Saiu nova pesquisa sobre a situação de escassez global de motoristas da IRU (International Road Transport Union em inglês ou Internacional dos Transportes Rodoviários). A princípio, parece uma cópia da pesquisa do ano anterior, mas, nesta última, há novas informações. O levantamento, feito anualmente, traz diversos outros dados e, a novidade deste ano, é que a idade média dos motoristas aumentou, aumentando o número de profissionais que estão mais próximos da aposentadoria e menos jovens entrando no setor.
A escassez global de motoristas de caminhão persiste em 3,6 milhões de vagas não preenchidas em 36 países.
Aumento do abismo etário:
- Jovens em declínio: A participação de motoristas com menos de 25 anos na força de trabalho caiu 5,8% de 2023 para 2024, atingindo apenas 6,5% do total.
- Envelhecimento: Em contraste, a parcela de motoristas com mais de 55 anos representa 31,6% do total.
- Bomba-relógio demográfica: A idade média dos motoristas de caminhão globalmente subiu para 44,5 anos, e a previsão é que 3,4 milhões de motoristas se aposentem nos próximos cinco anos, agravando ainda mais a crise.
Salários e satisfação:
Apesar da escassez, os salários dos motoristas de caminhão permanecem atrativos, superando o custo de vida básico em todas as regiões. Vale lembrar que, apesar do Brasil fazer da IRU, por meio da NTC&Logística, a pesquisa não inclui levantamentos do Brasil, apesar, da vizinha Argentina.
Além disso, a satisfação no trabalho é alta, com 81% dos motoristas satisfeitos com sua profissão, especialmente entre os mais jovens.
Desafios e soluções:
O relatório da IRU destaca que a crise de escassez de motoristas é um problema estrutural de longo prazo que exige ações coordenadas e contínuas. Entre os principais desafios, destacam-se:
- Falta de atratividade da profissão para os jovens.
- Condições de trabalho desafiadoras, como falta de áreas de descanso adequadas.
- Obstáculos burocráticos para a obtenção de habilitações e qualificações.
Para enfrentar esses desafios, a IRU propõe:
- Integrar melhor os caminhos de carreira de motorista profissional aos sistemas educacionais.
- Remover limites de idade irrealistas para treinamento e qualificação.
- Investir em áreas de estacionamento e descanso seguras e bem equipadas.
- Valorizar e respeitar mais esses profissionais.
Impacto na economia global:
A crise de escassez de motoristas de caminhão tem um impacto significativo na economia global, afetando o transporte de mercadorias, o comércio e o crescimento econômico. A IRU alerta que, se medidas urgentes não forem tomadas, a situação pode se agravar ainda mais, com consequências negativas para diversos setores.
Relatório completo:
O relatório completo da IRU, com 150 páginas, detalha a situação da escassez de motoristas em 36 países, incluindo análises por idade, gênero, país, tamanho da empresa e tipo de operação. O relatório também inclui dados sobre a satisfação no trabalho dos motoristas e soluções para atrair e reter profissionais no setor.
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O que mais recebemos na redação da Frota News é a reclamação que falta motorista. Isso é um mito e não é difícil de provar. Todos os releases (comunicado de empresa para jornalista) recebidos por nós são analisados e as informações checadas. A maioria é publicidade. Apenas 5% passam pela checagem. E os que não passam nos inspiram. Existe um mito que há escassez de motoristas, uma mentira que escurto há decádas. O que hoje consideramos como inverdade, pelo menos nós estudamos tema. A realidade é que há profissões mais valorizadas, como de “produtor de conteúdo para redes sociais”.
E é mundial o problema de falta de motorista, mas por razões diferentes. Nos Estados Unidos é porque a qualidade de vida nas cidades são melhores do que nas estradas. O que as transportadoras dos Estados Unidos estão frazendo? Oferecendo salários acima de 100 mil dólares por ano, plano de saúde e dentista para a família inteira e, o principal, o fim de semana com a família. Um dia chegaremos lá, mas estamos longe.
De acordo com um estudo da Secretaria Nacional de Trânsito (SENATRAN), entre 2013 e 2023, o Brasil perdeu cerca de 1,1 milhão de motoristas profissionais, uma redução de 20% na última década. As razões são diversas, como assassinato, acidentes e depressão.
