sexta-feira, dezembro 5, 2025

Atlas CNT 2025 revela gargalos e avanços no transporte rodoviário em meio à explosão da frota pesada

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Setor transportador cresce e se moderniza, mas infraestrutura viária federal avança a ritmo lento; concessões aumentam, mas duplicações ainda são insuficientes, como mostra o Atlas CNT 2025

A Confederação Nacional do Transporte (CNT) lançou, terça-feira (24), a terceira edição do Atlas CNT do Transporte, uma das mais abrangentes publicações técnicas sobre infraestrutura logística do Brasil. Com dados atualizados, análises por modal e recortes regionais, o Atlas apresenta um panorama detalhado da realidade do setor em um país de dimensões continentais — onde o transporte terrestre, especialmente o rodoviário, ainda desempenha papel central na circulação de mercadorias e pessoas, como em todos os países do mundo.

O Atlas 2025 é resultado de um trabalho metodológico robusto. A publicação reúne dados da própria CNT, como a Pesquisa CNT de Rodovias, e de outras fontes oficiais, organizados em mapas interativos com novos recursos gráficos, incluindo visualizações em 3D. A Frota News fez uma curadoria das principais informações para este artigo e há o link para os gráficos no final deste artigo.

Com ênfase em diagnósticos estruturais e intermodais, o Atlas também destaca a atuação sustentável do setor, por meio do programa Despoluir, além de abordar os efeitos da infraestrutura na produtividade econômica nacional.

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O Atlas vai além de um repositório de informações. É um instrumento de inteligência que mostra, de forma clara, a grandiosidade do setor transportador e como sua atuação é imprescindível para o desenvolvimento do país”, afirma Vander Costa, presidente do Sistema Transporte (CNT, SEST SENAT e ITL).

Rodovias concentram maior parte da movimentação no Brasil

No Brasil, o sistema rodoviário responde por 65% da movimentação de cargas e 95% do transporte de passageiros. Está é a média das maioria das grandes economias do mundo, não sendo novidade, e nem particularidade do Brasil. Quando o PIB de um país cresce, o transporte cresce para todos os modais, obviamente, haviando deficiências em alguns modais devido a proplemas históricos de gestão pública da infraestrutura.

A razão da predominância do transporte rodoviário terrestre continua sendo óbvia: flexibilidade, capilaridade e capacidade de atendimento porta a porta, especialmente em curtas e médias distâncias. Mas, diferentemente de outros modais, como o ferroviário e o aquaviário, o sistema rodoviário depende de infraestrutura amplamente disponível, o que revela tanto sua importância quanto sua vulnerabilidade. Além disso, o setor exportador tem grande interesse nos modais ferroviário e aquaviário para atender os importadores de commodities.

Segundo o Atlas, a malha rodoviária brasileira compreende rodovias federais, estaduais, distritais e municipais, com jurisdições e responsabilidades distintas. No caso das rodovias federais, a nomenclatura “BR” seguida de três dígitos define a orientação geográfica (radial, longitudinal, transversal, diagonal ou de ligação), conforme o Plano Nacional de Viação.

As rodovias radiais, como a BR-040, partem de Brasília para outras capitais. As longitudinais (BR-153, por exemplo) cruzam o país no eixo Norte-Sul, enquanto as transversais (como a BR-262) o fazem no sentido Leste-Oeste. Já as diagonais e rodovias de ligação conectam regiões em múltiplas direções e integram a malha nacional e internacional.

Frota pesada cresce quase 42%, mas malha federal pavimentada pouco evolui

Entre 2014 e 2023, a frota de veículos pesados no Brasil cresceu 41,8%, enquanto a extensão da malha rodoviária federal pavimentada aumentou apenas 0,3%. Isso significa um descompasso alarmante entre a demanda por infraestrutura e a capacidade instalada do país, gerando gargalos logísticos e riscos crescentes de acidentes, especialmente em trechos não duplicados.

Atualmente, apenas 12,8% da malha federal é duplicada ou está em processo de duplicação, o que representa 8.493 quilômetros em todo o território nacional. Considerando a importância do escoamento da produção agroindustrial e o aumento da circulação de cargas pesadas, esse índice é insuficiente para atender às exigências de eficiência, segurança e competitividade logística.

Avanço nas concessões: mais 8,8 mil km transferidos à iniciativa privada desde 2018

Uma das principais evoluções desde a última edição do Atlas, lançada em 2018, foi a ampliação da malha concedida à iniciativa privada. Nesse período, foram concedidos mais 8.834 quilômetros de rodovias, um crescimento de 45,5% em relação ao volume anterior. As concessões, além de transferirem à iniciativa privada a responsabilidade por operação, manutenção e investimentos, também preveem metas de desempenho, como duplicações, melhorias de segurança e atendimento ao usuário.

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) é o órgão regulador das concessões federais, enquanto agências como a Artesp (SP) e a Agepar (PR) desempenham função equivalente em níveis estadual e municipal. Apesar do avanço em concessões, o desafio permanece na necessidade de fiscalização efetiva e planejamento regionalizado para garantir a continuidade das melhorias.

Modernização metodológica e cartográfica

O Atlas 2025 foi produzido com ferramentas de georreferenciamento de ponta, como o QGIS 3.34.11, e bancos de dados espaciais em PostgreSQL/PostGIS. A estrutura cartográfica utiliza o sistema geográfico EPSG 5880 – SIRGAS 2000 – Brazil Polyconic, o que garante precisão na leitura espacial dos mapas.

Entre os destaques metodológicos estão a padronização dos layouts temáticos, a compatibilização de fontes públicas e privadas e a construção de mapas multimodais — que integram as redes rodoviária, ferroviária, aquaviária e aeroviária em uma mesma visualização.

Outros modais ganham espaço, mas dependem de integração

Embora o modo rodoviário continue e continuará dominante, o Atlas destaca o avanço de outros modais. No setor ferroviário, há o avanço de projetos como a Transnordestina, a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO) e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL). No aquaviário, foi implementada uma nova metodologia de gestão das hidrovias interiores, com padronização semelhante à das rodovias. Já no modo aéreo, 49 aeroportos foram concedidos desde 2018, com a adoção de um novo modelo de concessão por blocos.

A publicação reforça a necessidade de integração entre os modais — ainda incipiente no Brasil — como forma de melhorar a competitividade logística e reduzir custos com o transporte de cargas de longo curso.

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Sustentabilidade e planejamento são imperativos

Com mais de 2,7 milhões de trabalhadores formais, o setor transportador representa 5% da mão de obra com carteira assinada no país e está presente em 98,1% dos municípios brasileiros. Seu papel estratégico para a economia nacional exige ações contínuas de planejamento, investimento e modernização.

Commodities representam quase a totalidade do transporte ferroviário 

Conclusão

O Atlas CNT do Transporte 2025 confirma o óbvio, que o Brasil segue dependente do modo rodoviário, cuja infraestrutura, no entanto, está defasada frente ao crescimento da frota e às exigências da economia. A ampliação de concessões, o fortalecimento de marcos regulatórios e a valorização de políticas de integração modal são caminhos apontados para superar os desafios logísticos do país. Mais do que um repositório de dados, o Atlas reafirma-se como um instrumento técnico e estratégico para guiar o futuro do transporte nacional.

Link para acesso a todos os mapas: atlas.cnt.org.br

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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