Em um setor conhecido pelas bruscas oscilações, oito fabricantes de caminhões continuam firmes no mercado brasileiro há mais de duas décadas. São marcas que testemunharam períodos de recordes históricos e fases de retração profunda de vendas — um verdadeiro “mercado montanha-russa”, como definem muitos executivos do setor.
Para entender essa trajetória, a reportagem analisou os dados oficiais de licenciamentos do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), compilados no Anuário da Indústria Automobilística Brasileira, da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). O levantamento revela quais foram os melhores e piores anos de cada fabricante nos últimos 25 anos e como está o desempenho em 2025, até setembro.
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Desempenho das fabricantes de caminhões no Brasil (1999–2025)
| Marca | Melhor ano (unidades emplacadas) | Pior ano (unidades emplacadas) | 2025 (jan–set) |
| Volkswagen | 2011 (50.830) | 1999 (9.573) | 22.300 |
| Mercedes-Benz | 2011 (42.587) | 2017 (14.670) | 20.293 |
| Volvo | 2022 (24.093) | 1999 (3.226) | 14.732 |
| Scania | 2013 (19.698) | 2016 (4.245) | 10.090 |
| Iveco | 2011 (14.241) | 2017 (1.965) | 6.202 |
| DAF | 2024 (9.624) | 2013 (29) | 5.803 |
| Hyundai | 2015 (893) | 2007 / 2012 / 2022 (1) | 15 |
| Agrale | 2011 (842) | 2020 (18) | 85 |
Anos de ouro e tempos difíceis
Os números mostram que 2011 foi o ano de maior euforia para as marcas full liner (produz caminhões para todos os segmentos) antes da desaceleração provocada por crises econômicas e mudanças tecnológicas, que foi a entrada em vigor do Proconve P7 (Euro 5). Naquele período, Volkswagen e Mercedes-Benz ultrapassaram a marca de 40 mil unidades cada, sustentadas pelo agronegócio aquecido e pela expansão do transporte de cargas.
Já os anos de 2015 a 2017 marcaram o fundo do poço para a maioria das fabricantes, reflexo direto da recessão nacional e da queda no consumo. Marcas como Iveco e Mercedes-Benz viram suas vendas despencarem a níveis históricos, enquanto Scania também registrou seu pior desempenho em 2016.
A recuperação começou a se consolidar a partir de 2020, ainda que com oscilações provocadas pela pandemia e pelos custos logísticos elevados. Volvo se destacou nesse novo ciclo: alcançou seu melhor resultado em 2022, ano em que o transporte rodoviário foi impulsionado pela retomada da economia e pelas exportações agrícolas. De cada 10 caminhões Volvo FH vendidos, seis são para empresas ligados ao agronegócio.
Novos players e o peso da tradição
Entre as marcas mais recentes, DAF aparece como o caso de maior evolução. De apenas 29 unidades emplacadas em 2013 (com as vendas iniciadas já no final desse ano), seu ano de estreia, saltou para 9.624 caminhões vendidos em 2024, consolidando-se no segmento pesado. Já a Hyundai, que atua em nichos muito específicos, mantém presença discreta, com volumes residuais.
A Agrale, por sua vez, segue fiel ao público de aplicações urbanas e severas, mantendo produção nacional e presença constante, ainda que com volumes modestos.
2025: estabilidade e expectativas
De janeiro a setembro de 2025, o mercado mantém um ritmo moderado, mas estável. Volkswagen e Mercedes-Benz continuam liderando o ranking, enquanto Volvo e Scania seguem fortes entre os pesados. A DAF mantém o fôlego do ano anterior e a Iveco busca consolidar seu crescimento.
Mesmo com o avanço de novas tecnologias — como propulsões elétricas e híbridas, sistemas de conectividade e foco em eficiência energética — o mercado brasileiro de caminhões ainda depende fortemente dos ciclos econômicos e do agronegócio, fatores que continuarão ditando o ritmo dos próximos anos.
Conclusão
Ao olhar para esse histórico de 25 anos, fica claro que a resiliência é o motor que mantém as montadoras ativas no Brasil. Entre recordes e quedas bruscas, o setor de caminhões reflete o próprio comportamento da economia nacional: quando o país cresce, as estradas se enchem; quando o país freia, o transporte desacelera.


