Em seu tradicional encontro com a imprensa, a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) apresentou o balanço das atividades de 2025, detalhou a revisão de seu planejamento estratégico e lançou novos estudos técnicos sobre tendências do setor automotivo e de transportes. O evento reforçou o papel da entidade como um hub neutro de discussão técnica, reunindo indústria, academia e governo em torno dos desafios da descarbonização, da inovação tecnológica e da evolução regulatória.
A abertura foi conduzida pelo presidente da AEA, Marcus Vinícius Aguiar, executivo da Renault, que destacou a natureza plural da associação. “A AEA hoje é um fórum neutro, que agrega todo o elo da cadeia automotiva”, afirmou. Segundo ele, a atuação da entidade está estruturada em pilares que incluem descarbonização, sustentabilidade e matriz energética; tecnologias veiculares e segurança; e manufatura avançada, com foco em soluções aplicáveis ao transporte de cargas e passageiros.
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Na sequência, o vice-presidente da AEA, Everton Lopes, da Mahle, apresentou os avanços do planejamento estratégico desenvolvido ao longo de 2025 com apoio de consultorias como KPMG e BCG. “A AEA tem se tornado cada vez mais um hub de engenharia no Brasil. A discussão agora é como nós mantemos esse sucesso continuado”, disse. Entre as missões estratégicas, ele destacou a ampliação do quadro de associados, a liderança técnica em descarbonização e a criação de um Observatório de Tendências.
Segundo Lopes, o Brasil tem potencial para assumir protagonismo nos estudos de emissões. “Nós estamos construindo do zero a análise do ciclo de vida do veículo, desde a matéria-prima até a reciclagem”, afirmou. No campo do valor intangível, o executivo ressaltou a importância de fortalecer comunicação, governança e parcerias, além de aproximar universidades e indústria. “É importante estar presente nas universidades, demonstrando que o engenheiro pode desenvolver sua carreira e tecnologias aqui”, completou.
O lançamento dos estudos técnicos ficou a cargo do diretor de Tendências Tecnológicas da AEA, Murilo Ortolan, executivo da Horse. As análises abordam inteligência artificial, conectividade, componentes embarcados e o cenário de emissões de veículos leves. Ao analisar a evolução das emissões no transporte, Ortolan destacou que políticas de eficiência energética já trouxeram resultados. “De 2012 até a atualidade, temos uma frota que cresce 50%, mas com emissões de CO₂ estáveis, graças a programas como o Inovar-Auto”, contextualizou.
Apesar dos avanços, o diretor alertou para os próximos passos. “Temos que fazer uma inflexão para baixo rumo à neutralidade”, afirmou, ressaltando o papel da matriz elétrica renovável brasileira e do programa Mover, que incorpora a avaliação poço-à-roda e incentiva biocombustíveis e eletrificação. “Para veículos leves, a rota no Brasil é combinar motores mais eficientes, eletrificação e biocombustíveis. Para pesados, a transição será mais diversa”, explicou, citando diesel mais eficiente, eletrificação urbana e, no longo prazo, hidrogênio verde.
Ortolan também destacou a rápida evolução tecnológica no setor, com a transição para o conceito de veículo definido por software. “Nos veículos de entrada, já vemos conectividade e assistentes. Em modelos acima de R$ 200 mil, surgem níveis iniciais de autonomia”, afirmou. Segundo ele, a inteligência artificial já impacta tanto o desenvolvimento dos veículos quanto os processos industriais e de segurança.
No encerramento, Aguiar reforçou os desafios regulatórios do próximo ciclo. “Temos que trabalhar na evolução da regulamentação para o próximo quinquênio, após 2028”, afirmou. Ele alertou para a necessidade de equilíbrio entre inovação e preservação da indústria nacional. “O grande desafio é fazer nosso flex fuel conviver com hibridização e BEVs, para não perdermos nossa cadeia automotiva e não virarmos meros importadores”, concluiu.


