A 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo reserva um tributo especial ao aclamado diretor Hector Babenco, com a exibição de uma versão remasterizada de Brincando nos Campos do Senhor. O longa, lançado originalmente em 1991, faz parte da programação especial da Mostra e será apresentado em uma sessão única, neste sábado (19), na Cinemateca Brasileira.
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Esse trabalho integra o projeto de restauro “Memória Hector Babenco”, idealizado por Barbara Paz e Myra Babenco, da HB Filmes. A restauração utilizou o negativo original de imagem preservado pela Academy of Motion Picture Arts and Sciences e foi escaneada pela Prasad Corp., conferindo nova vida a um dos filmes mais emblemáticos da carreira do diretor.
Rodado integralmente na Amazônia, “Brincando nos Campos do Senhor” foi a maior produção norte-americana já realizada no Brasil, com locações que incluíram a maior cachoeira na fronteira com a Venezuela. A grandiosidade do projeto e o olhar visionário de Babenco trouxeram à tela temas como a complexidade da floresta amazônica e as tensões culturais e religiosas entre os povos indígenas e os missionários estrangeiros.
Um convite inesperado
Em uma entrevista concedida em 1991, Babenco relembrou como foi surpreendido pelo convite do lendário produtor Saul Zaentz, responsável por sucessos como “Um Estranho no Ninho” e “Amadeus”, para dirigir o filme. “Eu estava em casa e recebi um telefonema dos Estados Unidos. Um senhor chamado Saul, que eu não sabia quem era, me disse que viria ao Brasil e queria me convidar para almoçar”, contou o diretor. Foi nesse encontro que Zaentz entregou a Babenco o livro homônimo de Peter Matthiessen, uma obra densa, com cerca de 500 páginas, que ele sonhava adaptar há mais de 40 anos.
O filme aborda a tentativa de missionários norte-americanos de catequizar povos indígenas na Amazônia, em meio às tensões culturais e religiosas que emergem dessa relação. Para Babenco, a única exigência era que os indígenas fossem retratados como oprimidos, uma visão que ele traçou em paralelo aos jovens marginalizados de seu filme “Pixote”. “Não me interessava em nenhum momento dar relevância à atitude cruel e assassina de pisotear uma cultura milenar com tanta arrogância”, afirmou.
Uma produção monumental
A produção de “Brincando nos Campos do Senhor” envolveu um elenco internacional de peso, com atores como Tom Berenger, John Lithgow, Daryl Hannah, Aidan Quinn, Kathy Bates e Tom Waits, além de grandes nomes do cinema brasileiro, como Zé Dumont, Nelson Xavier e Stênio Garcia. A direção de fotografia ficou a cargo de Lauro Escorel, e a preparação do elenco indígena foi coordenada por Fátima Toledo.
Segundo Babenco, a convivência com as comunidades indígenas foi uma das experiências mais marcantes do projeto. “Criei uma aldeia com identidade própria, alimentada pelas tradições e histórias que eles contavam”, disse ele, revelando que foram 164 dias de filmagem na Amazônia, enfrentando desafios logísticos significativos devido às longas distâncias e condições adversas da região.
Uma nova chance de rever a obra
Com 188 minutos de duração, o épico de Babenco retorna às telas em sua forma restaurada, trazendo à tona não só a importância da obra, mas também o pioneirismo do diretor na representação de questões sociais e culturais profundas.
A première de “Brincando nos Campos do Senhor” acontece no próximo sábado, 19 de outubro, às 20h50, na Cinemateca Brasileira, dentro da programação da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Os ingressos já estão disponíveis online.
Serviço:
48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo – Brincando nos Campos do Senhor
Data: 19/10 (sábado), às 20h50
Local: Cinemateca Brasileira – Sala Grande Otelo
Endereço: Largo Sen. Raul Cardoso, 207 – Vila Clementino
Ingressos: R$ 30,00 (inteira) / R$ 15,00 (meia) + taxas de serviço
Essa homenagem a Hector Babenco reafirma seu legado no cinema mundial, trazendo de volta um dos trabalhos mais ambiciosos e desafiadores de sua carreira.