Setor transportador cresce e se moderniza, mas infraestrutura viária federal avança a ritmo lento; concessões aumentam, mas duplicações ainda são insuficientes, como mostra o Atlas CNT 2025
A Confederação Nacional do Transporte (CNT) lançou, terça-feira (24), a terceira edição do Atlas CNT do Transporte, uma das mais abrangentes publicações técnicas sobre infraestrutura logística do Brasil. Com dados atualizados, análises por modal e recortes regionais, o Atlas apresenta um panorama detalhado da realidade do setor em um país de dimensões continentais — onde o transporte terrestre, especialmente o rodoviário, ainda desempenha papel central na circulação de mercadorias e pessoas, como em todos os países do mundo.
O Atlas 2025 é resultado de um trabalho metodológico robusto. A publicação reúne dados da própria CNT, como a Pesquisa CNT de Rodovias, e de outras fontes oficiais, organizados em mapas interativos com novos recursos gráficos, incluindo visualizações em 3D. A Frota News fez uma curadoria das principais informações para este artigo e há o link para os gráficos no final deste artigo.
Com ênfase em diagnósticos estruturais e intermodais, o Atlas também destaca a atuação sustentável do setor, por meio do programa Despoluir, além de abordar os efeitos da infraestrutura na produtividade econômica nacional.
Matriz Global de Transportes de Carga: o que os números realmente mostram?
“O Atlas vai além de um repositório de informações. É um instrumento de inteligência que mostra, de forma clara, a grandiosidade do setor transportador e como sua atuação é imprescindível para o desenvolvimento do país”, afirma Vander Costa, presidente do Sistema Transporte (CNT, SEST SENAT e ITL).
Rodovias concentram maior parte da movimentação no Brasil
No Brasil, o sistema rodoviário responde por 65% da movimentação de cargas e 95% do transporte de passageiros. Está é a média das maioria das grandes economias do mundo, não sendo novidade, e nem particularidade do Brasil. Quando o PIB de um país cresce, o transporte cresce para todos os modais, obviamente, haviando deficiências em alguns modais devido a proplemas históricos de gestão pública da infraestrutura.
A razão da predominância do transporte rodoviário terrestre continua sendo óbvia: flexibilidade, capilaridade e capacidade de atendimento porta a porta, especialmente em curtas e médias distâncias. Mas, diferentemente de outros modais, como o ferroviário e o aquaviário, o sistema rodoviário depende de infraestrutura amplamente disponível, o que revela tanto sua importância quanto sua vulnerabilidade. Além disso, o setor exportador tem grande interesse nos modais ferroviário e aquaviário para atender os importadores de commodities.
Segundo o Atlas, a malha rodoviária brasileira compreende rodovias federais, estaduais, distritais e municipais, com jurisdições e responsabilidades distintas. No caso das rodovias federais, a nomenclatura “BR” seguida de três dígitos define a orientação geográfica (radial, longitudinal, transversal, diagonal ou de ligação), conforme o Plano Nacional de Viação.
As rodovias radiais, como a BR-040, partem de Brasília para outras capitais. As longitudinais (BR-153, por exemplo) cruzam o país no eixo Norte-Sul, enquanto as transversais (como a BR-262) o fazem no sentido Leste-Oeste. Já as diagonais e rodovias de ligação conectam regiões em múltiplas direções e integram a malha nacional e internacional.
Frota pesada cresce quase 42%, mas malha federal pavimentada pouco evolui
Entre 2014 e 2023, a frota de veículos pesados no Brasil cresceu 41,8%, enquanto a extensão da malha rodoviária federal pavimentada aumentou apenas 0,3%. Isso significa um descompasso alarmante entre a demanda por infraestrutura e a capacidade instalada do país, gerando gargalos logísticos e riscos crescentes de acidentes, especialmente em trechos não duplicados.
Atualmente, apenas 12,8% da malha federal é duplicada ou está em processo de duplicação, o que representa 8.493 quilômetros em todo o território nacional. Considerando a importância do escoamento da produção agroindustrial e o aumento da circulação de cargas pesadas, esse índice é insuficiente para atender às exigências de eficiência, segurança e competitividade logística.
Avanço nas concessões: mais 8,8 mil km transferidos à iniciativa privada desde 2018
Uma das principais evoluções desde a última edição do Atlas, lançada em 2018, foi a ampliação da malha concedida à iniciativa privada. Nesse período, foram concedidos mais 8.834 quilômetros de rodovias, um crescimento de 45,5% em relação ao volume anterior. As concessões, além de transferirem à iniciativa privada a responsabilidade por operação, manutenção e investimentos, também preveem metas de desempenho, como duplicações, melhorias de segurança e atendimento ao usuário.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) é o órgão regulador das concessões federais, enquanto agências como a Artesp (SP) e a Agepar (PR) desempenham função equivalente em níveis estadual e municipal. Apesar do avanço em concessões, o desafio permanece na necessidade de fiscalização efetiva e planejamento regionalizado para garantir a continuidade das melhorias.
Modernização metodológica e cartográfica
O Atlas 2025 foi produzido com ferramentas de georreferenciamento de ponta, como o QGIS 3.34.11, e bancos de dados espaciais em PostgreSQL/PostGIS. A estrutura cartográfica utiliza o sistema geográfico EPSG 5880 – SIRGAS 2000 – Brazil Polyconic, o que garante precisão na leitura espacial dos mapas.
Entre os destaques metodológicos estão a padronização dos layouts temáticos, a compatibilização de fontes públicas e privadas e a construção de mapas multimodais — que integram as redes rodoviária, ferroviária, aquaviária e aeroviária em uma mesma visualização.
Outros modais ganham espaço, mas dependem de integração
Embora o modo rodoviário continue e continuará dominante, o Atlas destaca o avanço de outros modais. No setor ferroviário, há o avanço de projetos como a Transnordestina, a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO) e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL). No aquaviário, foi implementada uma nova metodologia de gestão das hidrovias interiores, com padronização semelhante à das rodovias. Já no modo aéreo, 49 aeroportos foram concedidos desde 2018, com a adoção de um novo modelo de concessão por blocos.
A publicação reforça a necessidade de integração entre os modais — ainda incipiente no Brasil — como forma de melhorar a competitividade logística e reduzir custos com o transporte de cargas de longo curso.
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Sustentabilidade e planejamento são imperativos
Com mais de 2,7 milhões de trabalhadores formais, o setor transportador representa 5% da mão de obra com carteira assinada no país e está presente em 98,1% dos municípios brasileiros. Seu papel estratégico para a economia nacional exige ações contínuas de planejamento, investimento e modernização.
Commodities representam quase a totalidade do transporte ferroviário
Conclusão
O Atlas CNT do Transporte 2025 confirma o óbvio, que o Brasil segue dependente do modo rodoviário, cuja infraestrutura, no entanto, está defasada frente ao crescimento da frota e às exigências da economia. A ampliação de concessões, o fortalecimento de marcos regulatórios e a valorização de políticas de integração modal são caminhos apontados para superar os desafios logísticos do país. Mais do que um repositório de dados, o Atlas reafirma-se como um instrumento técnico e estratégico para guiar o futuro do transporte nacional.
Link para acesso a todos os mapas: atlas.cnt.org.br


