Aprendi com meus pais que a vida não precisa ser complicada para ser bonita. As vezes, precisamos de uma boa empanada. Eles me ensinaram, sem discursos, que a verdadeira sofisticação está em saber desfrutar o simples: o café passado no filtro de pano, a toalha de mesa que já viu décadas de almoços, a conversa demorada na varanda enquanto o mundo lá fora corre para lugar nenhum.
Hoje percebo que essa simplicidade é, na verdade, uma forma rara de inteligência — aquela que não se mede por diplomas nem por metros quadrados. Ironia da vida: muitos gastam uma fortuna tentando comprar a sensação que meus pais cultivavam de graça. Mas, como tudo que é essencial, não está à venda. Talvez seja justamente isso que leva tanta gente a buscar sentido em coisas que jamais poderão preenchê-los.
Nos falta arrumar a mesa mesmo em um dia comum, conversar olhando nos olhos, cuidar de uma planta, consertar o que está quebrado em vez de trocar. Sair num domingo para viver uma experiência nova ou revisitar uma velha conhecida. Sorrir da tristeza. Compreender, no silêncio, o que para muitos pareceria complexo demais para o vazio que carregam.
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Usar uma louça herdada de mamãe e pensar: “Que bom gosto há nesta peça… e quantas histórias ela guarda.”
Pequenos atos que, somados, constroem memórias e sustentam afetos.
Interessante que, em uma cidade tão vasta quanto São Paulo, os cardápios são extensos — recheados de repetições e mais do mesmo. Pedi então à atendente Natália o menu, pois queria beliscar algo enquanto bebia e fumava meu charuto. Ela me disse que o forte da casa era a coquetelaria — impecável, de fato — mas que também havia uma curadoria de empanadas. Não eram muitas opções, mas algo além: uma proposta irresistível de sabor.
O lugar é o Gaspar, na Praça Dom Gaspar, onde rolam curadorias musicais nos finais de semana que, sem dúvidas, nos aproximam mais da verdadeira São Paulo.

Peculiarmente, ontem descobri a melhor empanada da cidade. Na busca por satisfazer um desejo, encontrei algo ainda mais raro: sabor para a alma. E talvez seja justamente essa a diferença entre viver e apenas passar pela vida — alguns colecionam experiências, outros apenas contas para pagar.