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Esse cenário de motorista é um reflexo de uma tendência global, mas por razões diferentes. Segundo a União Internacional dos Transportes Rodoviários (IRU) (que só estuda o problema na Europa), há um déficit de mais de 3 milhões de motoristas de caminhão não preenchidos no mundo. Sobre o déficit é verdade e vai aumentar, pois a maioria dos motoristas de hoje estão próximo da aposentadoria. E quantas transportadoras dão oportunidade para os entrantes? Poucas!
Diante dessa realidade, a contratação de motorista estrangeiro é vista como uma alternativa possível (para os países ricos), embora ainda distante por causa de questões burocráticas e culturais. José Alberto Panzan, diretor da Anacirema Transportes e presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de Campinas (SINDICAMP), avalia que essa solução pode ganhar força caso a falta de profissionais afete de forma crítica as operações das transportadoras. “Essa pode ser uma saída quando as alternativas internas, como a atração de profissionais locais, não são eficazes”, afirma o executivo. No entanto, ele ressalta que a viabilidade dessa medida depende de políticas governamentais que facilitem a obtenção de vistos e autorizações de trabalho, além da adaptação do setor para acolher e integrar esses profissionais.
Ou seja, prepare o orçamento para pagar salários maiores para motorista profissionais e bem-treinados.
Marcel Zorzin, CEO da Zorzin Logística, reforça que a escassez de motoristas é um problema que tende a se agravar nos próximos anos. E as transportadoras ao exigirem profissionais com experiência para resolverem um problema de curto prazo sem pensar no longo prazo estão acelerando o problema.
“A categoria tem uma idade elevada e, com a aposentadoria de parte desses profissionais, estima-se que o déficit possa chegar a 30%. Precisamos de estratégias para tornar a profissão mais atrativa, seja por meio de melhores salários, condições de trabalho mais favoráveis ou a busca por mão de obra de outros países”, destaca.
Embora o Brasil conte com cursos (limitados) e investimentos do setor para capacitação de motoristas, a admissão de profissionais estrangeiros apresenta desafios que vão além da burocracia documental. José Alberto Panzan destaca que a adaptação desses motoristas às normas, à cultura e às particularidades do transporte nacional exige um esforço coordenado entre empresas, entidades do setor e órgãos reguladores. “Empresas podem investir em programas de integração, tanto técnicos quanto culturais, e buscar parcerias com sindicatos, órgãos governamentais e entidades de classe para facilitar mudanças regulatórias necessárias”, comenta.
A recente aprovação do reconhecimento recíproco de carteiras de habilitação entre Brasil e Itália também levanta novas possibilidades. “Podemos pensar em ampliar essa medida para outros países do Mercosul, por exemplo, facilitando a contratação de motoristas estrangeiros”, pontua Marcel. “Mas também enfrentamos um movimento inverso: muitos profissionais brasileiros estão deixando o país para trabalhar em lugares onde a remuneração é mais atrativa.” E podemos falar sobre empresas dos Estados Unidos estão buscando motoristas de caminhão no Brasil?
Alternativas
Para mitigar a falta de motoristas, a Anacirema Transportes já adota algumas estratégias, como a utilização de motoristas PX e a participação em programas de capacitação do SEST SENAT. Isso é um paliativo.
“Essas iniciativas têm sido fundamentais para reduzir a carência de profissionais, mas sabemos que é preciso ir além. Atrair e reter talentos qualificados exige um esforço contínuo”, explica Panzan.
A Zorzin Logística, por sua vez, tem investido na ampliação da participação feminina no setor. A Fabet, fundação de educação no transporte sem fins lucrativos, foi pioneira no treinamento de mulheres como motoristas profissionais, com turmas formadas para Raízen, Postos Ipiranga, Magazine Luiza, Ambev, Grupo Rodonaves, entre outras empresas.
Para tornar a profissão mais atraente, a Anacirema Transportes aposta em benefícios como planos de saúde, bonificações por desempenho e melhorias nas condições de trabalho, incluindo horários flexíveis e roteiros otimizados. No entanto, a maior reclamação dos motoristas é falta de educação dos funcionários das empresas que recebem ou despacham a carga, segundo a Fundação Elizabeth Randon. Além disso, investe em campanhas de valorização da profissão e parcerias com escolas técnicas para formar novos motoristas.
“É fundamental construir uma imagem mais positiva da profissão, que desempenha um papel essencial na economia do país e, para isso, precisamos valorizar e investir”, conclui Panzan.