sexta-feira, julho 11, 2025

Petrobras: O impacto do megainvestimento de R$ 33 bilhões na cadeia logística

O anúncio feito pela Petrobras em julho de 2025 de um megainvestimento de R$ 33 bilhões no estado do Rio de Janeiro vai gerar novas oportunidades paras empresas de transporte e logística brasileiras. Mais do que reforçar a capacidade produtiva da estatal, os recursos que serão aplicados até 2029 nas refinarias, termelétricas e no complexo petroquímico fluminense.

Diesel mais limpo, querosene de aviação em volume recorde, gás natural abundante para indústrias e biocombustíveis em larga escala são apenas alguns dos efeitos diretos da nova engrenagem que a Petrobras põe em movimento. Mas os impactos vão além da produção: reverberam na malha logística, nos custos operacionais de frotas, na segurança energética e na eficiência do escoamento de cargas e pessoas por todo o território nacional.

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Diesel nacional: menos importação, mais estabilidade

Um dos destaques do pacote de investimentos é a ampliação da capacidade da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), que passará a produzir 76 mil barris adicionais por dia de diesel S-10, combustível essencial para o transporte de cargas no Brasil. A nova capacidade permitirá reduzir significativamente a dependência de diesel importado — que, até hoje, representa cerca de 25% do consumo nacional.

Essa autossuficiência reforçada tem impacto direto nos custos logísticos. Com mais diesel produzido localmente, haverá menor exposição à volatilidade do câmbio e dos preços internacionais, o que tende a suavizar os repasses no frete e no preço final das mercadorias transportadas. Para os transportadores, isso representa previsibilidade nos custos operacionais — um fator crítico para o planejamento de rotas, contratos e investimentos em frota.

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Além disso, ao abastecer os centros consumidores do Sudeste — a partir do Rio de Janeiro —, o diesel poderá ser escoado com mais agilidade por dutos e caminhões-tanque, descongestionando portos e reduzindo o tempo de espera para distribuição. A malha rodoviária que cruza o estado do Rio, especialmente os eixos BR-040, BR-101 e BR-116, deverá sentir os reflexos dessa nova dinâmica.

QAV e SAF: impulso para a aviação e logística aérea

Outro ponto de inflexão promovido pelo projeto é a ampliação da oferta de querosene de aviação (QAV), com incremento de 20 mil barris por dia, além do início da produção nacional em escala de SAF (Sustainable Aviation Fuel) — o combustível sustentável de aviação.

A aviação comercial e de carga, altamente concentrada na Região Sudeste, poderá se beneficiar com maior oferta local. Com a produção próxima dos aeroportos do Galeão e de Guarulhos, haverá redução nos custos logísticos de abastecimento, menor necessidade de estocagem e mais segurança no suprimento. Isso pode facilitar inclusive a retomada de rotas aéreas regionais, de carga e passageiros, que muitas vezes esbarram na viabilidade de abastecimento.

Além disso, com o SAF nacionalizado, companhias aéreas terão à disposição um combustível alternativo para cumprir metas de descarbonização impostas por mercados internacionais — uma vantagem competitiva para hubs logísticos brasileiros.

Gás natural para a indústria e o transporte

A ampliação da capacidade de processamento de gás natural no Complexo de Itaboraí (Boaventura), com integração ao novo gasoduto Rota 3, é estratégica. Ao processar volumes cada vez maiores de gás vindo do pré-sal, o Rio de Janeiro se tornará um polo de fornecimento para indústrias e transportadoras que atuam com GNV ou gás natural liquefeito (GNL).

O gás natural tende a se consolidar como um combustível alternativo viável para o transporte pesado e urbano, especialmente no Rio, São Paulo e Minas Gerais. Com maior oferta e preços mais competitivos, pode haver aceleração na substituição de frotas a diesel por veículos movidos a gás — uma transição desejada tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico.

O novo ciclo de gás natural também viabiliza a expansão de polos industriais que consomem gás como matéria-prima — fertilizantes, cerâmicas, vidros, alimentos — ampliando a necessidade de transporte de insumos e produtos finais. Isso deve gerar nova demanda logística em regiões hoje menos integradas à cadeia de suprimentos, com impacto positivo sobre operadores logísticos, operadores ferroviários e transportadores de curta e longa distância.

