Uma nova pesquisa global da IRU (International Road Transport Union) revelou um retrato complexo da transição energética no transporte rodoviário comercial. O estudo mostra que mais de 70% dos operadores têm a descarbonização como uma preocupação central em suas estratégias, mas enfrentam barreiras significativas, que vão desde o alto custo de veículos e energia até a falta de infraestrutura adequada.
Apesar das dificuldades, o levantamento feito em diversos países aponta que mais de 50% das empresas planejam investir em combustíveis alternativos nos próximos cinco anos, com destaque para os biocombustíveis, considerados a alternativa mais viável no curto prazo. Em segundo lugar, aparecem os veículos elétricos, que ganham espaço, mas ainda esbarram na limitação de pontos de recarga e no preço elevado.
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Pressão regulatória versus realidade operacional
A pesquisa, que pela primeira vez avaliou o status da descarbonização no setor e os planos de investimento futuros, destaca uma contradição: as operadoras querem reduzir emissões, mas não encontram condições práticas para avançar.
“O setor de transporte rodoviário está comprometido com a neutralidade de carbono, mas esta nova pesquisa mostra que a maioria das empresas luta para conciliar as expectativas regulatórias e de mercado com os altos custos iniciais e a falta de infraestrutura”, afirmou Umberto de Pretto, secretário-geral da IRU.
Segundo ele, a situação é especialmente crítica para as pequenas e médias empresas (PMEs), que representam 85% das transportadoras em todo o mundo. “Se não removermos as barreiras de custo e infraestrutura, os veículos a combustíveis alternativos serão quase impossíveis de adquirir e operar para muitas transportadoras, colocando em risco os compromissos globais de neutralidade de carbono”, completou.

Barreiras financeiras e operacionais
Um dos pontos centrais levantados pelo estudo é a dificuldade de repassar os custos da transição aos clientes. A maioria dos operadores relatou que embarcadores e contratantes não estão dispostos a pagar mais caro pelos serviços de transporte, mesmo diante do investimento necessário em veículos limpos.
Além disso, a pesquisa mostra que 90% das empresas ainda planejam adquirir novos caminhões a diesel no futuro, reflexo direto da falta de condições competitivas para os combustíveis alternativos.
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Caminhos para avançar
O relatório defende que governos e reguladores precisam agir com urgência para criar incentivos, reduzir riscos de investimento e ampliar a infraestrutura de abastecimento e recarga. “Sem essas condições, milhões de operadores não conseguirão migrar para tecnologias de baixo carbono”, reforçou Pretto.
Além da análise sobre cargas, a pesquisa também avaliou o transporte coletivo de passageiros, eficiência de motoristas, veículos e redes logísticas, compondo um panorama global detalhado em 90 páginas. O documento dedica ainda seções às abordagens regulatórias atuais e às condições favoráveis necessárias para que o setor avance em direção à neutralidade climática.
Com a pressão crescente de metas ambientais e a necessidade de manter a competitividade, o transporte rodoviário comercial se vê diante de um dilema: o desejo de descarbonizar é real, mas as condições de mercado e infraestrutura ainda estão muito distantes da realidade das transportadoras.


