formar meus filhos. Valeu cada quilômetro”, resume o caminhoneiro aposentado.
Após duas décadas na boleia do 111, Schneider passou a dirigir outros modelos: um Scania 113 e um 400, operando com dois veículos até se aposentar, em 2021. Mas a história com o 111 ainda não havia terminado.
O reencontro com o passado
Sabendo do carinho do pai pelo caminhão que marcou sua vida, o segundo filho, Jean Pierre, ao lado da esposa Tíssiana, iniciou uma verdadeira missão: encontrar o antigo Scania 111. Dois anos depois, localizou os restos do veículo em uma sucata em Itajaí (SC). Restaurou peça por peça, deixando-o o mais próximo possível da versão original. “A gente até construiu uma garagem maior para ele. Hoje, o caminhão chama atenção de quem passa na rua. Tem gente que para para tirar foto”, conta Jean.
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Uma paixão que nasceu na infância
A história de amor com os caminhões começou cedo. Quando criança, Aldo já montava caminhõezinhos de madeira e ficava fascinado ao ver o primo passar dirigindo pelas estradas de terra. “Achava bonito, imponente. E olha que nem existia rodotrem naquela época”, brinca.
Tornou-se caminhoneiro aos 22 anos, na década de 1970. Antes do 111, passou por outros modelos e marcas, mas após conhecer a Scania, nunca mais mudou. “É um ótimo veículo, de fácil manutenção. Se fosse comprar um caminhão hoje, ainda seria Scania”, afirma com convicção.
Durante seus 50 anos de estrada, Aldo transportou de tudo: de alimentos a eletrodomésticos, passando por produtos de limpeza e blocos de alumínio. Conheceu quase todo o Brasil — com exceção de Roraima — e acumulou histórias que carrega com carinho.
Emoções da estrada
Entre tantas memórias, uma se destaca: o dia em que soube que a filha Leila havia passado no vestibular. “Cheguei em casa na sexta, ela chorava achando que tinha sido reprovada. No domingo, liguei de viagem e minha casa estava em festa. Ela tinha passado. Isso me marcou muito.”
O Scania 111, hoje estacionado com orgulho na garagem da família Schneider, é mais que um caminhão antigo. É um monumento de amor, sacrifício e superação. Uma lembrança viva de que, às vezes, o maior motor que nos move é o sonho de quem amamos.
O lendário Scania 111: símbolo das estradas brasileiras

Lançado no Brasil em 1976, o Scania L111, apelidado carinhosamente de “jacaré” por conta do capô longo e achatado, é um dos caminhões mais icônicos da história do transporte rodoviário nacional. Produzido até 1981, o modelo era equipado com motor de 11 litros e 6 cilindros, entregando robustez, durabilidade e facilidade de manutenção — características que conquistaram gerações de caminhoneiros.
O Scania 111 ficou conhecido por sua confiabilidade em longas distâncias e por enfrentar os desafios das estradas brasileiras com valentia. Muitos ainda circulam até hoje, restaurados por colecionadores ou preservados com carinho por quem viveu grandes histórias sobre suas rodas. É mais do que um caminhão: é patrimônio afetivo do transporte brasileiro.
Fonte: Jornada Scania