Este artigo explora a importância do diesel na história e transição para as alternativas ao diesel como combustível do futuro para caminhões, destacando a crescente importância de veículos elétricos, biogás, biodiesel e etanol. Por Eustáquio Sirolli*
Até alguns anos atrás, o combustível disponível no mundo para caminhões e outros veículos comerciais era o energeticamente consagrado “diesel”. Apesar de ser de fonte fóssil, vem cumprindo sua missão quanto a custo, disponibilidade, capacidade energética, logística de distribuição e manuseio. Se chegamos aonde estamos, o óleo diesel, a gasolina e o querosene de aviação foram e ainda serão por muito tempo protagonistas em termos energéticos. Aqui vale a pena dizer um “MUITO OBRIGADO” por existirem.
Inovadoramente, novos combustíveis ou fontes de energia surgiram e estão ocupando seus espaços e relevâncias. Aliás, veículos a baterias vêm sendo amplamente produzidos e comercializados, com a China sendo protagonista nessa tecnologia. Em carros, ônibus e caminhões “last mile”, urbanos de distribuição e coleta, tem sido o foco de uso. Para entender essa ação da China, gostaria de compartilhar situações vividas em contato com esse país e alguns chineses. A saber, na China, estive nos anos 2000, 2011 e 2019. A situação do céu era tal que não se via; só havia uma densa poluição branca e crítica. Outro tema para reforçar essa criticidade ambiental era uma pergunta básica que fazia aos colegas de lá que vinham ao Brasil.
— Pergunta direta: o que mais o impressionou no Brasil?
— Resposta direta: “blue sky” (céu azul)!!!
Aí temos a razão da China focar no uso de combustíveis sem ou com baixo teor de carbono. Atualmente, já se veem espaços de céu azul localmente, e os incentivos para carros elétricos forçam a aquisição desses produtos.
Entendo que, no âmbito urbano, os caminhões elétricos devem achar seu espaço e clientes. Caminhões do segmento de média distância podem ter o biogás como um combustível factível nessa aplicação, porém a logística de distribuição do combustível é inexistente. Aqui tem espaço para um biodiesel que pode ser adicionado ao diesel de origem fóssil e permitir uma transição energética sem impacto relevante no custo do transporte dos produtos.
Caminhões de longa distância também poderiam se beneficiar do biodiesel, como os caminhões de média distância, atendendo à autonomia requerida, logística de distribuição e compatibilidade com o combustível já em uso.
O Brasil tem outro combustível espalhado por mais de 40.000 postos, o etanol, herança do Proálcool. Esse combustível oferece uma vantagem competitiva ao país, pois, além de ser usado como combustível em motores a explosão, poderá ser uma fonte geradora de H₂ (hidrogênio) por meio de um processo chamado “reforma a vapor”, desenvolvido no Brasil pela Hytron, cuja unidade pioneira está sendo construída na USP/RCGI.
Entendo que a fonte energética do futuro será o hidrogênio, usado na combustão ou gerando energia elétrica através das células a combustível que irão acionar um motor elétrico. Essa tecnologia de células a combustível ainda requer uma disponibilidade a preço competitivo do hidrogênio verde, produzido por meio de energias de fontes renováveis. Além disso, toda uma infraestrutura logística e de abastecimento terá que ser criada, bem como caminhões, ônibus e carros preparados para esse energético terão que existir no mercado.
Finalizando, creio que estaremos num futuro próximo com uma situação em que uma matriz espacial deve ajudar a selecionar o combustível:
— Olhar o local e operação;
— Olhar o combustível que existe nesse local e rota;
— Custo operacional do veículo que seja competitivo.
Portanto, as empresas sempre usarão o diesel como referência, mas devem ponderar e analisar outras fontes de energia, pois estarão focadas em oportunidades de redução de custos e mitigação do impacto ambiental.
*Eustáquio Sirolli é engenheiro, com de mais de 47 anos de atuação na indústria automobilística. São 39 anos na Mercedes-Benz do Brasil, onde chegou ao cargo de gerente de Marketing do Produto e depois de Treinamento. Além disso, foram oito anos como diretor de Engenharia da Foton caminhões. Graduado em Engenharia de Produção e Automobilística pela FEI, fez MBA em Automotive Business pela FGV e mestrado em Ciência dos Materiais pelo IPEN/USP. Atualmente, está focando no estudo sobre hidrogênio em aplicações veiculares.
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