Lubrificantes e rerrefino: logística reversa em foco

A previsão de produção adicional de 12 mil barris diários de óleos lubrificantes na Reduc, e a implantação de uma planta de rerrefino de óleo usado, inserem o transporte em uma lógica de economia circular.

Cadeias especializadas em logística reversa precisarão ser estruturadas para coletar óleo usado em centros urbanos, oficinas e frotistas, transportando-o com segurança até a refinaria para reprocessamento. Isso abre novas oportunidades para operadores logísticos especializados e reforça o papel do transporte na sustentabilidade da cadeia produtiva.

A circulação desses produtos também exigirá infraestrutura de armazenagem, transporte e distribuição adequada, especialmente com controle ambiental mais rígido — estimulando investimentos em modais adequados e capacitação técnica.

Termelétricas e segurança energética para modais elétricos

As três termelétricas previstas — duas em Itaboraí e uma na Reduc — somam mais de 850 MW de capacidade instalada e serão abastecidas com gás do pré-sal. Elas fortalecerão a segurança energética do Sudeste, aliviando pressões na rede elétrica nacional.

Para a logística, isso representa maior estabilidade no fornecimento de energia para portos, centros de distribuição, terminais intermodais e corredores industriais, cada vez mais dependentes de eletricidade confiável para operar em regime 24/7.

Além disso, com o avanço da eletrificação de frotas urbanas e de distribuição — especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro —, a expansão da matriz energética local permite maior penetração de veículos elétricos, com menor risco de sobrecarga da rede e tarifas mais previsíveis. A eletrificação da logística urbana, uma tendência irreversível, dependerá de infraestruturas como essa.

Petroquímica e cadeias integradas de suprimentos

A parceria com a Braskem e a possibilidade de implantação de novas fábricas químicas no Complexo de Itaboraí também geram impacto logístico expressivo. A produção local de polietileno, ácido acético e monoetilenoglicol (MEG) reduzirá a dependência de importações desses insumos, hoje majoritariamente transportados via portos.

Ao internalizar a produção, o Brasil poderá substituir o modal marítimo por rotas rodoviárias e ferroviárias internas, com maior previsibilidade, menores custos logísticos e impacto positivo na competitividade das indústrias de plásticos, tintas, PET, embalagens e tecidos.

Essa transformação reestrutura o mapa da logística industrial brasileira, com destaque para os corredores entre Itaboraí, Duque de Caxias, o Porto de Itaguaí, o Arco Metropolitano e o acesso à Dutra, rotas que devem ser modernizadas e reforçadas com o novo fluxo de cargas e produtos derivados do investimento.

Infraestrutura e conectividade: logística do futuro

Embora a Petrobras não tenha detalhado investimentos diretos em modais logísticos, os volumes adicionais de produção e circulação de cargas exigirão adequações logísticas. Dutos, ferrovias e rodovias serão pressionados, o que tende a fomentar parcerias com operadores logísticos, portos e governo para garantir escoamento seguro e eficiente.

Terminais portuários como o do Rio de Janeiro, Itaguaí e Niterói podem ter papel estratégico no escoamento de excedentes de diesel, QAV e petroquímicos para exportação, exigindo novos berços, dragagem e sistemas de controle.

Dutos internos da Transpetro deverão ser ampliados ou melhor utilizados para integrar a produção da Reduc e de Itaboraí aos centros consumidores — o que pode gerar oportunidades para a indústria de equipamentos e construção pesada, além de contratos logísticos especializados.

Um novo ciclo de prosperidade logística

O plano de R$ 33 bilhões da Petrobras no Rio é mais do que um megaprojeto de energia. É um marco para a logística brasileira. Ele cria um novo eixo de integração entre pré-sal, refino, gás natural, biocombustíveis e indústria química, tudo conectado a uma malha de transporte que precisa ser moderna, resiliente e sustentável.

Para transportadoras, operadores logísticos, fabricantes de veículos, empresas de infraestrutura e até startups do setor, abre-se uma janela estratégica de oportunidades. Novos fluxos de carga, integração modal, tecnologias para rastreamento, sustentabilidade e economia circular ganham protagonismo.

A engrenagem está posta. O transporte será o motor visível dessa transformação. E a logística, o elo que fará esse investimento sair do papel e chegar, com eficiência, ao coração da economia brasileira.

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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