A engenharia da Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) é totalmente brasileira e sempre desenvolveu produtos para as condições do Brasil e países com condições similares. Em cada Fenatran, ela sempre apresenta caminhões conceitos em conformidade com as tendências. O e-Delivery já foi caminhão conceito e há alguns anos é realidade em muitas frotas de distribuição e serviços. Na Fenatran de 2022, a VWCO apresentou VW Meteor Optimus movido a HVO e, na Fenatran deste ano, apresentou o caminhão conceito VW Meteor Hybrid.
A VW também apresentou o VW Constellation 26.280 Biometano que será testado por clientes a partir de 2025. Porém, vamos apresentar este modelo em outro artigo, pois o tema biometano merece um artigo exclusivo e, neste, o foco será veículo híbrido e HVO. Mas já adianto que a VWCO investir em caminhão movido a biometano é uma notícia muito boa.
Tração inteligente
Este novo Meteor Hybrid conta com sistema de tração inteligente desenvolvido em parceria com a Suspensys. Dotado de um motor a diesel e um eixo auxiliar elétrico, esse protótipo vem com tecnologia embarcada para gerenciar o uso de cada trem de força de forma automática, de acordo com a rota e a disponibilidade de bateria, antecipando até mesmo topografias à frente na estrada.
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O conjunto proporciona mais capacidade de tração já que o terceiro eixo se torna trativo, transformando o modelo em um 6×4 sempre que necessário. Isso se traduz em mais torque para aclives ou força para a partida, quando o veículo-conceito traciona um reboque carregado. Estudos preliminares indicam que essa configuração pode reduzir o tempo de viagem graças à potência adicional. Em subidas de serra, por exemplo, o modelo ganha até 20% de velocidade graças a seu adicional de 35% de força trativa nas rodas.
Vazio, pode rodar como 4×2
Por outro lado, também há sistema para elevar o eixo auxiliar quando não estiver tracionando, acarretando menor desgaste dos pneus. O custo operacional se beneficia ainda da menor exigência do conjunto diesel e do sistema de freios. Além disso, o sistema de regeneração recupera energia nas desacelerações, aumentando a eficiência e a economia de bateria. A ampliação de sua autonomia varia em função da operação e da rota.
Desta vez, o conceito agrega soluções para a eletrificação ao mesmo tempo em que flexibiliza a necessidade de infraestrutura, já que o modelo pode rodar somente com o motor a diesel se não houver possibilidade de carregamento em viagens de longa distância ou mesmo receber uma recarga em sistema de baixa voltagem (com 220V). O veículo também possui o sistema de recarga rápida de alta voltagem, com o sistema padrão CCS2.
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Outras soluções da indústria de ônibus e implementos
São soluções híbridas como esta que podem tornar o transporte com veículos pesados mais viável, logicamente, dependendo do valor de aquisição e da manutenção. Produtores de implementos rodoviários, como a Randon, também estão oferecendo implementos com eixo elétrico como auxiliar no conjunto da composição cavalo mecânico mais carreta.
No segmento de ônibus, a Volkswagen desenvolveu e apresentou em algumas feiras o e-Volksbus híbrido, que tinha um motor 1.4 flex, podendo ser abastecido com etanol. Este motor a combustão funcionaria como um gerador de energia para as baterias, mas o projeto foi deixado, e foi desenvolvido outro ônibus elétrico e-Volksbus 100% a bateria que já está em produção.
Ainda sobre ônibus híbrido, a Marcopolo apresentou na última Lat.Bus, o Volare Attack 9 Híbrido, uma alternativa focada na realidade brasileira. O micro-ônibus tem as suas baterias carregadas por um pequeno motor movido a etanol. Assim, ele é livre de tomadas de carregadores caros, pois a energia (etanol) pode ser encontrado em um dos 41.000 postos de combustível espalhados pelo Brasil, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo).
Solução com motor Horse como gerador
A Volare utiliza um moderno motor turbo 1.0 de três cilindros da Horse, empresa fabricante de motores da Renault e Geely. O motor no protótipo da Volkswagen foi um motor maior e muito mais caro, o que fez a empresa seguir com o 100% elétrico a bateria.
