domingo, dezembro 7, 2025

Caminhão a gás chega à mineração em teste pela Cedro em Minas Gerais com muita expectativa

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A Cedro Mineração e a Gás Verde iniciaram, em outubro de 2025, um projeto-piloto para testar o uso de um caminhão movido a Gás Natural Veicular (GNV) e/ou biometano no transporte de minério de ferro entre Mariana e o Terminal Fazendão (Vale).  

Este não é o primeiro teste realizado em operações severas como a mineração. Em 2020, a Gerdau testou um Scania 410 6×4 a gás com a Fagundes Construção e Mineração e suporte da Casa Scania WLM Itaipu. O caminhão estava com caçamba de 16 metros cúbicos para transferir o minério de ferro e estéril franco para a Gerdau na Mina Várzea do Lopes. Porém, os resultados dos testes não foram divulgados. 

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O que diferencia o primeiro teste com a Gerdau e o da Cedro está no modelo do caminhão envolvido. O atual, o G 460 6×4, é mais potente e tem 300 Nm de torque a mais, sendo mais adequado para operações severas. Ele foi lançado durante a Agrishow de 2024. 

O Scania G 410 foi substituído pelo G 420, sendo um caminhão mais indicado para operações rodoviárias ou mistas. Já o GH 460 6×4 pode tracionar bitrens, como também em operações severas com chassi rígido.  

Característica  Scania G 410 6×4  Scania GH 460 XGas 6×4 
Potência  410 cv  460 cv 
Torque  ~2.000 Nm  2.300 Nm 
Autonomia  Até 400 km (varia conforme operação)  Até 450 km em operações severas e dois com cilindros adicionais 

 

As emissões do veículo, segundo as empresas, serão neutralizadas por meio do Certificado de Garantia de Origem do Biometano (CGOB) fornecido pela Gás Verde para comprovar a origem do gás. Este é outro diferencial do teste entre a Gerdau e Cedro. O primeiro fez uso de GNV (gás natural veicular de origem fóssil) com pouco impacto na redução das emissões, diferentemente, do uso do biometano, que pode gerar uma redução de até 90% em comparação com o diesel.  

O que as empresas disseram — e o que isso significa na prática 

A comunicação oficial da Cedro descreve o teste como etapa inicial de um plano maior de descarbonização da logística da mineradora, com a expectativa — ainda em caráter indicativo — de que, no futuro, os caminhões possam operar com biometano (combustível renovável) em vez do diesel. A Gás Verde, citada como “a maior produtora de biometano da América Latina”, fornecerá o CGOB que, segundo suas explicações, permite às empresas neutralizarem emissões mesmo quando o insumo físico consumido na estrada não é 100% biometano.  

Cedro
Lucas Kallas

“Desde a criação da Cedro buscamos equilibrar resultados econômicos com responsabilidade socioambiental. Nosso objetivo é influenciar positivamente o setor de mineração e contribuir para um futuro mais sustentável”, disse Lucas Kallas, presidente do conselho deliberativo da Cedro Participações

Na prática isso quer dizer três coisas importantes para leitores e reguladores: 
  1. Operacionalmente o caminhão poderá ser abastecido com GNV (combustível que hoje no Brasil pode tem mais origem fóssil do que renovável), circulando na rota Mariana–Fazendão.  
  2. Contabilmente/ambientalmente a redução de emissões anunciada pela parceria pode ser suportada pela compra do CGOB — um certificado que atesta a origem renovável de uma quantidade equivalente de biometano produzida e registrada, e não necessariamente o enchimento do tanque do caminhão com molécula fisicamente identificável de biometano. É a distinção entre a molécula e o atributo ambiental.  
  3. Isso significa que o benefício da redução de emissões será sentido em outras regiões e não na região que os caminhões rodam. Portanto, de qualquer forma, alguma região será beneficiada com esse tipo de iniciativa.  

Números divulgados 

As comunicações públicas apontam metas ambiciosas: redução estimada em até 99% das emissões da rota/operação tratada e uma projeção de neutralização de aproximadamente 11 mil toneladas de CO₂ por ano, o que foi equiparado ao plantio de cerca de 72 mil árvores em um horizonte anual.  

Os números demandam metodologia documentada — qual é a base (um único caminhão em operação contínua? projeção para frota? horizonte temporal adotado?), quais fatores de emissão foram usados, e se a estimativa de 11.000 tCO₂ considera apenas a neutralização por CGOB ou inclui redução física efetiva de emissões com mudança de combustível.  

O que é o CGOB e por que importa (no contexto regulatório) 

O Certificado de Garantia de Origem do Biometano (CGOB) é o mecanismo criado no Brasil para rastrear e atestar que um volume de gás tem origem renovável — instrumento que ganhou estrutura regulatória e visibilidade com a agenda do “combustível do futuro” e dispositivos normativos recentes (decretos e notas técnicas sobre biometano e certificação). O certificado permite que empresas reivindiquem atributos ambientais (redução/neutralização de emissões) comprando o certificado correspondente ao volume de biometano produzido, mesmo que a molécula consumida fisicamente em um tanque seja GNV convencional.  

Essa separação entre molécula física e atributo ambiental é legítima e está em uso em vários mercados de energia renovável (hidrogênio, eletricidade renovável por certificados). Mas tem implicações: informar se a ação é troca efetiva de combustível na operação ou neutralização por certificado muda a narrativa e a avaliação do impacto técnico e reputacional. 

Por que o projeto é relevante para a mineração e para a pauta ESG 

  • Setor de alto carbono: transporte e logística representam parcela importante das emissões de cadeias minerais. Testes que reduzam essa intensidade têm potencial replicável, se economicamente viáveis. 
  • Risco/benefício comunicacional: neutralizar por certificado pode ser mais rápido e menos disruptivo do que converter toda a frota para biometano, mas corre o risco de ser rotulado como “greenwashing” se não houver cronograma claro para transição física do combustível. 
  • Exemplo-regulatório: a iniciativa aparece em momento de avanço regulatório do biometano no Brasil, com empresas e reguladores definindo regras para CGOB e para contabilização em inventários de GEE — um campo novo, com impacto em como metas climáticas corporativas são anunciadas e verificadas.  

A iniciativa entre Cedro e Gás Verde, sem dúvida, insere a mineração brasileira na agenda de testes com combustíveis alternativos e instrumentos de certificação de origem. Contudo, o impacto real depende de transparência metodológica (como foram calculados os 11.000 tCO₂ e o “até 99%”), de clareza sobre a natureza do CGOB (lastro físico vs. atributo) e de evidência operacional (tamanho da frota, abastecimento, autonomia, custos).

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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