sexta-feira, dezembro 5, 2025

Transporte de cargas dispara no Brasil e supera em 40% o nível pré-pandemia, diz IBGE

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Boom logístico impulsionado pela agropecuária expõe gargalos de infraestrutura e questiona a sustentabilidade do crescimento

O transporte de cargas vive um momento de aceleração histórica no Brasil. Segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) divulgada pelo IBGE em 14 de outubro, o volume de serviços de transporte de cargas no país está 38,7% acima do patamar de fevereiro de 2020, o último mês antes do início da pandemia.

Em agosto de 2025, a atividade cresceu 0,6% em relação a julho, marcando o quarto resultado positivo consecutivo e um ganho acumulado de 2,4% no período. Apesar do avanço expressivo, o nível ainda está 4% abaixo do recorde histórico alcançado em julho de 2023 — um lembrete de que o setor, embora em expansão, ainda opera em meio a volatilidades.

Para o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo, o bom desempenho da agropecuária tem sido o principal motor dessa alta. “Há aumento tanto no transporte de insumos — como fertilizantes e defensivos — quanto no escoamento da produção. O campo continua puxando a demanda logística em 2025”, afirma.

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A força do agronegócio explica boa parte da escalada no volume de cargas. A colheita recorde de grãos, o crescimento das exportações e a antecipação de entregas de insumos impulsionaram o movimento nas estradas, ferrovias e portos.

Os números do IBGE mostram que o transporte rodoviário continua sendo o principal vetor da expansão, como ocorre nas 20 maiores economias do mundo. No entanto, o transporte ferroviário e o dutoviário — este último impulsionado pela alta na produção de petróleo e gás — também contribuíram positivamente.

No agregado, o setor de transportes vem sustentando a alta do volume de serviços no país, que cresceu 0,1% em agosto, no sétimo mês consecutivo de resultados positivos.

Expansão desigual pelo território

O avanço do transporte de cargas, porém, não é uniforme. Estados com forte presença agrícola e boa infraestrutura logística concentram os maiores ganhos.

No Centro-Oeste, Mato Grosso e Goiás registram níveis de movimentação recordes. No Sudeste, São Paulo e Minas Gerais seguem como eixos estratégicos para o transporte rodoviário e ferroviário, sustentando o fluxo de insumos e produtos industrializados. Já no Sul, a combinação de produção agroindustrial e exportações via portos mantém o ritmo elevado. No entanto, o crescimento escancara desigualdades: estados com infraestrutura precária e menor integração modal ainda enfrentam dificuldades para aproveitar o bom momento.

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Infraestrutura sob pressão

A explosão no volume de cargas reacende um debate antigo: o Brasil tem infraestrutura para sustentar esse ritmo?

Grande parte do transporte de cargas ainda depende das rodovias por razões óbvias, pois as rodovias dão acessos à todos 5.569 municípios e fazendas. O problema é que, segundo a Pesquisa CNT de Rodovias 2025, 26,6% das rodovias brasileiras estão em condições ruins ou péssimas, enquanto 40,4% foram classificadas como regulares e apenas 33% como boas ou ótimas. Esses dados refletem a qualidade do pavimento, sinalização e geometria das vias avaliadas em mais de 114 mil km de rodovias pavimentadas.

O aumento de fluxo em estradas mal conservadas resulta em desgaste de veículos, acidentes e custos adicionais de manutenção, itens que compoem a planilha chamada “Custo Brasil”.

Os 14 bilhões investimentos em ferrovias em 2024 ajudam a resolver parte do problema do setor de commodities, principalmente para exportações. Mais 94,2 bilhões estão previstos para serem investidos pelo Novo PAC até o final de 2026, caso esses recursos sejam concretizados e não sejam uma promessa.

Em uma perspectiva de crescimento da falta de motoristas de caminhões, esses profissionais que atendem a transferência de grandes volumes de cargas de baixo valor agregado seriam liberados para atender outras demandas de transporte com cargas de maior valor agregado e distribuição entre os municípios brasileiros.

Além disso, os portos — fundamentais para o escoamento da produção agrícola — operam próximos ao limite de capacidade em períodos de pico. Filas de caminhões, atrasos e falta de pátios adequados são sintomas de um sistema que cresce mais rápido que os investimentos públicos e privados em logística.

Cargas em alta, desafios à vista

Por trás dos bons números, há sinais de alerta. A alta de 38,7% sobre o nível pré-pandemia é expressiva, mas parte desse ganho reflete uma base de comparação deprimida — o transporte de cargas foi um dos setores mais impactados nos primeiros meses da crise sanitária.

Outro fator de risco é a dependência de um único motor de crescimento: o agronegócio. Uma eventual quebra de safra ou queda nas exportações poderia reverter o ciclo positivo.

Para analistas, o desafio agora é transformar o momento de bonança em ganho estrutural. Isso exige investimentos contínuos em infraestrutura multimodal, ampliação da malha ferroviária, modernização de portos e digitalização de processos logísticos.
Também é essencial diversificar a base de demanda, estimulando setores industriais e de comércio.

“O transporte de cargas é um termômetro da economia. O nível atual mostra que o país voltou a se mover, mas a qualidade dessa movimentação depende de planejamento de longo prazo”, resume Rodrigo Lobo, do IBGE.

O que vem pela frente

Com a economia brasileira crescendo de forma moderada e a inflação sob controle, o setor de transportes deve continuar positivo nos próximos meses, mas em ritmo mais contido.
A grande questão, segundo especialistas, é saber se a infraestrutura e o planejamento público estarão à altura do novo patamar logístico alcançado pelo país.

Enquanto caminhões seguem cruzando as estradas do interior e os portos operam em plena carga, o Brasil vive um momento paradoxal: celebra o dinamismo do transporte de cargas — mas enfrenta, ao mesmo tempo, os limites físicos e estruturais de sua própria capacidade de mover-se.

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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