O anúncio feito pela Petrobras em julho de 2025 de um megainvestimento de R$ 33 bilhões no estado do Rio de Janeiro vai gerar novas oportunidades paras empresas de transporte e logística brasileiras. Mais do que reforçar a capacidade produtiva da estatal, os recursos que serão aplicados até 2029 nas refinarias, termelétricas e no complexo petroquímico fluminense.
Diesel mais limpo, querosene de aviação em volume recorde, gás natural abundante para indústrias e biocombustíveis em larga escala são apenas alguns dos efeitos diretos da nova engrenagem que a Petrobras põe em movimento. Mas os impactos vão além da produção: reverberam na malha logística, nos custos operacionais de frotas, na segurança energética e na eficiência do escoamento de cargas e pessoas por todo o território nacional.
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Diesel nacional: menos importação, mais estabilidade
Um dos destaques do pacote de investimentos é a ampliação da capacidade da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), que passará a produzir 76 mil barris adicionais por dia de diesel S-10, combustível essencial para o transporte de cargas no Brasil. A nova capacidade permitirá reduzir significativamente a dependência de diesel importado — que, até hoje, representa cerca de 25% do consumo nacional.
Essa autossuficiência reforçada tem impacto direto nos custos logísticos. Com mais diesel produzido localmente, haverá menor exposição à volatilidade do câmbio e dos preços internacionais, o que tende a suavizar os repasses no frete e no preço final das mercadorias transportadas. Para os transportadores, isso representa previsibilidade nos custos operacionais — um fator crítico para o planejamento de rotas, contratos e investimentos em frota.
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Além disso, ao abastecer os centros consumidores do Sudeste — a partir do Rio de Janeiro —, o diesel poderá ser escoado com mais agilidade por dutos e caminhões-tanque, descongestionando portos e reduzindo o tempo de espera para distribuição. A malha rodoviária que cruza o estado do Rio, especialmente os eixos BR-040, BR-101 e BR-116, deverá sentir os reflexos dessa nova dinâmica.
QAV e SAF: impulso para a aviação e logística aérea
Outro ponto de inflexão promovido pelo projeto é a ampliação da oferta de querosene de aviação (QAV), com incremento de 20 mil barris por dia, além do início da produção nacional em escala de SAF (Sustainable Aviation Fuel) — o combustível sustentável de aviação.
A aviação comercial e de carga, altamente concentrada na Região Sudeste, poderá se beneficiar com maior oferta local. Com a produção próxima dos aeroportos do Galeão e de Guarulhos, haverá redução nos custos logísticos de abastecimento, menor necessidade de estocagem e mais segurança no suprimento. Isso pode facilitar inclusive a retomada de rotas aéreas regionais, de carga e passageiros, que muitas vezes esbarram na viabilidade de abastecimento.
Além disso, com o SAF nacionalizado, companhias aéreas terão à disposição um combustível alternativo para cumprir metas de descarbonização impostas por mercados internacionais — uma vantagem competitiva para hubs logísticos brasileiros.
Gás natural para a indústria e o transporte
A ampliação da capacidade de processamento de gás natural no Complexo de Itaboraí (Boaventura), com integração ao novo gasoduto Rota 3, é estratégica. Ao processar volumes cada vez maiores de gás vindo do pré-sal, o Rio de Janeiro se tornará um polo de fornecimento para indústrias e transportadoras que atuam com GNV ou gás natural liquefeito (GNL).
O gás natural tende a se consolidar como um combustível alternativo viável para o transporte pesado e urbano, especialmente no Rio, São Paulo e Minas Gerais. Com maior oferta e preços mais competitivos, pode haver aceleração na substituição de frotas a diesel por veículos movidos a gás — uma transição desejada tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico.
O novo ciclo de gás natural também viabiliza a expansão de polos industriais que consomem gás como matéria-prima — fertilizantes, cerâmicas, vidros, alimentos — ampliando a necessidade de transporte de insumos e produtos finais. Isso deve gerar nova demanda logística em regiões hoje menos integradas à cadeia de suprimentos, com impacto positivo sobre operadores logísticos, operadores ferroviários e transportadores de curta e longa distância.
