quinta-feira, novembro 21, 2024

O VW Constellation Biometano e o cenário de crescimento da produção e distribuição de gás

Segundo o Anuário da Indústria Automobilística Brasileira, publicado pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), entre 2018 e 2023, foram emplacados 1.418 caminhões movidos a gás, e quase todos da marca Scania. Esse período tinha praticamente só a Scania como fabricante de caminhões a gás no Brasil. Em 2024, até a data da publicação deste artigo, a Scania vendeu mais 400 caminhões a gás. Recentemente, a Iveco também lançou dois modelos, o S-Way NG e o Tector NG. Agora, a Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) apresenta o VW Constellation 26.260. 

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O VW Constellation Biometano 

O Constellation 26.280 modelo movido a biometano, segundo a Volkswagen, tem a maior capacidade de armazenamento em seu segmento de aplicação, motorização mais potente e potencial para redução de 90% das emissões de CO2e. Os primeiros testes em operação real do veículo serão realizados por clientes a partir de 2025. 

A entrada da Volkswagen Caminhões neste segmento vai impulsionar e animar frotistas e embarcadores a investirem na renovação de frotas com solução para a descarbonização do transporte rodoviário de carga, já que a marca é líder de mercado, principalmente, do segmento de semipesados.  

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A engenharia projetou o modelo de acordo com as necessidades das empresas do setor de coleta de resíduos sólidos. O protótipo traz configurações características da família vocacional Compactor. O veículo é equipado com tanques de aço carbono que somam 240 metros cúbicos (960 litros) de capacidade de armazenamento, a maior do seu segmento, permitindo a cobertura de longas distâncias sem a necessidade de reabastecimento frequente, com uma autonomia de até 300 quilômetros. 

Os ganhos para a agenda ESG 

A iniciativa vai ajudar as empresas com pautas ESG e atenta às necessidades do mercado. A utilização do biometano, combustível que impacta de forma positiva e significativamente nas emissões de gases do efeito estufa, reduzindo em até 90% as emissões de CO2e no ciclo poço à roda.  

Em uma operação típica em que o veículo percorre de 50.000 a 70.000 quilômetros ao ano, este valor equivale à redução de 150 toneladas de CO2e emitidas ao ano. Além disso, trata-se de um combustível renovável, ou seja, sua produção pode ser contínua, desde que haja uma fonte constante de matéria orgânica. Empresas como PepsiCo e L’Oréal investiram com parceiros na construção de postos de biometano perto de seus centros de distribuição, facilitando o abastecimento de suas frotas, seja própria, ou de fornecedores de serviços de transportes. 

Portanto, do ponto de vista econômico, os caminhões a gás abastecido com biometano contribuem para um cenário especialmente interessante. A economia com combustível gerada pela produção própria de biometano possibilita a redução da dependência da importação de gás natural veicular da Bolívia e de petróleo e diesel de outros países.  

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O motor Cummins  B6.7N

O Constellation 26.280 é equipado com transmissão totalmente automática e motor Cummins de ciclo Otto de 280 cv de potência e 1.100 Nm de torque, similares à versão diesel. A Frota News já entrevistou motoristas que já trabalham com Scania movido a gás e há o consenso na opinião deles que o desempenho é o mesmo de um caminhão a diesel similar e ainda com a vantagem de produzir menor ruído. 

VW Constellation
O motor Cummins B6.7N instalado no motor e ele no mostruário da fabricante

Segundo a engenharia de Resende (RJ), onde fica a fábrica da VWCO, o 26.280 Biometano combina maior capacidade de arranque, aceleração mais rápida, melhor tração e direção mais confortável e controlada.  

O motor traz também redução significativa nos níveis de ruído. Os materiais isolantes e sistema de exaustão eficientes contribuem para um ambiente de trabalho mais silencioso para os coletores e para o menor impacto sonoro nas cidades, possibilitando operações noturnas nos centros urbanos. Graças à sua arquitetura simples e robusta, com sistema de pós-tratamento dos gases de escape com catalisador de três vias, este modelo de motor oferece ainda baixa manutenção e alta durabilidade. 

Equipamentos incluso no 26.280 Biometano 

Mantendo o padrão de tecnologia dos caminhões VW, o Constellation 26.280 Biometano conta com freio retarder, sistema inteligente que garante ainda mais segurança, controle e eficiência às operações, possibilitando a otimização do custo total de operação e aumento significativo da vida útil dos componentes. Além disso, o veículo é equipado com controle de estabilidade e assistente automático de partida em rampa, itens que proporcionam ainda mais confiabilidade às operações. O projeto estreia novo sistema de direção, suspensões modulares e eixos. 

O potencial do biometano no Brasil 

No mundo inteiro, observa-se uma onda de investimentos na produção do biometano, também denominado gás natural renovável (GNR), principalmente no Brasil. Com a entrada da Volkswagen no mercado de caminhões movidos a gás é mais um incentivo para a indústria de produção do biogás, que depois de um processo de purificação, vira biomentano. 

No Brasil, há potencial de aproveitamento de biomassa dos setores agropecuário (maior emissor de metano no país), sucroalcooleiro e agroindustrial para produção econômica de biometano. Também é muito significativo o potencial do setor de resíduos, conhecido também como “lixões” (segundo maior emissor de metano), que vive um esperado momento de transição com a vigência do novo marco regulatório do saneamento.  

