quinta-feira, dezembro 26, 2024

Iveco vai completar 50 anos com uma das histórias mais interessantes da indústria

A fábrica argentina da Iveco completa 55 anos e marca Iveco vai celebrar 50 anos.  Pesquisar e contar história de empresas nos trazem muitos insights interessantes. Em 2017, eu escrevi a história mundial e local das principais marcas de caminhões presentes no Brasil. De todas as histórias que escrevi, a sobre a Iveco foi a mais interessante. Agora, com este gancho dos 55 anos da fábrica de Córdoba é uma oportunidade de unir esse fato com a história da origem da marca, uma fusão de cinco marcas europeus.

A Iveco Veículos Industriais Corporation nasceu no dia 1º de janeiro de 1975 a partir da fusão de cinco marcas de diferentes nacionalidades e culturas: Fiat Veículos Comerciais (de Turim, Itália), Om (Brescia, Itália), Lancia Veículos Especiais (Bolzano, Itália), Unic (Trappes, França) e Magirus-Deutz (Ulm, Alemanha). 

O mais curioso da fusão foi a gestão de culturas tão diferentes, cada uma com o seu próprio idioma. Qual seria o idioma padrão da Iveco? Muitos podem imaginar o italiano, mas não. Foi escolhido o inglês por ser um idioma neutro e mais fácil de prender. Um batalhão de professores de inglês foram contratos para ensinar os executivos e outro batalhão de tradutores para unificar toda a documentação em inglês.  

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Fábrica de Córdoba nasceu antes da Iveco

Portanto, a fábrica da Argentina, fundada em 1969, é anterior a formação da Iveco. Foi como Fiat. “Esses 55 anos são uma prova de que a capacidade de adaptação e inovação fazem parte do DNA da marca desde seus primórdios. Mais do que uma celebração, este aniversário nos impulsiona a olhar para o futuro com responsabilidade e ambição e, principalmente, a continuar trabalhando com foco em nossos clientes. A Argentina é fundamental em nossa estratégia regional, e estamos decididos a seguir desenvolvendo soluções de transporte superiores. Queremos liderar a transição para uma mobilidade cada vez mais limpa e eficiente”, afirma Marcio Querichelli, presidente da Iveco para a América Latina. 

A formação do nome Iveco 

O nome Iveco vem das letras (I) Industrial (ve) Vehicle (co) Corporation. A soma da experiência de todas essas marcas é superior a 150 anos. Já no início de sua existência, a Iveco contava com um portfólio de 200 modelos base e 600 versões, considerando veículos leves de 3,5 toneladas de PBT até pesados. Nesse início também, a empresa começou a sua expansão internacional, entrando nos mercados de Estados Unidos, norte da África — inclusive com joint venture com a Libyam Trucks (na Líbia) e Nacional Manufacturers (na Nigéria) —, Oriente Médio e União Soviética. 

O primeiro projeto nascido após a união das cinco marcas foi o da linha de comerciais leves Daily. Lançado em 1978, foi considerado o primeiro originalmente Iveco que já nasceu com quatro modelos básicos e sete versões, com um total de 40 combinações. Nos primeiros cincos anos, a logomarca que identificava os veículos era a letra “I”. No início da década 1980 ela foi substituída pela logomarca “Iveco”. 

50 anos
Fábrica de Córdoba, do Guarani em Sete Lagos e modelos históricos

Primeiro motor turbo 

Além da fabricação de caminhões (Iveco e Astra), a Iveco criou outras divisões: motores diesel (FPT Industrial), ônibus (Iveco Bus e Heuliez), veículos de combate a incêndio (a Magirus foi vendida recentemente) e veículos militares (IDV). 

 Da divisão de motores nasceu o primeiro motor turbo diesel para veículos comerciais em 1980, o TurboDaily. Em 1984 nasce a linha para modelos pesados, a TurboStar. Apenas um ano depois, a engenharia da empresa criou o primeiro motor diesel superleve com injeção direta e, em 1989, o primeiro motor diesel com EGR (sistema para a redução das emissões de poluentes), tecnologia que só veio a fazer parte dos caminhões brasileiros após a introdução da legislação ambiental Proconve P7, em 2012. 

A partir de 1985, a Iveco continua a fazer acordos com outras marcas para desembarcar em outros países. Na própria Itália se juntou com a Astra (hoje pertencente ao grupo e especializada em caminhões para construção e mineração). Nessa mesma década a Astra passa a pertencer ao grupo Iveco. A conquista da Inglaterra foi por meio de um acordo com a Ford, quando, em 1986, nasceu a Iveco Ford Truck Ltda. O Cargo era um caminhão produzido pela Iveco que, após a joint venture, virou Ford Cargo. 

Já na década 1990, a Iveco faz uma reformulação da forma de construir caminhões e cria a gama Euro: Eurocargo, Eurotech, Trakker e Eurostar. A família Daily já havia sido reformulada em 1989, com novo design e novas tecnologias, sendo o primeiro em sua categoria com motor turbo diesel com injeção direta e dispositivo EGR. 

Truck of the Year

O resultado da renovação da linha não passou despercebido pelo mercado, que contemplou o Eurocargo, em 1992, e o Eurotech, em 1993, com o mais prestigiado prêmio “Truck of the Year”, concedido pela primeira vez para um mesmo fabricante durante dois anos consecutivos. Posteriormente, a Iveco voltou a ganhar o mesmo reconhecimento, em 2013 para o Stralis e em 2000 e 2015 com a variante “International Van of the Year” para, respectivamente, o Daily City Truck e o New Daily. 

A partir de 1990, a Iveco parte para novas aquisições e alianças. Em setembro de 1990, a empresa adquire 60% do controle da Enasa, que desde 1947 produz os caminhões Pegaso. Assim, depois de Itália, França, Alemanha e Inglaterra, a Espanha passa a ser o quinto mercado doméstico da Iveco. 

