Durante o MOVE CARGO, realizado em 15 de outubro em São Paulo (SP), a Platform Science, líder em soluções tecnológicas voltadas à segurança e eficiência no transporte, reuniu executivos de empresas como Petrobras, MBRF, Coca-Cola FEMSA, FABET, Veloce, entre outros operadores logísticos, para discutir tendências e desafios do setor. A Frota News conversou com Rony Neri, diretor-executivo da Platform Science na América Latina, sobre o futuro da digitalização logística e o papel da automação na prevenção de acidentes e na gestão de frotas.
Da digitalização à automação: o novo ciclo tecnológico do transporte
Segundo Neri, o setor de transporte vive uma virada de chave. Depois de anos investindo em digitalização — transformando papeletas, planilhas e controles manuais em dados digitais — as empresas agora se deparam com um novo desafio: usar de forma inteligente o enorme volume de dados disponíveis.
“Hoje as transportadoras têm muitos dados, mas nem sempre sabem o que fazer com eles. O momento é de integração: consolidar informações dispersas e transformá-las em decisões que melhorem eficiência, segurança e produtividade”, explica.
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Essa transição marca a entrada em uma fase que o executivo define como tecnologia atuante: em vez de apenas informar, os sistemas passam a agir. “Se a tecnologia identifica que um motorista apresenta sinais repetidos de fadiga, ela pode tomar uma ação automática, conforme o protocolo definido pela empresa, sem depender apenas de um analista humano. Isso salva vidas”, diz.
90% dos acidentes têm origem humana
Dados da ONU e da Unesco mostram que 90% dos acidentes rodoviários decorrem de falhas humanas. Por isso, a Platform Science aposta em inteligência embarcada para criar um “copiloto digital”.
As câmeras instaladas nos veículos, por exemplo, já alertam motoristas sobre distrações, uso de celular e ausência do cinto de segurança. “Mas a automação vai além disso: queremos que o sistema reconheça situações críticas e acione o gestor da frota automaticamente, evitando que um problema pequeno vire tragédia”, afirma Neri.
Em frotas que adotaram plenamente as tecnologias da empresa, a redução média de acidentes chega a 87%. O desafio, segundo ele, é avançar para patamares de 95% a 98%, o que exigirá automação mais profunda e decisões em tempo real.
Do celular ao caminhão: a revolução do “Virtual Vehicle”
Inspirada no modelo de smartphones, a Platform Science aposta no conceito de Virtual Vehicle — um veículo com um único sistema central e uma loja de aplicativos voltada exclusivamente ao transporte.
“Assim como o celular evoluiu para abrigar diversos apps, o caminhão terá um ambiente único em que o gestor configura o fluxo de trabalho do motorista, define os aplicativos e atualiza tudo remotamente. O motorista não precisa instalar nem configurar nada”, explica Neri.
O projeto inclui um Marketplace de soluções para frotas, já operacional nos EUA e Canadá, com mais de 130 aplicativos desenvolvidos por 100 empresas. A proposta é replicar o modelo na América Latina, criando um ecossistema colaborativo com fornecedores locais e montadoras.
“O gestor poderá escolher aplicativos de checklist, roteirização, consumo de combustível, jornada ou segurança — todos integrados à central eletrônica do veículo. O dado será único e confiável”, ressalta.
Integração com montadoras e o fim das instalações físicas
O executivo revela que a Daimler Truck North America já embarca o software da Platform Science de fábrica nos EUA desde 2019, permitindo ativação remota sem necessidade de instalação. “Um cliente americano com 2 mil caminhões das marcas do grupo foi conectado à plataforma em dois dias, sem parar nenhum veículo”, conta.
No Brasil, a tendência é que novos modelos saiam de fábrica já preparados para integração nativa. “O futuro é não precisar mais parar caminhão para instalar tecnologia. Ela já virá embarcada, e as atualizações serão automáticas”, diz Neri.
Trimble, novos acionistas e foco total em transporte
A transformação também passa pela estrutura corporativa. A Platform Science nasceu de uma joint venture com a Trimble, que transferiu sua divisão de transporte para uma gestão independente, a exemplo do que já havia feito na agricultura.
“Isso nos permite ser mais ágeis e 100% focados no transporte. A Trimble continua como acionista, junto com o Grupo AK e a Daily Partners, mas o comando agora é autônomo”, explica Neri. “A FENATRAN do próximo ano já mostrará essa nova fase — os visitantes vão encontrar a Platform Science, não mais a Trimble Transporte.”
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O futuro é modular e aberto
Questionado sobre a convivência entre diferentes tecnologias de montadoras e fornecedores, Neri defende a liberdade de escolha: “Nenhuma montadora vai desenvolver um aplicativo que resolva o problema de todas as empresas. Cada transportadora tem necessidades e frotas diversas. Por isso, acreditamos em um ecossistema aberto, com múltiplas opções, mas dados padronizados e gestão centralizada.”
O resultado, diz ele, será uma frota mais inteligente, conectada e segura — sem ruídos de comunicação. “Automação é eficiência. É deixar de ser apenas informativo e passar a agir. E isso é o que realmente transforma o transporte.”


