A novela “Enel Brasil vs. Eletromobilidade” ganha mais um capítulo digno do Troféu Mico Internacional Edição Faltou Luz — ou pelo menos de um troféu joinha do Fantástico. O enredo? Um escândalo internacional que virou meme no grupo da família e vexame deluxe para a Prefeitura de São Paulo, que comprou 175 ônibus elétricos, mas esqueceu de combinar com a tomada.
Sim, os veículos estão prontos, lindos e parados — tipo aquele tênis de corrida que você compra e nunca usa. Motivo? Falta de energia elétrica. Isso mesmo: o transporte “do futuro” está preso no passado por culpa da Enel, que prometeu a infraestrutura e até agora só entregou fios soltos e sonhos frustrados.
Como cereja do bolo, a Prefeitura usa uma cláusula de contrato como desculpa e dá um calote gourmet nos fornecedores. Moral da história: enquanto os ônibus descansam nas garagens, a cidade continua rodando no diesel… e no deboche.
Agora, a notícia é a seguinte:
A Mercedes-Benz do Brasil enfrenta um prejuízo estimado em R$ 300 milhões após entregar 175 ônibus elétricos modelo eO500U para a cidade de São Paulo e não receber o pagamento correspondente. O imbróglio envolve a Prefeitura da capital paulista, as empresas operadoras de transporte público e, principalmente, a concessionária de energia Enel, responsável por fornecer a infraestrutura elétrica necessária para que os veículos entrem em operação.
Os ônibus foram entregues entre agosto de 2024 e fevereiro de 2025 às concessionárias Sambaíba, Metrópole Paulista e MobiBrasil, como parte do programa de eletrificação da frota paulistana. No entanto, os veículos permanecem estacionados nas garagens, sem previsão de entrada em circulação.
O entrave está no modelo de financiamento adotado pela Prefeitura: o pagamento à montadora só é realizado quando os ônibus começam efetivamente a operar nas ruas. Como a infraestrutura de recarga elétrica — como cabines de transformação e pontos de conexão à rede — ainda não foi concluída pela Enel, os veículos estão parados, e a Mercedes-Benz segue sem receber pelos lotes entregues.
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Enel no centro da crise novamente
A Enel Distribuição São Paulo é apontada como responsável direta pelo atraso. De acordo com fontes da indústria e da própria administração municipal, a concessionária não finalizou a instalação da rede elétrica necessária nas garagens das operadoras, o que impossibilita o carregamento das baterias dos ônibus.
“A situação é crítica. Os veículos estão prontos e disponíveis, mas parados por conta da ausência de energia elétrica. Isso não apenas afeta a Mercedes-Benz financeiramente, como compromete o cronograma de transição energética da frota de ônibus da cidade”, afirmou Walter Barbosa, vice-presidente de ônibus da Mercedes-Benz do Brasil.
Proposta de mudança contratual
Diante do impasse, a Mercedes-Benz sugeriu à Prefeitura a revisão do modelo atual de financiamento. Uma das propostas é que o pagamento aos fornecedores seja desvinculado da operação efetiva dos veículos, ou que sejam previstas multas para as partes responsáveis por atrasos, como a Enel.
Apesar da pressão da indústria, o prefeito Ricardo Nunes já declarou publicamente que não pretende alterar o modelo contratual vigente, alegando que ele garante maior controle do uso de recursos públicos. A administração municipal reconhece os atrasos na entrega da infraestrutura elétrica, mas afirma que está acompanhando o cronograma da Enel.
Impacto direto na população
Atualmente, cerca de 100 ônibus elétricos novinhos permanecem fora de circulação. Além do prejuízo à montadora, a situação representa um revés para a política de mobilidade urbana sustentável da cidade, que prevê a eletrificação gradual de toda a frota até 2038.
A crise acende o alerta sobre a viabilidade dos contratos de subvenção no setor público e sobre a necessidade de planejamento integrado entre fabricantes, operadoras e concessionárias de energia — especialmente em um momento em que a mobilidade elétrica ganha protagonismo nas políticas ambientais e urbanas.
Um futuro incerto
A crise evidencia a fragilidade na articulação entre diferentes setores — montadoras, concessionárias, operadoras de transporte e fornecedoras de energia — quando o assunto é mobilidade elétrica em larga escala. A Mercedes-Benz, uma das maiores fabricantes de ônibus do mundo, agora espera uma solução que não só libere os pagamentos, mas que evite novas paralisações em futuros contratos.