A escassez global de motoristas profissionais está levando a indústria de transporte a buscar soluções tecnológicas com urgência. A Scania já testa veículos autônomos em rodovias da Europa, operações de mineração na Austrália e, no Brasil, apresentou uma solução voltada ao agronegócio: o Scania P 280 8×4 semiautônomo, desenvolvido especialmente para a colheita de cana-de-açúcar.
Segundo a IRU (União Internacional dos Transportes Rodoviários), 3,6 milhões de vagas de motoristas estão abertas em 36 países que, juntos, representam 70% do PIB mundial. O problema tende a se agravar: 3,4 milhões de caminhoneiros devem se aposentar nos próximos cinco anos, enquanto apenas 6,5% da força de trabalho atual tem menos de 25 anos. Já os profissionais com mais de 55 anos somam 31,6%.
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A conta não fecha — e impacta diretamente a logística de cargas em todo o mundo.
Impactos vão além da escassez

“A falta de motoristas já afeta nossos clientes e a nossa própria cadeia de suprimentos”, afirma Peter Hafmar, vice-presidente e chefe da divisão de soluções autônomas da Scania. “A previsão é de que o problema atinja um ponto crítico na próxima década, com risco de atrasos significativos no transporte de cargas e impacto direto em setores sensíveis ao tempo, como a indústria e o comércio eletrônico.”
Durante a pandemia de COVID-19, por exemplo, a Scania enfrentou dificuldades para entregar caminhões na Europa por falta de motoristas nas transportadoras. O mesmo se aplica ao setor de mineração, que opera em locais remotos e convive com altos custos logísticos e alta rotatividade de pessoal. A automação já é vista como resposta estratégica.
Onde a tecnologia está sendo testada
A Scania já opera caminhões autônomos em minas na Austrália e realiza testes de autonomia nível 4 em rodovias na Suécia e Alemanha. O plano é iniciar operações comerciais nos próximos dois anos, avançando para países como Holanda e China, além de expandir sua atuação na América Latina.
Nos próximos anos, os caminhões da marca poderão trafegar em rodovias públicas sem motorista de segurança a bordo, dependendo da legislação local e da maturidade do mercado.
Autonomia com foco em rotas repetitivas e áreas confinadas
A Scania aposta em duas frentes para a automação:
- Mineração e agronegócio — onde a autonomia já está em uso em áreas confinadas, como no caso do P 280 8×4.
- Transporte rodoviário de terminal a terminal — ideal para rotas longas, previsíveis e repetitivas, que exigem do motorista longas horas ao volante.
“O foco é aplicar a tecnologia onde ela agrega mais valor”, explica Hafmar. “Na Europa, a demanda é mais intensa na Alemanha e Holanda. Já na China, os avanços são rápidos. E a América Latina é vista como mercado estratégico.”
No Brasil
Na Agrishow 2022, a Scania apresentou o modelo P 280 8×4 autônomo, voltado para o setor sucroenergético. Projetado para operar ao lado de colheitadeiras no processo de colheita e transbordo de cana-de-açúcar, o caminhão contribui para a redução das perdas na lavoura, otimizando a transferência da carga com mais precisão.
O modelo é classificado com automação de Nível 2, ou seja, semiautônomo. Ele é equipado com sistemas que controlam direção, aceleração e frenagem, mas ainda exige a presença de um motorista na cabine para manobras específicas e supervisão da operação. A proposta é aumentar a eficiência nas lavouras e, ao mesmo tempo, aliviar a carga operacional do condutor.
E os motoristas? Perderão espaço?
Mesmo com o avanço da tecnologia, os condutores seguirão sendo essenciais na condução em trechos de rodovias sem tecnologia para tráfego autônomo, primeira e última milha, no transporte de cargas perigosas, manuseio especializado e rotas urbanas complexas.
No Brasil, são poucos locais confinados, como na indústria da marca Ypê de produtos de limpeza, em algumas mineradoras e, mais recentemente, no terminal de cargas da ArcelorMittal em Vitória, no Espírito Santo.
Além disso, novos empregos de apoio à operação autônoma surgirão: supervisão remota, operação de hubs, segurança, suporte técnico, desenvolvimento tecnológico e mais.
“A tecnologia ainda está em desenvolvimento e, mesmo quando estiver madura, os caminhoneiros seguirão sendo parte fundamental do transporte rodoviário”, afirma Hafmar.
Nível 5 ainda é um horizonte distante
A tão falada autonomia total — ou nível 5 — ainda está fora do radar da Scania para os próximos anos. A expectativa da montadora é avançar com segurança no nível 4, no qual os veículos operam de forma totalmente autônoma em cenários programados, mas exigem intervenção humana fora desses parâmetros.
Fontes: IRU, Scania e Lume Robotics