Lubrificantes e rerrefino: logística reversa em foco
A previsão de produção adicional de 12 mil barris diários de óleos lubrificantes na Reduc, e a implantação de uma planta de rerrefino de óleo usado, inserem o transporte em uma lógica de economia circular.
Cadeias especializadas em logística reversa precisarão ser estruturadas para coletar óleo usado em centros urbanos, oficinas e frotistas, transportando-o com segurança até a refinaria para reprocessamento. Isso abre novas oportunidades para operadores logísticos especializados e reforça o papel do transporte na sustentabilidade da cadeia produtiva.
A circulação desses produtos também exigirá infraestrutura de armazenagem, transporte e distribuição adequada, especialmente com controle ambiental mais rígido — estimulando investimentos em modais adequados e capacitação técnica.
Termelétricas e segurança energética para modais elétricos
As três termelétricas previstas — duas em Itaboraí e uma na Reduc — somam mais de 850 MW de capacidade instalada e serão abastecidas com gás do pré-sal. Elas fortalecerão a segurança energética do Sudeste, aliviando pressões na rede elétrica nacional.
Para a logística, isso representa maior estabilidade no fornecimento de energia para portos, centros de distribuição, terminais intermodais e corredores industriais, cada vez mais dependentes de eletricidade confiável para operar em regime 24/7.
Além disso, com o avanço da eletrificação de frotas urbanas e de distribuição — especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro —, a expansão da matriz energética local permite maior penetração de veículos elétricos, com menor risco de sobrecarga da rede e tarifas mais previsíveis. A eletrificação da logística urbana, uma tendência irreversível, dependerá de infraestruturas como essa.
Petroquímica e cadeias integradas de suprimentos
A parceria com a Braskem e a possibilidade de implantação de novas fábricas químicas no Complexo de Itaboraí também geram impacto logístico expressivo. A produção local de polietileno, ácido acético e monoetilenoglicol (MEG) reduzirá a dependência de importações desses insumos, hoje majoritariamente transportados via portos.
Ao internalizar a produção, o Brasil poderá substituir o modal marítimo por rotas rodoviárias e ferroviárias internas, com maior previsibilidade, menores custos logísticos e impacto positivo na competitividade das indústrias de plásticos, tintas, PET, embalagens e tecidos.
Essa transformação reestrutura o mapa da logística industrial brasileira, com destaque para os corredores entre Itaboraí, Duque de Caxias, o Porto de Itaguaí, o Arco Metropolitano e o acesso à Dutra, rotas que devem ser modernizadas e reforçadas com o novo fluxo de cargas e produtos derivados do investimento.
Infraestrutura e conectividade: logística do futuro
Embora a Petrobras não tenha detalhado investimentos diretos em modais logísticos, os volumes adicionais de produção e circulação de cargas exigirão adequações logísticas. Dutos, ferrovias e rodovias serão pressionados, o que tende a fomentar parcerias com operadores logísticos, portos e governo para garantir escoamento seguro e eficiente.
Terminais portuários como o do Rio de Janeiro, Itaguaí e Niterói podem ter papel estratégico no escoamento de excedentes de diesel, QAV e petroquímicos para exportação, exigindo novos berços, dragagem e sistemas de controle.
Dutos internos da Transpetro deverão ser ampliados ou melhor utilizados para integrar a produção da Reduc e de Itaboraí aos centros consumidores — o que pode gerar oportunidades para a indústria de equipamentos e construção pesada, além de contratos logísticos especializados.
Um novo ciclo de prosperidade logística
O plano de R$ 33 bilhões da Petrobras no Rio é mais do que um megaprojeto de energia. É um marco para a logística brasileira. Ele cria um novo eixo de integração entre pré-sal, refino, gás natural, biocombustíveis e indústria química, tudo conectado a uma malha de transporte que precisa ser moderna, resiliente e sustentável.
Para transportadoras, operadores logísticos, fabricantes de veículos, empresas de infraestrutura e até startups do setor, abre-se uma janela estratégica de oportunidades. Novos fluxos de carga, integração modal, tecnologias para rastreamento, sustentabilidade e economia circular ganham protagonismo.
A engrenagem está posta. O transporte será o motor visível dessa transformação. E a logística, o elo que fará esse investimento sair do papel e chegar, com eficiência, ao coração da economia brasileira.