Um ano depois, adquire, na Inglaterra, a Seddon Atkinson, especializada em veículos especiais para construção civil e coleta de resíduos. Também em 1991, no dia 17 de agosto, é inaugurada a primeira linha de montagem do Daily, nas instalações da Nanjing Motor Corporation, na China. Essa parceria, em 1995, vira uma joint venture com a criação da Naveco, além de outras Join venture no mercado chinês. A entrada na Austrália foi em 1992 com a compra do principal fabricante de caminhões de lá. 

Primeiro motor com common-rail

A segunda metade da década 1990 foi muito importante para a área de motores, com o lançamento do Cursor 8 (em 1998) e Cursor 10 (1998), este sendo o primeiro motor diesel com turbina de geometria variável e com common-rail para veículos. A tecnologia common-rail, posteriormente, foi vendida para a Bosch. Já no novo milênio, toda a gama de produtos Iveco passa por outra renovação e a empresa toma a forma que mantém até os dias atuais, com uma nova atualização em 2007 e outra em 2012, com o lançamento do Iveco Stralis Hi-Way. A família Stralis já existia desde o início desse milênio. 

Depois, o grupo Fiat foi dividido em dois grandes grupos: Fiat Chrysler Automobiles, com todas as empresas ligadas à área de veículos de passeio) e a CNH Industrial, com todas as empresas ligada à área de veículos comerciais (tratores, máquinas agrícolas, motores diesel de aplicação comercial, caminhões, vans, furgões e ônibus). As marcas do Grupo Iveco, então, ficam: Iveco (caminhões e ônibus), Iveco Bus (ônibus), Iveco Veículos de Defesa, Astra (caminhões de construção e mineração) e Magirus (veículos de combate a incêndio), tudo sob o chapéu da CNH Industrial. 

Iveco América Latina 

A história da fabricante italiana na América Latina começou na Argentina, praticamente com a mesma idade europeia. A empresa possui unidades industriais em Córdoba (Argentina), Sete Lagoas (Brasil) e na Venezuela. 

No Brasil, a empresa começou suas atividades em 1997 com o lançamento da pedra fundamental no terreno onde foi construído o complexo industrial em Sete Lagoas (MG), com inauguração ocorrida em novembro de 2000. Das marcas que chegaram ao país de duas décadas para cá, é a Iveco que tem realizado os maiores investimentos em infraestrutura de fábrica e produtos. 

Em junho de 2008, a empresa inaugurou o seu centro de desenvolvimento de produto, em 2010 um moderno centro de distribuição de peças em Sorocaba (SP), em 2013 uma unidade industrial da Iveco Veículos de Defesa, em Sete Lagoas (MG). 

A sua linha de caminhões é uma das mais completas do mercado, a partir de 3,5 toneladas de PBT até os pesados das famílias Stralis e Trakker, sendo, no Brasil, comparável à fabricantes também com linhas completas como Mercedes-Benz e Volkswagen Caminhões.  

Na cidade de Turim, norte da Itália, e local de nascimento da Fiat, foi criada uma vila na qual os visitantes podem conhecer tudo que a divisão de veículos comerciais produz pelas marcas Iveco, New Holland e FPT. Há pouco tempo Fiat Industrial, depois CNH Industrial, o local tem um espaço reservado para alguns modelos antigos da coleção do grupo. Com exceção da imagem do blindado Guarani, todas as fotos que estão nesta reportagem foram feitas pelo jornalista Marcos Villela nesse espaço, que também funciona com uma concessionária para venda e assistência técnica. 

O spin-off da Iveco e CNH Industrial  

O processo que se iniciou em 2021 e foi finalizado em janeiro de 2022. Em dezembro de 2021, os acionistas da CNH Industrial aprovaram a proposta de separação da Iveco Group. Em janeiro de 2022, a separação foi oficializada, com a Iveco Group tornando-se uma empresa independente e listada na bolsa de valores. 

O que significa esse spin-off? 

Basicamente, a CNH Industrial, que antes abrangia tanto a área agrícola (Case IH e New Holland) quanto a de veículos comerciais (Iveco), decidiu se separar em duas empresas distintas: 

CNH: Focada em equipamentos agrícolas e de construção. 

Iveco Group: Concentrada em veículos comerciais, como caminhões e ônibus. 

Por que esse spin-off aconteceu? 

A principal razão para essa separação foi a crença de que cada uma dessas áreas de negócio teria um melhor desempenho como empresas independentes. Ao se concentrarem em seus respectivos mercados, ambas as empresas poderiam alocar recursos de forma mais eficiente, desenvolver estratégias mais específicas e, consequentemente, gerar maior valor para seus acionistas. 

Hoje, o Iveco Group conta com produtos muito mais modernos e conectados, com as linhas S-Way, Tector e Daily, entre outros, estando muito mais competitiva em segmento que todos os concorrentes são tecnologicamente avançados.  

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Marcos Villela Hochreiter
Marcos Villela Hochreiterhttps://www.frotanews.com.br
Atuo como jornalista no setor da mobilidade desde 1989 em diversas redações. Também nas áreas de comunicação da Fiat e da TV Globo, e depois como editor da revista Transporte Mundial por 22 anos, e diretor de redação de núcleo da Motor Press Brasil. Desde 2018, represento o Brasil no grupo do International Truck of the Year (IToY), associação de jornalistas de transporte rodoviário de 34 países. Desde 2021, também atuo como colaborador na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte, entidade educacional sem fins lucrativos). Em 2023, fundei a plataforma de notícias de transporte e logística Frota News, com objetivo de focar nos temas que desafiam as soluções para gestão de frotas.
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