A solução da Volare combinada com motores e geradores elétricos da Weg. Com isso, o modelo tem autonomia de até 450 km com um único abastecimento e apenas três pacotes de baterias armazenando 122 kWh. Isso não só proporciona uma maior capacidade de transporte de passageiros, mas também garante que o veículo seja uma opção viável em qualquer região do Brasil, graças à sua neutralidade no ciclo do CO² e à possibilidade de gerar créditos de carbono. Outra grande vantagem do Attack 9 Híbrido é o seu alto grau de nacionalização.
Mais sobre o Meteor Hybrid
Para elevar ainda mais os ganhos ambientais e de eficiência, o conceito do Meteor Hybrid apresenta pacote aerodinâmico composto por um sofisticado conjunto de defletores, que vão desde o teto, passando pelas laterais da cabine e chassi, incorporando também extensores para considerar o pack de baterias, para assegurar a maior aerodinâmica, juntamente com uma proteção de borracha em toda a parte inferior. Já as calotas contam com um design especial para diminuir o arraste.
A bordo da cabine, o motorista passa a desfrutar um maior campo de visão, com alcance de mais de dois quilômetros, proporcionado com o sistema de câmeras e monitores que elimina pontos cegos e permite melhor visibilidade noturna em virtude de sensores infravermelhos, além de colaborar com um menor coeficiente de arrasto aerodinâmico. Não é necessário qualquer ajuste durante manobras e ainda tem um maior controle dos obstáculos no movimento de ré.
Testes iniciais estimam que o conceito Meteor Hybrid pode reduzir em até 10% o consumo de diesel, dependendo da topografia de sua operação. Isso reflete diretamente nas emissões de CO2e, podendo corresponder a mais de 25 toneladas evitadas por ano. E o potencial pode ser ainda maior: a redução supera 90% se abastecido com HVO (óleo vegetal hidrotratado), também conhecido como diesel verde, como é o caso do modelo em apresentação nesta Fenatran de 2024. Nesse cenário, seriam 230 toneladas evitadas.
HVO
O HVO, já amplamente utilizado nos países na Europa e Estados Unidos, segundo a Frota News apurou com a Neste, empresa da Finlândia, com exportação para diversos países no mundo. Inclusive, executivos da Neste já estiveram em reunião com a diretoria da CNT (Confederação Nacional do Transporte) em Brasília.
Então, por que o Brasil não produz o HVO, também conhecido como diesel verde?
O Brasil ainda não produz o HVO (óleo vegetal hidrotratado), também conhecido como diesel verde, em larga escala devido a alguns fatores principais, segundo a Frota News apurou com a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis).
Regulamentação: Ainda não há uma regulamentação específica para o uso do HVO no Brasil. Isso significa que o mercado ainda está se adaptando e aguardando diretrizes claras para a produção e comercialização desse biocombustível.
Infraestrutura: A produção de HVO requer investimentos significativos em infraestrutura, como biorrefinarias especializadas. Embora existam projetos em andamento, como a primeira biorrefinaria dedicada à geração de HVO em Manaus, que deve entrar em operação em 2025, a capacidade produtiva ainda é limitada.
Concorrência com outros biocombustíveis: O Brasil tem uma longa tradição na produção de biocombustíveis, especialmente o biodiesel e o etanol. A introdução do HVO no mercado enfrenta desafios relacionados à concorrência com esses biocombustíveis já estabelecidos.
Custo de produção: O custo de produção do HVO pode ser mais alto em comparação com outros biocombustíveis, o que pode dificultar sua competitividade no mercado brasileiro.
Apesar desses desafios, o HVO está começando a ganhar espaço no Brasil como uma alternativa para reduzir as emissões no transporte, especialmente de carga e aviação. Com o tempo, é possível que o país desenvolva a infraestrutura e a regulamentação necessárias para aumentar a produção desse biocombustível.
Quem quiser aprofundar mais sobre o tema de diesel verde e biodiesel, indicamos o livro “Biodiesel e Diesel Verde no Brasil: Panorama Recente e Perspectivas”, dos autores: Artur Yabe Milanez, Guilherme Baptista da Silva Maia, Diego Duque Guimarães e Cleiton Leandro Alves Ferreira.
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