Uma das bioplantas da Tupy/MWM em funcionamento para produção de biometano

Bioplantas para produção de biometano 

A Tupy, empresa brasileira e maior fabricante mundial de blocos de motores, entre adquiriu a MWM Motores e Geradores em 2022. Ambas trabalham junta na construção de bioplantas para produção de biometano e biofertilizante. Outras empresas vão construir mais de 400 postos para abastecimento de caminhões a gás com bombas de alta pressão. Projetos similares ocorrem no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e outros Estados.  

Outra empresa que está investindo pesado projetos de transporte utilizando gás é a Virtu GNL. “Temos um projeto pioneiro, o maior de descarbonização do transporte de longa distância do país. É uma solução logística disruptiva, sustentável e eficiente. Nessa primeira fase, a Virtu GNL implantará duas centrais de descarbonização nos municípios de Presidente Dutra e Balsas, no Maranhão, com investimento inicial de R$ 180 milhões para atuar como plataforma integrada no escoamento da produção. O projeto da Virtu GNL é criar o corredor verde de GNL do Norte ao Sul do Brasil, com investimento previsto de R$ 5,7 bilhões, que compreende 39 centrais de descarbonização e 5.300 cavalos mecânicos até 2030”, explica José de Moura Júnior, CEO da Virtu GNL. A Virtu, que comprou 150 caminhões Scania GNL, sendo a maior frota de GNL. 

Há cerca de uns dois anos, a Abiogás havia divulgado que havia R$ 7,5 bilhões de investimentos em andamento para construção de usinas para produção biogás e biometano. No entanto, a chegada de novos investimentos tem sido constante que há uma dificuldade de contabilizar a totalidade em 2024, um número que vamos pesquisar e divulgar em breve. 

Mais projetos

Durante o evento Frotas e Fretes Verdes 2024, ocorrido em São Paulo, gestores de várias distribuidoras de Gás Natural do Sudeste se encontraram para debater estratégias e desenvolvimento do setor de GNV.  

Participaram os representantes da anfitriã Comgás, ESGás, Necta, Naturgy e Gasmig. A SCGás, distribuidora de Santa Catarina, participou como convidada especial, apresentando sua nova tarifa de GNV para frotistas aos colegas. 

Entre os vários temas, eles discutiram ações conjuntas para o fortalecimento do mercado de GNV, com foco especial no desenvolvimento do uso do energético em veículos pesados, sem esquecer as vantagens do combustível para veículos leves.  

Entre os temas abordados, foram abordadas questões de compliance e compartilhamento das informações de volume de vendas, clientes potenciais e contratos, estratégias de expansão de mercado e tecnologias de apoio ao consumidor de GNV. 

Outros pontos abordados foram a consulta à Abegás sobre dados de vendas e boletins do setor, a criação de aplicativos para localização de postos de GNV (principalmente em rodovias), a realização de feiras e eventos com patrocínios conjuntos, bem como a inclusão de postos de GNV em aplicativos de GPS (Waze).  

Um destaque foi a proposta de um novo Rally de economia, cujo objetivo é conscientizar sobre os benefícios do GNV. A ideia é que seja realizado em parceria com instituições de ensino como USP, UFMG, UFRJ e Unicamp. 

Os gestores também conversaram sobre um tema que preocupa bastante o setor: a necessidade de uma consulta pública com a Agência Reguladora do Estado do Rio de Janeiro para tratar de possíveis fraudes na medição do GNV.  

Com essas ações as distribuidoras esperam impulsionar o uso do energético, além de fortalecer sua imagem como uma alternativa eficiente e sustentável para diversas modalidades de transporte. 

GNV em Minas Gerais

De acordo com o Gerente de Comercialização de Gás Natural Veicular, Welder Souza, a redução na tarifa do GNV, anunciada no início de novembro, vai impactar na redução dos preços nos postos revendedores e aumentará a competitividade frente ao etanol, diesel e gasolina, desta forma, diminuindo os custos para os motoristas e empresas frotistas, que utilizam o GNV em suas frotas de caminhões. 

“Nossa política de preços é alinhada com as diretrizes do Governo do Estado, que tem foco em contribuir para melhorar a vida dos mineiros. Os benefícios da redução da tarifa do GNV serão imediatos. Os motoristas vão sentir no bolso a economia na hora de abastecer”, afirmou. 

Ele destaca, ainda, que por meio da Resolução SEDE n° 53, de 28/12/2023, que vincula a tarifa do Gás Natural Veicular (GNV) e do Gás Natural Comprimido Veicular (GNC-V) à competitividade do energético, em relação à Gasolina, a Gasmig está aplicando um desconto adicional na tarifa de R$0,15/m³. 

Dessa forma conferindo uma economia superior a 30% para os veículos leves e superior a 20% para os veículos pesados. 

Investimentos nos Corredores de GNV

Os investimentos contínuos da Gasmig já possibilitaram a criação de quatro corredores de GNV, que dão acesso aos outros três Estados da região Sudeste e à Bahia. 

São eles: Corredor GNV BH-Rio – BR-040, Corredor GNV Fernão Dias – BR-381, Corredor GNV Vitória – BRs-381/262 e Corredor GNV Rio-Bahia – BRs-116/381. 

O principal objetivo é garantir, ao menos, um posto GNV a cada 400km de distância nas principais rodovias que ligam Minas a outros estados, permitindo o alcance de regiões estratégicas. 

A Companhia quer, ainda, adicionar outros quatro postos, até o final de 2026, previstos nas metas da Segunda Revisão Tarifária Periódica, totalizando 74. 

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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