quinta-feira, novembro 21, 2024

Resiliência para mudança de tecnologia: de petróleo para energia renovável

Desde a invenção da roda, a mudança de tecnologia era com intervalos de tempos confortáveis e suficientes para adaptação. Registros apontam que a roda foi inventada há 4 milênios a.C. Dizem também que a roda não foi inventada, mas copiada. Um primata viu um coco cair da árvore e apenas teve um insight. Isso é história. A realidade atual é que as mudanças tecnológicas não nos permitem ficar sem se atualizar de um dia para o outro. E para se adaptar às mudanças é necessária muita resiliência.

Na semana passada, comprei um aparelho de telefone fixo em um supermercado. O aparelho é igual ao de décadas atrás. Difícil de achar, pois, mesmo muito barato, R$ 39,90, ninguém quer mais. Já o meu celular, comprado há menos de um ano, já está ultrapassado para o hoje. Então, comece a aceitar essa grande mudança: o veículo com motor movido por combustível fóssil é como o aparelho de telefone fixo e o celular é como o veículo elétrico.

Porém, a maior dificuldade, inclusive para países ricos, é a quantia de dinheiro envolvida. O veículo tradicional vai custar cada vez menos e desvalorizar menos. O veículo elétrico de hoje vai ser ultrapassado amanhã e vai desvalorizar mais por, como ocorreu com os telefones celulares, ficará muito obsoleto rapidamente.

Grandeza de valores

Para ainda usar o celular como analogia, limitada, temos aparelhos de smartphone entre R$ 200 e R$ 15 mil. Os carregadores de celulares vem com o aparelho e podem ser ligados em tomadas comuns, residenciais. E mesmo que precise comprar um carregador de celular, ele custa entre R$ 50 e R$ 150 reais.

Aqui começa o buraco negro nesta analogia. Os veículos elétricos variam entre R$ 146 mil e R$ 2 milhões considerando as tecnologias atuais. Um caminhão pesado movido a hidrogênio pode ultrapassar os R$ 3 milhões. Parece que a conversa começou a ficar mais elitista? Ainda não falamos dos valores dos carregadores rápidos. A conta vai aumentar e esperamos que abaixe um pouco com o ganho de escala. Temos que esperar para ver.  

Sobre carregadores, podemos comprar o de celular por valores entre R$ 50 e R$ 150 reais. O carregador para veículo elétrico parte de R$ 7 mil no Mercado Livre. No Ali Express, desde que possa esperar alguns meses, encontra a partir de R$ 1.300. Mas são carregadores de baixíssima capacidade, que podem levar mais de 12 horas para carregar uma bateria pequena. Mas temos sistemas eficientes, como os da ABB e Siemens, por R$ 300 mil (incluindo a construção da infraestrutura de instalação), que vai recarregar a bateria em minutos. Precisava custar tão caro?

Além do elétrico puro

Porém, temos que fazer essa transição tecnológica, não só para o elétrico, pois temos no radar biometano, HVO, hidrogênio verde, entre outras tecnologias. Vale lembrar que a célula de combustível também utiliza eletricidade, mas não tem nada a ver com o elétrico como conhecemos. Mesmo assim, devido à dependência de muitos componentes importados, um caminhão a gás hoje custa de 40% a 50% mais caro do que o mesmo modelo a diesel.

mudança de tecnologia
Mudança de tecnologia: Iveco S-Way movido a gás será uma das opções

Alguém vai ter que pagar esta conta financeira. Ainda falaremos da conta intelectual.

Há grandes empresas querendo pagar esta conta, todas com compromissos com a redução de GEE (gases que provocam o efeito estufa, como o CO₂), com o Pacto de Paris, entre outros compromissos com investidores e clientes. Os pagantes de impostos também fazem parte da lista dos pagantes da conta, mesmo que inconscientemente.

 Agora vamos falar sobre a conta intelectual, pois as pessoas vão ter que construir novos conhecimentos ou contratar quem tem tais conhecimentos.

Alguns transportadores já começam a experimentar caminhões elétricos para fazer o cálculo de TCO, como é o caso da Braspress com este VW e-Delivery

Precisamos conhecer mais

Abaixo, vou deixar, neste artigo, apenas algumas perguntas sobre o conhecimento básico, mas necessário, sobre os veículos elétricos. Como missão, vamos responder às perguntas em próximos artigos no Frota News de forma contínua sobre a mudança de tecnologia:

Qual é o principal componente de um veículo elétrico? E qual é mais instável?

Esta resposta é fácil. A bateria. No entanto, qual bateria? A mais comum é a de lítio (Li-íons). Por que os especialistas não estão felizes com a dependência do lítio, além do seu alto custo e impacto negativo ambiental?

Sabia que é possível dobrar a autonomia dos caminhões?

mudança de tecnoloiga
A Plug.in é uma startup que consegue dobrar a autonomia dos caminhões, como o modelo desta foto, que teve a autonomia ampliada de 200 km para 400 km

Quais tecnologias que estão para chegar em termos de bateria, a curto, médio e longo prazo? O que sabemos sobre sódio sólido? E o nióbio? Existem mais de U$ 400 bilhões investidos para o desenvolvimento de baterias mais baratas, mais leves, menores, com carregamento rápido e maior durabilidade em termos de autonomia e vida útil. Tudo sem esquecer da reciclagem. Os U$ 400 bilhões investidos ainda não deram a resposta que gostaríamos, mas versões intermediárias, melhores do que as atuais, estão chegando.

Portanto, é muito importante saber sobre isso. A chegada de uma nova tecnologia faz a anterior perder valor mais do que a substituição do iPhone A pelo B. Quando o assunto é veículo, a diferença ultrapassa a cada de centenas de milhares de dólares, e não mil dólares como ocorre com os celulares.

Qual a diferença entre um carregador veicular elétrico AC para um DC? Quantos kW são necessários para o seu desejo de tempo para recarga da bateria?

Mudança contínua

Para não me alongar muito, paro por aqui, pois ainda há muitas questões a serem discutidas sobre mudança de tecnologia. Mas tenha certeza, há bastante investimento em pesquisas que vão nos trazer as respostas. Mas esteja preparado para muitas mudanças renovadoras e contínuas para esta transição necessária para a mobilidade de pessoas e cargas, e, como mídia jornalística, é nosso papel fazer perguntas e trazer as respostas na medida que vão surgindo.

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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