A vasta região amazônica é central para o debate global sobre a criação de um clima estável e a manutenção da biodiversidade. Mas não podemos lidar com a sustentabilidade na Amazônia se não enfrentarmos as realidades rurais e urbanas da região de pobreza, violência e necessidade de desenvolvimento econômico. Essa é a mensagem de Eduardo Brondizio, professor antropólogo brasileiro da Universidade de Indiana, em Bloomington, EUA, e ganhador do Prêmio Volvo de Meio Ambiente em 2023.
Há mais de 30 anos, a pesquisa de Eduardo Brondizio documentou e analisou o desenvolvimento e os desafios ambientais da Amazônia. Ele examinou questões de uso da terra, desmatamento, mudanças climáticas e produção de alimentos — e como elas impactam as populações indígenas, rurais e urbanas.
As populações na Amazônia
Que a região amazônica consiste principalmente de florestas tropicais intocadas com pequenos grupos de povos indígenas é um mito. A maioria das pessoas sabe que a maior floresta tropical do mundo está na Amazônia, mas as cidades raramente estão no centro das atenções globais. Quase 80% dos trinta milhões de habitantes da bacia amazônica brasileira vivem em cidades, que são frequentemente muito pobres.
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“Infelizmente, os problemas da Amazônia urbana são em grande parte invisíveis, mas precisam ser destacados se quisermos enfrentar os desafios de sustentabilidade da região”, diz Eduardo Brondizio.
Os seres humanos têm impactado a natureza lá há séculos, como durante o enorme boom econômico da produção de borracha no século XIX. As culturas essenciais na economia agrícola global, como o cacau, a mandioca e o amendoim, também se originam da domesticação das culturas da floresta tropical.
“A Amazônia faz parte da história global da economia e do comércio de recursos há mais de 400 anos, e essa história ainda está lá”, diz Eduardo Brondizio.
Estudos do passado para planejar o futuro
“Quando falamos sobre a Amazônia hoje, tendemos a pensar nas últimas décadas, quando os problemas de desmatamento surgiram. Mas a Amazônia tem uma história profunda onde os povos da região desenvolveram sistemas de produção intensivos com a floresta sem destruí-la.”
Um desses sistemas hoje é a produção de Açaí, um fruto popular de uma palmeira, muito procurado não só no Brasil, mas exportado para todo o mundo. O açaí é muitas vezes produzido localmente em comunidades ao longo do rio Amazonas através de sistemas agroflorestais, que cultivam muitas culturas no mesmo local.
Não é uma panaceia, mas oferece um caminho a seguir para a Amazônia, acredita Eduardo Brondizio.
“A agrossilvicultura em pequena escala é bastante produtiva”, diz ele. Ele está convencido de que o futuro da Amazônia depende da criação do uso sustentável da floresta. Contudo, os fundos provenientes do cultivo precisam de beneficiar mais a população local; caso contrário, os problemas continuarão a crescer.
Hoje, nos mais altos níveis, discutem-se investimentos em segurança climática e biodiversidade, e a região amazônica desempenha um papel fundamental.
“Mas para que tenha sucesso, as condições sociais devem melhorar e precisamos de ver como as pessoas que vivem aqui podem encontrar os melhores requisitos para caminhos de desenvolvimento mais sustentáveis e inclusivos”, afirma Eduardo Brondizio.
O júri do Prêmio Ambiental Volvo afirma na sua motivação:
“Eduardo Brondizio é um líder mundial em pensamento sistêmico complexo, que está inserido em uma abordagem etnográfica. Ele fez extensas contribuições para o desenvolvimento de políticas através do envolvimento com a Avaliação Ecossistêmica do Milênio e a Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES).
Desde a primeira atribuição, há 34 anos, o Prêmio Ambiental Volvo tornou-se um dos prêmios ambientais mais respeitados do mundo científico. A cerimônia de premiação e um seminário transmitirão ao vivo o prêmio em Gotemburgo, na Suécia, no dia 22 de novembro.
Para obter mais informações sobre o laureado de 2023, o prêmio e como participar do seminário online e, por fim, da cerimônia de premiação, acesse www.environment-prize.com.