sábado, dezembro 6, 2025

Brasil terá mais de 11 mil ônibus elétricos até 2030, projeta Aliança ZEBRA

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A transição energética do transporte público urbano no Brasil começa a ganhar tração. Em 2024, o governo federal anunciou a destinação de recursos do Novo PAC para financiar a aquisição de 2.296 ônibus elétricos em diversas cidades do país, marcando um novo capítulo na agenda de descarbonização da mobilidade. Esse volume já representa mais do que o total de ônibus elétricos em operaçãos atualmente em território nacional.

São Paulo lidera esse movimento, com metas ambiciosas: a capital pretende substituir mais de 8 mil ônibus movidos a diesel por modelos elétricos até 2030. Outras cidades, como Salvador, Curitiba, Niterói, Campinas, São José dos Campos, Goiânia e Rio de Janeiro, também já deram passos concretos rumo à eletrificação, embora enfrentam desafios distintos de infraestrutura, financiamento e planejamento.

A rede internacional C40 Cities, que conecta mais de 100 grandes cidades comprometidas com ações climáticas, tem atuado diretamente nesse processo. A organização, que reúne prefeitos e especialistas em políticas públicas sustentáveis, apoia tecnicamente os municípios na estruturação de projetos e na troca de experiências para acelerar a transição para veículos de emissão zero. No Brasil, a C40 participa da Aliança ZEBRA (Zero Emission Bus Rapid-deployment Accelerator), iniciativa criada em parceria com o ICCT (Conselho Internacional de Transporte Limpo).

Para entender o panorama atual da eletrificação da frota de ônibus no Brasil, os gargalos enfrentados e os aprendizados de São Paulo que podem ser aplicados em outras cidades, a Frota News conversou com Thomas Maltese, executivo da C40 Cities para a América Latina. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Frota News — Qual é o papel da C40 Cities na questão da mobilidade urbana e da eletrificação das frotas?

Ônibus elétrico
Thomas Maltese, executivo da C40 Cities

Thomas Maltese — A C40 é uma rede de prefeitos que, com nosso apoio, enfrentam a urgência da crise climática. Já temos 20 anos de atuação e, há mais de uma década, trabalhamos com cidades latino-americanas no processo de descarbonização do transporte, especialmente dos ônibus. Em 2019, lançamos a Aliança ZEBRA, em parceria com o ICCT, focada no apoio técnico para fomentar políticas públicas de transporte limpo, com destaque para São Paulo.

Quantas cidades brasileiras já aderiram à eletrificação dos ônibus?
Hoje temos mais de 25 cidades no Brasil com ônibus elétricos em circulação. E esse número tende a crescer bastante nos próximos anos.

É possível projetar quantos ônibus elétricos estarão em operação até 2030?
Temos um estudo com projeções. São Paulo, por exemplo, tem a meta de adquirir mais de 8 mil ônibus elétricos até 2030. Outras cidades, como São José dos Campos, Campinas, Curitiba, Rio de Janeiro, Niterói, Salvador e Goiânia somam mais de 3 mil. A primeira fase do Novo PAC já contempla o financiamento de 2.296 ônibus elétricos em todo o país.

Ônibus elétrico
O total de ônibus elétricos a bateria e o número de unidades em operação por marca

O modelo de financiamento de São Paulo, com dois terços pagos pela prefeitura e um terço pelo operador, é replicável em outras cidades?
O modelo paulista é eficaz, mas não necessariamente replicável em todas as cidades. Cada município tem uma estrutura contratual diferente com seus operadores e distintas capacidades de acesso a recursos públicos. São Paulo tem mais facilidade para alavancar recursos junto a BNDES, Caixa e outros.

São Paulo enfrenta um gargalo na infraestrutura de energia. Qual é a real capacidade de abastecimento hoje?
Não temos uma “bola de cristal” sobre isso, mas o que podemos afirmar é que São Paulo já tem a terceira maior frota de ônibus elétricos da América Latina, e continua crescendo. Apesar dos gargalos, a cidade manda um sinal claro para o mercado. Outras cidades podem ter experiências diferentes — e até mais simples — pela menor escala de frota.

A indústria está preparada para atender à crescente demanda por ônibus elétricos?
Sim. O gargalo hoje pode estar em atender várias demandas simultâneas, de muitas cidades, com diferentes cronogramas. Mas a indústria sabe dessa demanda há anos e tem se preparado. Há investimento em produção, e devemos chegar a 7 ou 9 fabricantes atuando no mercado nacional, inclusive com importados.

ônibus elétricos
“Antes discutíamos se deveríamos eletrificar as frotas. Agora a pergunta é apenas “como?”

E quanto ao financiamento? Ainda é um entrave?
Hoje, o financiamento é menos problemático do que no passado. A participação do governo federal, com recursos do Novo PAC, mostra que há uma aposta real. Além disso, há capital privado disponível, desde que os projetos estejam bem estruturados.

A capacidade das cidades em obter crédito pode limitar o avanço da eletrificação?
Essa é uma preocupação válida. Mas vale lembrar que nem sempre é a prefeitura que assume o financiamento — em muitos casos, o operador é quem acessa o crédito. São Paulo tem mais facilidade, mas outras cidades precisam trabalhar suas estruturas e projetos para se tornarem elegíveis.

O que cidades como Salvador e Belo Horizonte podem aprender com São Paulo?
O principal aprendizado é a importância do planejamento estratégico, do engajamento com os operadores e com a distribuidora de energia desde o início. São Paulo enfrenta desafios por conta da escala, mas envolveu todos os atores na estruturação dos projetos, e isso é essencial.

ônibus elétricos
O total de ônibus elétricos, incluindo trólebus, e o número por marca

Como a C40 vê o uso de biometano como parte da transição energética?
Nosso foco é em tecnologias de emissão zero. O biometano não é considerado zero emissões e, por isso, não está entre as alternativas que fomentamos. A tecnologia dos ônibus elétricos já se mostrou viável ambiental, técnica e financeiramente.

O último evento LatAm Mobility trouxe novidades para a C40?
O discurso evoluiu muito. Antes discutimos se deveríamos eletrificar as frotas. Agora a pergunta é apenas “como?”. Esse é o maior avanço: não é mais necessário convencer ninguém sobre os benefícios dos ônibus elétricos — a diferença está clara para quem já usou.

Mais dados sobre a frota de ônibus pode ser consultada no E-Bus Radar.

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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