quinta-feira, dezembro 18, 2025

Retrofit elétrico de van aparece como alternativa para logística urbana

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Parceria entre a Unidade Embrapii Powertrain da USP e a startup EcoSave, da Alpha 6, demonstra na prática a viabilidade técnica e econômica do retrofit elétrico com tecnologia 100% nacional

A eletrificação do transporte comercial leve no Brasil começa a ganhar contornos mais concretos a partir de um projeto desenvolvido pela Unidade Embrapii Powertrain da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a Alpha 6, por meio de sua startup EcoSave. A iniciativa comprova que o retrofit elétrico — conversão de veículos a combustão em modelos 100% elétricos — pode ser uma alternativa viável, sustentável e economicamente competitiva para a renovação da frota urbana.

A van Renault Master convertida é um modelo 2015, fabricado em 2014, e com cotação de R$ 111.082 pela Tabela Fipe, que passa a ganhar uma sobrevida após ganhar novo trem de força elétrico. Um modelo similar zero quilômetro custa entre R$ 488.860 (Mercedes-Benz eSprinter) e R$ 569.900 (Ford E-Transit).

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O kit de conversão desenvolvido pela parceria abrange todos os componentes necessários para substituir o motor a combustão por um sistema de tração elétrica, mantendo a estrutura e periféricos originais do veículo. A conversão com o kit reduz os custos de aquisição de um modelo zero novo elétrico em cerca de 30% a 40%, além de ampliar a vida útil da frota já existente de maneira sustentável e financeiramente viável.

Foi o primeiro projeto nosso, da nossa Unidade Embrapii, com eletrificação de veículos. Acho que a gente aprendeu muito”, avalia Bruno Angélico, pesquisador da Unidade Embrapii Powertrain USP.

Da simulação virtual ao veículo real

A primeira fase do projeto foi dedicada a um estudo aprofundado de viabilidade técnica. A equipe da USP mapeou percursos reais da Renault Master na zona sul de São Paulo (SP), criando um ambiente virtual que permitiu simular o uso do veículo em condições reais de operação. A partir desse levantamento, foram especificados os principais componentes do sistema elétrico, como motor, inversor e pack de baterias, dimensionados para atender às demandas da logística urbana.

Na segunda etapa, o foco se voltou ao desenvolvimento e à validação da lógica de controle do powertrain, considerada o “cérebro” do sistema elétrico. O objetivo foi garantir que a experiência de condução permanecesse próxima à de um veículo a combustão, facilitando a adaptação dos motoristas.

Quando a gente fala em lógica de controle, estamos falando de como o sistema responde ao acelerador, qual torque é entregue às rodas e como essa resposta acontece. Buscamos deixar essa sensação o mais próxima possível da de um motor a combustão, porque quem vai dirigir essa van é o mesmo funcionário”, explica Angélico.

Os testes dos componentes — incluindo motor e inversor fornecidos pela WEG — foram realizados em bancadas do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, um dos poucos laboratórios do país homologados para ensaios com máquinas elétricas.

Por que a Renault Master?

A escolha da Renault Master como base para o retrofit foi estratégica. Segundo Leandro Zillig, diretor da Alpha 6, trata-se do modelo mais representativo do segmento no país.

Vale acrescentar também que a Renault Master é de menor valor no mercado, aumentando a diferença entre o retrofit e aquisição das opções atuais de vans elétricas no mercado brasileiro, todas importadas e com muitas tecnologias de conectividade e segurança, como ADAS e outras.

Pressões regulatórias

O projeto se insere no contexto das metas ambientais assumidas pelo Brasil e das exigências locais de eletrificação. Em São Paulo, a Lei Municipal nº 16.802 determina que 50% das frotas estejam eletrificadas até 2028. Embora prazos semelhantes tenham sido frequentemente postergados — tanto no Brasil quanto em países como Estados Unidos e, mais recentemente, na Europa — iniciativas como o retrofit oferecem às empresas de transporte e logística uma alternativa viável para cumprir compromissos ligados à Agenda ESG.

Nesse cenário, a adaptação de veículos a combustão para sistemas elétricos desponta como solução pragmática e de transição, capaz de acelerar o processo de descarbonização da mobilidade urbana.

Testes de rua e próximos passos

O protótipo da van elétrica já está concluído e entra agora na fase mais decisiva: os testes em condições reais de operação. A previsão é que o veículo rode cerca de 5 mil quilômetros, permitindo avaliar a robustez do sistema e o comportamento em uso contínuo.

Os resultados preliminares já superam as expectativas iniciais. A autonomia, projetada em cerca de 200 quilômetros, alcançou aproximadamente 250 quilômetros, impulsionada pela eficiência do sistema de regeneração de energia. O desempenho atende com folga perfis típicos de uso urbano, como transporte escolar e entregas, que costumam rodar em torno de 120 quilômetros por dia.

Um caminho nacional para a eletromobilidade

A conclusão bem-sucedida do projeto da Unidade Embrapii Powertrain da USP com a EcoSave e a Alpha 6 reforça a capacidade técnica da engenharia brasileira em desenvolver soluções avançadas de eletromobilidade. Mais do que um protótipo, o retrofit da Renault Master aponta para um modelo de negócio escalável, alinhado à sustentabilidade, à realidade econômica das frotas e às exigências regulatórias.

Em um país com frota envelhecida e desafios de financiamento, a eletrificação do que já está rodando pode se tornar um dos caminhos mais rápidos e eficientes para reduzir emissões e modernizar o transporte leve no Brasil.

Sobre a Embrapii

A Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) é uma organização social que atua em cooperação com Instituições de Ciência e Tecnologia, públicas ou privadas, para fomentar a inovação na indústria brasileira. O modelo conecta centros de pesquisa e empresas, compartilhando os custos da inovação por meio de recursos não reembolsáveis, com foco na introdução de novos produtos e processos no mercado.

A Embrapii possui contrato de gestão com o Governo Federal, por meio dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação; da Educação; da Saúde; e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, além de parcerias com o Sebrae e o BNDES.

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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